Os heróis são de carne e osso

A vida já não é mais a mesma. Possivelmente, depois que a pandemia do Covid-19 passar, os tempos sejam outros. Ainda é cedo para diagnósticos. Mas enquanto bilhões de pessoas permanecem em casa, em todo o planeta, no Brasil, uma parcela está nas ruas. E não estão porque desejam. São pessoas fundamentais para que a comida, segurança e, principalmente, a saúde da população se mantenham. São como super heróis. Mas de carne e osso. Suscetíveis e vulneráveis ao inimigo invisível: o vírus. 

Fábio Teruel Davanço, é motorista de caminhão em Campo Mourão. Ele tem 37 anos e, nos últimos quatro, não saiu da estrada. Dirige um bi trem. Esta semana levará insumos até Cianorte. Na maioria das vezes leva soja, milho e farelo. A classe dos caminhoneiros não pode parar. Se parar, brasileiros ficam sem alimentos. “Não paramos por conta do abastecimento nacional. E por nossas famílias também. Para que não falte nada em casa”, disse. 

Até duas semanas, a vida estava normal aos motoristas. Mas hoje, tornou-se um caos. Fábio lembra que não existem mais restaurantes abertos nos trechos onde anda. O jeito é fazer a comida. “Temos a caixa de bóia. Levamos a comida e fazemos no próprio caminhão”, explicou. Mas não é só isso. Ele diz que a classe está vulnerável ao contágio. Segundo ele, falta assistência e prevenção pelas estradas brasileiras. “Não encontro ninguém que nos ofereça álcool gel”, afirma. O jeito é cada um por si. “Cada um de nós carrega o gel e máscaras. Além disso temos que ter muita higiene. É importante”, disse. 

Fábio diz que está preocupado. Mas tem fé e acredita que tudo irá passar. “É um vírus novo. Uma doença preocupante. Mas com a graça de Deus, o esforço de todos e a sabedoria de nossos médicos, vamos achar a cura pra esse mal”, diz. Fábio é casado e tem uma filha de dois anos. Toda vez que viaja, a saudade aperta o seu coração. Hoje, parece que a saudade é maior. E quando chega em casa, tudo o que ele deseja, é não ter trazido junto o vírus. 

Medicina

Nascido e criado em Campo Mourão, o médico vascular Moacir Porciúncula, 45, atua em São Paulo, capital. Está lá há 22 anos. Hoje, no Hospital São Luiz, Rede Dor. E para ele, quarentena não existe. Ontem, fez uma cirurgia com quatro horas de duração. Sua profissão está na linha de frente do Covid-19. Mas ele não tem medo de ser contaminado. Afinal, são ossos do ofício. “Tenho alguns amigos que já foram contaminados. Um professor meu também está entubado”, disse.

Para prevenir usa tudo o que se pode usar. Gorro, máscara N95, óculos, avental, luvas e propes – proteção usada nos pés. Mas agora, a situação chegou ao limite. Com a doença avançando em grande escala em São Paulo, ele está buscando isolar-se da própria família. Esta semana deve alugar um apartamento, ou ir a um hotel. Moacir tem dois filhos pequenos. A mais nova com um ano. Ele sabe que é de carne e osso. Está vulnerável. Mas é daqueles profissionais de saúde dispostos a bater no peito. Pronto a lutar contra o inimigo.

Bruno Shimizu é cirurgião geral e coloproctologista em Campo Mourão. Aos 33 anos, ele faz plantões no pronto atendimento da Santa Casa e no Hospital da Unimed. Mas não descarta, em breve, avançar na batalha na UTI Covid-19. “Acredito que teremos que fazer plantões lá. Minha previsão é que piore logo o número de casos na cidade”, diz. Segundo ele, acredita que todos os que cuidarem diretamente dos infectados devam pegar a doença. Consequentemente, novos profissionais terão que assumir o lugar dos médicos e enfermeiros contaminados. 

Na sua visão, trata-se de uma nova doença. E ainda estão aprendendo com ela. Não tem tratamento definido. Bruno é um ser humano. De carne e osso. E por isso teme o novo vírus. “Temos medo de morrer sim. E de passar para alguém que apresente comorbidades”, disse. Mas na guerra contra a pandemia, salvar a sua espécie é fundamental. E é por esta razão que o médico irá ao “front”.    

Segurança

Para garantir a segurança da sociedade, policiais militares continuam de prontidão. E não é difícil encontrar uma viatura nas ruas. Dentro dos carros, policiais buscam proteger-se. Usam máscaras, luvas e, sempre, buscam lavar as mãos. No caso deles, o contato físico com infratores é inevitável. Por isso a necessidade de proteção. “Mais do que nunca os policiais sabem de sua importância para todos neste momento”, destacou o soldado Bortoleto. Afinal de contas, enquanto todos estão em casa, o vírus e a bandidagem continuam nas ruas. A luta agora é contra um invisível. E outro, muitas vezes, armado.  

A Polícia Militar também é uma força auxiliar que está prestando apoio aos órgãos de saúde. Hoje, policiais, bombeiros e profissionais de saúde, mesmo com receio, continuam a exercer suas funções com toda dedicação possível. São serviços essenciais. Ainda mais num momento de extrema vulnerabilidade de toda população. Por sua vez, as pessoas passaram a assistir viaturas dos bombeiros nas ruas pedindo que moradores fiquem em casa. É a guerra sem fim contra um inimigo que não se pode ver. 

Enfermagem

Graziela Clementina Galvani Vieira é enfermeira há 19 anos. Em Campo Mourão, ainda não casou e nem possui filhos. Mas desde sua formação, sabia que tempestades iriam chegar. Afinal, faz parte da profissão. E um dos lemas da enfermagem é, porque não, a solidariedade. “Estamos todos juntos nessa pandemia”, diz. Embora determinada, sabe que não possui super poderes. E sim. Tem medo do vírus. Mas não por ela. Mas pelos pais e pela família. São idosos. No seu dia a dia procura manter-se protegida com todos os EPIs necessários. 

Ela tem certeza que a pandemia irá passar. Outras já vieram e foram embora. “Vai deixar sequelas e perdas. Mas tenho certeza que provocará também mudanças nas relações humanas. Para o bem”, disse. Graziela explica que sua profissão é o maior contingente, hoje, no enfrentamento do corona vírus. E atua em todas as etapas da assistência, 24 horas ao dia. “Não medimos esforços diante de toda a demanda”.