O dia que por pouco (ou muito?) quase apanhei
A borboleta conta momentos e não meses, e tem tempo de sobra
Rabindrath
Com o passar do tempo, tempo que inteiramente jamais passa na medida que a vida se constitui relicário de reminiscências, os modos de sentir, pensar e agir na nossa existência se modificam conforme as nossas experiências. As mesmas lembranças, inalteradas no tempo, o sentido delas é que pode se modificar quando amadurecemos, fazendo com que o nosso olhar espelhe os anos vividos e as perspectivas vindouras. Recordo um aniversário meu, creio que estivesse completando quatorze ou quinze anos. Estava no escritório de meu pai Eloy, ela preenchia meticulosamente na máquina de escrever os minúsculos espaços do formulário do imposto de renda de um dos clientes dele. Meu pai, embora fosse paranaense de Mallet, tinha o hábito diário de tomar chimarrão, punha nele folhas e ervas medicinais e sorvia tranquilamente. Eu por ali, também tomava o que ele gentilmente oferecia. Ao terminar era a minha vez de encher a cuia e oferecer para ele. Coloquei água fervente ao máximo e posteriormente e estiquei o braço, passando por cima da máquina de escrever e… derramei bem em cima daquele formulário que o seu Eloy há tempos preeenchia. Todo o trabalho se perdeu! Eu, sem ter o que fazer e naquela altura esperando puxões de orelha e cascudos, sobretudo dada a expressão do meu pai ao observar não existir jeito algum, eu ainda pude olhar rapidamente o olhar da minha mãe, quando na verdade os olhares de todos nós se cruzaram. O pai fala: Olha só o que você fez! Não presta mais atenção?! Olhares se entreolham, do meu pai, da minha mãe Elza, o meu naquele momento tão baixo ultrapassando o chão, quando seu Eloy completa, mudando o timbre da voz e o próprio olhar para dizer, agora já calmo: você só não vai apanhar, meu filho, porque hoje é o seu aniversário. Respirei aliviado, olhando para ele, para os olhos dele e para os da minha mãe. Os dela pesaram na decisão dele. Anos depois, agora, ao chegar aos 49 anos completos nesse dia 20, a lembrança imorredoura dos meus pais, saudosos sempre, por não ter apanhado naquele dia foi, mesmo por causa de meu aniversário. Naquele momento como em todas as datas sempre recebi deles o amor próprio dos pais, com generosidade, carinho, afeto. Tantas foram as lições que recebi, muitas das quais somente o tempo e as experiências me fizerem compreender o que eles sabiamente ensinaram. Hoje, se fosse servir o chimarrão, tomaria mais cuidado e, afinal, não é todo dia que faço aniversário.
Fases de Fazer Frases
Esse tempo… A chave do baú emperra mas abre. Não tem nada lá dentro. O baú é o grande valor, sempre pronto para dele tirar qualquer coisa e nele colocar o que for muito bom.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
A propaganda do governo federal atualmente veiculada na televisão sobre a educação brasileira, informa dos incentivos em termos de bolsa de estudo, conclamando jovens em favor da educação e profissionalização. Porém tem um erro lamentável – já aqui mencionado mas em referência a outros fatos – que se torna maior por se tratar de educação. Em determinado momento é dito que os jovens já podem e devem fazer planos para o futuro. Não é preciso explicar novamente, mas cabe indagar, existiriam planos para o passado?
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
‘Tapa-Buracos’ atinge 90% da cidade, diz prefeitura, foi a manchete desta Tribuna, última sexta. O poder público local resolveu o problema, e agora tendo o apoio do governo estadual. O prefeito mourãoense Nelson Tureck declarou anteriormente que não seria prefeito para tapar buraco, mas sim para gerar empregos. Chegou a afirmar que o asfalto era de péssima qualidade, de outras administrações. Mas ter deixado quase oito anos para começar a manutenção foi mesmo errado. Se os buracos no asfalto estão tapados, entretanto os buracos que deveria o prefeito se preocupar são as ações na justiça, a última delas na área criminal, aceita pelo Tribunal estadual, acolhendo unanimemente a iniciativa do Ministério Público.
Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
A prefeitura deve estar voltada para dar explicações sobre o aditivo do transporte escolar e sobre não ter aberta concorrência pública para o transporte coletivo público da cidade. Se os buracos existem, foram abertos ou serão fechados, eis a questão. E, neste sentido, o Conselho Municipal do Trânsito não realizou a reunião prevista por causa da falta dos conselheiros em número para deliberar, no caso o aumento do preço das passagens. E não seria o caso de analisarem e se posicionarem sobre a concessão dos serviços públicos? E, com esta prosa indagativa, a chegar em outro endereço: o que tem a dizer a Câmara de Vereadores de C. Mourão?
Olhos, Vistos do Cotidiano (IV)
Elas se intitulam fãs deste escrevinhador, registro com imensa satisfação Angela Caroline Braghin, 18 anos e Alexandra Ferreira de Oliveira, 32, que são irmãs. Sem deixar de ler a Tribuna, também não perdem o que por aqui é publicado. Angela é empresária, proprietária da Panificadora Café Colonial e estudante, e Alexandra é copeira no CENSE – Centro Socioeducação de Campo Mourão. De Araruna o ex-aluno Gilberto Bazzi sempre mantém contato, leitor assíduo desta Coluna. A todos a gratidão pelo carinho.
Reminiscências em Preto e Branco
Descobrimento coisa nenhuma! O dia 22 de abril de 1500 é sim uma data histórica, quando aqui oficialmente apareceram pela primeira vez os portugueses. Porém, os índios, verdadeiras donos mas expropriados deste lugar, já estavam há pelo menos dez mil anos! E, por estarem nus e felizes (não em razão somente da nudez) também não pode se dizer descoberta, uma vez os corpos estarem ao natural. O dia dito do descobrimento é de fato o dia do início da colonização lusitana, ou seja, o dia que o Brasil se tornou colônia, começo da exploração vil.