Millôr, o frasista irônico

Ele foi um grande intelectual, livre pensador, é um grande exemplo para o Brasil, 

tinha posições sempre claras, sempre corajosas. Eu acho que, pelo fato de ser

rotulado como humorista, talvez muita gente não tenha prestado

atenção a esse outro lado dele.

Luís Fernando Veríssimo – escritor

            Retiro da minha estante o livro Millôr definitivo – A bíblia do caos. Nas suas 524 páginas, o pensamento dele em 5142 máximas, aliás, máximas no melhor sentido do termo. Aos 88 anos, Millôr Fernandes morreu após uma complicada enfermidade que principiou com um AVC. Jornalista, escritor, desenhista, dramaturgo, tradutor e humorista, tinha uma notável e criativa intelectualidade, marcada pela independência e por uma lucidez crítica e contundente. 

             Acompanhando a enorme repercussão da morte dele, lembrei as inúmeras vezes em que tive que recorrer ao dicionário para conhecer o significado de palavras que o Millôr punha nos seus textos, incluindo as participações dele nos outros meios de comunicação como a revista Veja. Aqui neste espaço foram inúmeras as vezes que transcrever as suas célebres frases, e continuarei citando-o. Aliás, em referência aos meios de comunicação, sobretudo como jornalista e humorista, Millôr foi quem batizou o Jornal Pasquim, tão odiado pela ditadura militar que acabou sendo fechado por fazer pesadas críticas ao regime e pelos constantes recordes de vendas. 

            Para homenageá-lo, o melhor é transcrever alguns dos seus célebres aforismos, os que anotei ao longo de muitas leituras, bem como do livro Millôr definitivo. 

            Abreviação – Palavra comprida para coisa curta. 

            Abstinência – Não beber é o vício dos abstinentes.

            A suprema ambição é não tê-la.

            Os banqueiros não perdem por esperar. Ganham.

            Animal – Acho que se os animais falassem não seria conosco que iam bater papo.

            Ateísmo – É uma espécie de religião em que ninguém acredita.

            Autobiografia – Estou escrevendo minha autobiografia. Mas ainda não decidi se vou morrer no fim.

            Político é um sujeito que convence todo mundo a fazer uma coisa da qual ele não tem a menor convicção.

            Brasil, país do faturo.

            Brasil, país do futuro, sempre.

            Carioca – Eu sou carioca de algema.

            Quando você chega de madrugada em casa e sua mulher nem reclama é porque já é tarde demais.

            A cobra é um rabo autossuficiente.

            Coerente é o sujeito que nunca teve outra ideia.

            Pobre é muito mais barato!

            Ética política é o ato de jamais passar alguém pra trás sem antes consultar os companheiros de partido.

            O eufemismo é cheio de rodeios.

            Tenho certas dúvidas, nenhuma delas certa.

            A Justiça é igual pra todos. Aí já começa a injustiça.

            Política é a mais antiga das profissões.

            A pontualidade é uma longa solidão.

            A riqueza não traz felicidade. A pobreza muito menos.

            Deus fez o homem. O homem aí construiu uma Igreja e aprisionou Deus.

            Quem sofre de insônia não ronca.

            A xerox não tem nada de original.

            Volta e meia tem alguém que não volta.

            Chama-se de herói o caro que não teve tempo de fugir.

            Toda lei é boa desde que seja usada legalmente.

            Todo homem nasce original e morre plágio.

            Um rato não pode ser juiz na partilha de um queijo.

Fases de Fazer Frases            

            Não fico a escrever, mas paro para ler.

Olhos, Vistos do  Cotidiano (I) 

            Dando vez a estupides. Assim pode ser definida a anunciada mudança da preferencial quanto especialmente aos canteiros centrais da avenida Capital Índio Bandeira. Ou seja, a preferência dos veículos é de quem está na avenida, obrigando quem circula ao redor do canteiro a aguardar. E é canteiro, e não rotatória, quando sim se estabelece a preferencial quem estiver nela. 

            Em vez de educar os motoristas e demais condutores de outros veículos, faz-se um arranjo. É preciso educar os motoristas? Todos quando obtêm ou renovam a Carteira Nacional de habilitação precisam demonstrar um mínimo de conhecimento. No caso ainda, a sinalização existe, é uma questão de respeitá-la.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)

 

            Ainda sobre trânsito. Se o motorista se recusar a assoprar o bafômetro e mesmo que tenha testemunhas, nada disso valerá como prova para a embriaguez ao volante. Fica assim a lei sem eficácia, desde que não atropelem nenhum ministro do STF – Supremo Tribunal Federal.

Reminiscências em Preto e Branco

                Olhar para o passado não é a questão. O que é preciso perceber são os momentos certos de abrir ou de fechar os olhos.