Em novo livro, historiador vai mostrar que havia corrupção no regime militar

O historiador mourãoense Jair Elias dos Santos Junior, em parceria com o jornalista de Curitiba André Martins, pretende lançar ainda este ano um novo livro, que está em fase final de produção. A partir de dados pesquisados em documentos recentemente liberados pelo Sistema Nacional de Informações (SNI), ele quer mostrar que diferente do que muitos afirmam, havia corrupção no regime militar.

A principal fundamentação para sustentar essa afirmação foi o conturbado mandato de Haroldo Leon Peres como governador do Paraná, em 1971, que durou pouco mais de 8 meses. Ele tomou posse no dia 15 de março e renunciou em 22 de novembro do mesmo ano. Apesar de curto, segundo o historiador, o governo foi marcado por muitas brigas políticas e o fator preponderante para a queda foram negociações que envolveram corrupção.

“Estamos há 10 anos pesquisando sobre o assunto. Foi preciso montar um verdadeiro quebra-cabeça para encaixar as informações  publicadas e não publicadas para se ter uma compreensão geral do que aconteceu”, explica Jair Elias. Arquivos liberados pelo SNI sobre esse processo ajudou a complementar o trabalho.

“Como Leon Peres foi nomeado pela ditadura, ele achava que o governo poderia fazer tudo. Brigou com os deputados, com o Tribunal de Contas, com o Tribunal de Justiça, com a imprensa, que boa parte era ligada ao Paulo Pimentel e criou um clima terrível no Estado”, relata o historiador. Além da invasão dos estúdios da TV Iguaçu, outros fatos mostram a difícil relação que o governador teve com a imprensa. Os jornais, rádios e canais de televisão de Curitiba receberam ordens de censura, por meio de bilhetes, proibindo matérias contra o governo.

O historiador explica que teve acesso aos dossiês elaborados pelo SNI, que investigava o governador, o irmão dele e colaboradores desde outubro de 1971, quando um dos maiores empreiteiros do Brasil, Cecílio do Rego Almeida, montou uma arapuca que capturou o governador, que foi forçado a deixar o governo em novembro. “O caso mereceu uma ampla reportagem da Revista Veja, que foi apreendida logo depois. Também vamos revelar os bastidores de como a Veja fez a reportagem, com verdades e contradições. E como uma corrupção motivou outras”, resume. 

Segundo o historiador, as brigas do governo com as forças políticas e empresariais do Estado causaram desgaste com a presidência da República, na época comandada por Garrastazu Médici. “Nas gravações dele com o irmão, Leon Peres assume que estava interessado na propina”, reforça Jair Elias.

As provas de corrupção, segundo ele, serão publicadas no livro. “Tem cópia do cheque que o CR Almeida deu a ele. Os próprios relatórios de um general cita que era comum o oferecimento de propina a empresas”, sustenta o historiador. Ele acrescenta um outro caso, em outro governo, de um general que tinha uma função importante no Estado e comprava telas (quadros) para o governador dar de presente. 

“O que não havia era informação, mas a corrupção existia. Havia ordens de Brasília para não publicar nada sobre o caso”, enfatiza. O historiador relata que o jornalista da Veja, na época, trocou um apartamento em Brasília pelo furo de reportagem. “Conseguimos cópia da carta do editor da revista pedindo desculpas aos militares  por ter publicado a matéria”, completa.