Com 32 mortes e 1.595 casos somente neste mês, Covid instala o caos em Campo Mourão

Hospitais lotados, falta de vagas, escassez de medicamentos, iminente risco de desabastecimento de oxigênio, pacientes morrendo a toda hora, e novos casos que não param de surgir. Este é o cenário da pandemia do coronavírus (Covid-19) em Campo Mourão. A cidade teve somente neste mês, até esse domingo (23), 32 vidas perdidas pelo vírus. Até o dia 30 de abril eram 168 mortos. Mas agora já são 200.

Os casos de infectados também aumentaram significativamente: de 7.807 em abril para 9.402 até esse domingo. Ou seja, 1.595 novos casos em 23 dias. Atualmente Campo Mourão tem 1.460 casos ativos da doença e 241 suspeitos. Há no município 38 pacientes internados em enfermarias Covid, que estão com 147% de taxa de ocupação e 45 em leitos de UTI (150%). Ou seja, o sistema de saúde está em colapso. Afogado. Não tem mais para onde correr. Muito menos para onde enviar pacientes infectados que venham necessitar de internamento. 

O médico da Unidade Pronto Atendimento (UPA), Vinicius Costa,  informou que a unidade, que é a porta de entrada de pacientes com coronavírus no município, chegou à sua capacidade máxima. “Durante todo este período relutamos muito. Nos esforçamos ao máximo, mas chegamos ao caos”, avaliou. Ele disse que na última semana uma média diária de 400 pacientes foram atendidos no local, sendo que 100 ficaram em observação e medicados. Além disso, foram 70 exames coletados diariamente. Atualmente, entre 25 a 28 pacientes estão internados na UPA. Destes, 12 estão em alto fluxo de oxigênio. Ao menos 5 precisam de leito de UTI. Um já se encontra intubado por lá mesmo. 

“Não para de chegar pacientes. Estamos em três médicos atendendo e não damos conta. A população tem que assumir a sua responsabilidade na pandemia neste momento. A equipe médica está exausta. Nas duas últimas semanas tivemos dois médicos contaminados. Os médicos estão com medo, não querem trabalhar no setor covid, equipes de enfermagem desgastadas. Infelizmente este é nosso cenário”, relatou Costa.

Outra preocupação que ronda a UPA e preocupa toda equipe médica é a iminente escassez de oxigênio. “Isso é muito preocupante porque a maioria dos pacientes que estão lá precisam do oxigênio como parte da terapia proposta. Nunca imaginei que poderia passar por isso”, afirmou. O médico ressaltou que neste momento todas as medidas adotadas pelo município serão de total importância.

Santa Casa

Na Santa Casa, o diretor clínico Renato Gibim, falou que a situação é calamitosa. Hoje o hospital tem 35 pessoas intubadas. E não há capacidade para aceite de mais pacientes neste serviço. Ao total, as equipes do hospital estão cuidando de 67 pessoas internadas entre enfermaria e UTI. “A situação é complicada porque não estamos mais conseguindo encontrar sedativos para compra. Ontem (sábado) recebemos 1,5 mil ampolas de midazolam, o que dá para um dia e meio no máximo. A situação é muito tensa neste momento”, afirmou. 

Segundo ele, o Samu continua encaminhando pacientes ao hospital, mas não há mais ventiladores nem equipes para dar conta da situação. Ou seja, a Santa Casa chegou ao seu limite. “Está o caos. Precisamos da ajuda de todos com os cuidados para que não peguem esta doença”, pediu o médico. 

A preocupação, segundo Gibim, é que está aumentando muito a quantidade de pessoas contaminadas com covid. “Infelizmente não conseguimos mais ajudar neste momento”, falou, ao comentar que já falta até medicação e quando são encontrados, os remédios estão a valores muito altos. A ampola do sedativo midazolam que era vendida a R$ 20,00, por exemplo, não sai hoje por menos de R$ 280,00, informou Gibim. 

Center Clínicas

No Hospital Center Clínicas, que tem ala covid com 5 leitos de UTI e 5 de enfermaria, a situação também é de lotação. A médica intensivista Maria Fernanda Nunes alerta que vai morrer muita gente ainda se não houver uma mudança de comportamento da sociedade. “Não há mais onde colocar pacientes. Não tem oxigênio, não tem remédios, não tem médicos, não tem enfermeiros, não têm macas. Não tem milagre. Depois que pega a covid tem que rezar para que tudo dê certo. Não está fácil para ninguém”, desabafou. 

Para o secretário de Saúde de Campo Mourão, Sérgio Henrique dos Santos, a semana que passou foi a mais grave desde o início da pandemia. “Na UPA o risco da falta de oxigênio era iminente a toda hora. Foi um verdadeiro Deus nos acuda”, resumiu.

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