Maicon teve que se jogar na sarjeta. Mas por um bom motivo

Campo Mourão, domingo, 16h. Maicon dos Santos Oliveira, sai do trabalho com sua bicicleta azul. Como garçom, nunca foi um bom meteorologista. Deixou o carro na garagem, apostando num dia de céu azul. Foi de magrela, pra economizar gasolina. Mas deu tudo errado. Choveu. E muito. No entanto, não foi a chuva o maior obstáculo. Mas sim, o que aconteceu em seguida. 

Maicon deixou o restaurante, no centro da cidade, já sob a chuva. O objetivo era chegar em casa, no Jardim Vitória. Então, desceu a ladeira, pela rua São José. Mas antes de chegar a perimetral Tancredo Neves, um fato inacreditável aconteceu. “Se me contassem, eu também não acreditaria”, disse ele. 

Já, completamente enxarcado pela chuva, a aliança – por algum motivo -, saiu do dedo. No momento, ele sentiu e a viu cair no asfalto. Mas, como estava correndo, ela também passou a correr. E mais do que ele. Rolando sem parar, ela poderia ter ancorado em qualquer lugar. Mas, por obra da Lei de Murphy, optou em seguir e cair em uma boca de lobo. Pronto, a casa havia caído. O que falar à companheira?

E foi pensando na mulher – na verdade, medo dela -, que travou uma guerra contra o bueiro. Sem ainda acreditar no que acontecia, parou a magrela e se pôs a olhar pelas frestas da sarjeta. Lá no fundo, a encontrou. Conseguia ver o reflexo do ouro. Apanhou um arbusto e tentou prendê-la. Mas, com a correnteza que vinha do centro, correndo pelo meio fio, a coisa só piorava. “Ei deitei no asfalto e coloquei meu braço inteiro no bueiro. Com o outro, tentava desviar a água. O volume ia levar a aliança embora”, disse. 

O seu desespero que, até então era silencioso e solitário, foi solidariamente presenciado por um morador. Vendo Maicon estirado entre a água suja, galhos e sujeira, que corriam contra ele, o homem decidiu ajudar. Pegou um guarda chuvas e uma enxada e agiu. Primeiro tentou retirar a tampa. Mas não conseguiu. A seguir, alcançou outro graveto, mais comprido, para que Maicon puxasse o anel. 

Mas, num descuido, a água voltou a cair sobre a aliança. “Ali, pensei que ela já era. Afundou mais entre a galhada e a sujeira. Não a vi mais. Já estava desistindo”, disse. Mas o morador solidário fez a diferença. Instigou Maicon a continuar a busca. Ao mesmo tempo, também ajudou a desviar a água que continuava a descer. “Ele não deixou que eu desistisse”, revelou.  

Após 25 minutos de uma intensa batalha, Maicon conseguiu, mais uma vez, ver o reflexo da aliança. Com os gritos de incentivo do morador, a prendeu e, com muita persistência, a enganchou no graveto, trazendo-a a superfície. Pronto. A casa não ia mais cair. “Nunca fiquei tão aliviado na vida. Se chegasse em casa sem ela, acredito que ia apanhar”, disse. 

Aos 30 anos, Maicon ficou com um dos ombros ralados. Ele também chegou a engolir parte da água corrente, principalmente, por ter ficado com o rosto colado à sarjeta. “Eu estava literalmente jogado na sarjeta. Senti gosto de barro, de galhos, do asfalto”, brincou ele. Mas, no final, tudo deu certo. Segundo ele, a partir de agora, olhar a previsão do tempo, passa ser tarefa de casa.