José Carlos segue o próprio caminho
Era quase meio dia quando José pedia uma ajuda em um restaurante. Estava com fome. Com vocabulário confuso, recebeu atenção. Dizia que preferia pedir, a roubar. Mas, se não recebesse a marmita, iria embora. Sem maiores problemas. Sentado em uma das cadeiras, quis contar a sua história. Ele estava sujo. Tinha as mãos com marcas de terra. Mesmo assim, foi ouvido. E, no resumo real, é mais uma vítima do mal do crack.
José Carlos dos Santos está com 40 anos. Nasceu em Janiópolis. Segundo ele, foi adotado ainda recém nascido. No novo lar, diz que jamais conheceu os pais biológicos. Embora, de verdade, não precisasse. “Sempre amei meus pais adotivos. Me criaram”, disse. O pai morreu já, há alguns anos. E, a mãe, se mudou para Santa Catarina. “Dei muito trabalho a ela. Roubava as coisas de casa para trocar pela droga. Então, um dia, ela foi embora. Eu fiquei”, afirmou. Numa das vezes, trocou os botijões de gás da mãe, por crack.
Sem ter um teto, “Bruxo”, como é conhecido, já passou muitas noites na rua. Dormia sob marquises. E tinha o céu, como uma espécie de cobertor. Hoje, segundo ele, dorme na casa de amigos. Conta que começou a trabalhar ainda criança. Era bóia fria. Colhia algodão. Mas, com o tempo, adentrou ao mundo sombrio das drogas. “Ainda aos 14 eu já bebia e usava drogas”, disse. José estudou somente até a oitava série. Sabe ler e escrever.
Mais tarde, depois que o pai morreu, decidiu viver por conta própria. “O mundo desmoronou pra mim”, disse. Então passava o maior tempo na praça São José, centro de Campo Mourão. Iniciou os furtos e acabou em cana. Entre idas e vindas da delegacia, conheceu um tal “Índio”, também morador de rua. “Foi ele que me ensinou a pedir. Dizia: não roube. Peça”, lembra. “Eu era um ladrão de galinhas. Furtava coisas do quintal dos outros. Mas hoje, eu parei com isso”.
Conversador, José diz que gostaria de voltar a atuar como músico. Já foi vocalista de uma banda, conta ele. Mas, do jeito que as coisas estão, não sabe se conseguirá. Perguntado se gostaria de obter ajuda para deixar o vício, disse não. “Sem dinheiro não posso comprar a droga. Então, já estou quase parando”. E, do jeito que chegou, apanhou o presente, agradeceu e foi embora. Cada um escolhe o caminho a ser percorrido.