Chico Anysio, humor maior

Vou morrer no Projac, depois de um diretor dizer: ‘corta, valeu, Chico’. Eu direi: 

‘Que bom que valeu’ e morro em seguida. Será bonito’

Chico Anysio

 

            Aos 80 anos, tendo nascido em 12 de abril de 1931, cearense de Maranguape, Chico Anysio morreu na última sexta-feira. Não tenho medo de morrer. Tenho pena, declarou certa ocasião. Antes dos problemas respiratórios que o levaram a longas internações e o desfecho derradeiro da morte, Chico estava forçadamente aposentado. Ele tinha um contrato com a Rede Globo que, embora dispusesse do humorista, o deixava na maioria absoluta das vezes sem atividade, algumas participações ele fez, inclusive novelas. Enquanto isso, uma série de textos e projetos de programas a emissora tinha em mãos, sequer a TV lhe respondia.

            Chico reunia dois aspectos de indiscutível genialidade, criador e intérprete. Humorista criador de mais de duas centenas de personagens, era intérprete singular. Eram tão bem construídas as encenações que parecia tratar-se de um personagem com vida própria tamanha (e tinham todos eles vida própria, data de nascimento, costumes, enfim histórico de vida) que dava a nítido impressão que não seria mesmo o Chico a interpretá-los.  

            Chico retratou o Brasil dos brasileiros, ricamente pobre, pobremente rico, das muitas espiritualidades e condições sociais, cada personagem se caracterizava nós mesmos, de um modo ou de outra maneira, através de uma diversidade extraordinariamente grandiosa e fantasticamente presente em Justo Veríssimo,. Painho, Pantaleão, Alberto Roberto, Popó, Roberval Teylor, Gaspar, Salomé e professor Raimundo.

            Cada personagem era muito próprio, singular, na voz, tom, dicção, trajes, região do Brasil, condição social, enredo. Chico era um homem culto, conhecia o Brasil profundamente e sabia tornar os seus tipos algo simples como é a natureza humana da nossa gente. Também tinha a crítica em bom nível, às mazelas sociais e a condição política de desgovernos, sendo porta-voz de sentimentos e aspirações legítimas por um Brasil maior e sobretudo melhor.

            A pequena Maranguape se tornou conhecida Brasil a fora graças ao seu filho ilustre que sempre se referia ao lugar de nascimento com alegria incontida, carinho abundante, síntese de um Ceará que é berço de grandes humoristas que sempre tiveram no mestre além da inspiração o encorajamento de tentarem a sorte na cidade grande, bastando mencionar dois notáveis exemplos daquele Estado, Renato Aragão, o Didi e o Tom Cavalcanti.

            Contista, cronista, ensaísta, locutor e pintor, as artes era o seu papel maior de representar, a expressar a alma brasileira. Começou na Rádio Guanabara em 1952 e, pouco tempo depois criou a Escolinha do professor Raimundo, sucesso anos mais tarde na televisão, cabendo ressaltar que em tal programa Chico se preocupava com humoristas que não tinham mais espaços para trabalhar e lá puderam voltar a sorrir e voltar a fazer rir, muitos aliás deixaram até mesmo de passar dificuldades. Chico olhou por eles, sendo fiel na amizade expressa no companheirismo dentro e fora dos palcos, na frente e por trás das câmeras.

            Não existe piada velha, pois o público se renova, sabiamente afirmou Chico, embora sempre foi um rico criador a partir do cotidiano, das improvisações, da palavra e entonação certas, para todos os públicos e gostos. Ele foi a tradição que se renovava com inteligência e leveza quando fosse preciso e sabia manter o que era a certeza do riso, da graça contagiante e vigorosa.

            Ele que deu vida aos seus memoráveis personagens, agora deixa a vida. Vida que segue viva nos personagens que não morreram e que eternamente, mais do que serem lembrados, corporificam o próprio Chico. É preciso agora o silêncio da mudez dolorida, impostergável e necessária para que possamos escutar, ver e sentir, a voz e a ação dos seus muitos quadros e personagens, para homenagear Chico dando gargalhadas do seu humor genial e marcantemente inesquecível, para sempre. Valeu, Chico.    

 

Fases de Fazer Frases (I)   

             A presa preza a pressa do pressago, a prescindir o que pressente como pressuposto.

 

Fases de Fazer Frases (II) 

            Uma pessoa quadrada é uma redondamente ignorante. Nunca a geometria foi tão dispensável.

 

Olhos, Vistos do Cotidiano (I) 

            No anúncio publicitário da nova novela global intitulada Avenida Brasil, em determinado trecho o locutor narra encarar de frente. Alguém conseguiria encarar de lado?

 

Olhos, Vistos do Cotidiano (II) 

            Sem que tivéssemos combinado, vou ao Jornal apanha um exemplar da Tribuna e, quando pensava em sair, chegavam o Nery e a Dorlly Thomé, que me convidaram para uma visita, afinal, raramente eu apareço lá, devido a falta de tempo mesmo.

            Colocamos a conversa em dia, falamos de jornalismo, questões sociais e política. Foi uma vista de pouco mais de uma hora e não precisou registro fotográfico, afinal eu sou da casa, pelos anos escrevendo (farei 24 anos) e sobretudo pela nossa amizade.

            Não sei como, alguém fica sabendo que estive por lá e achou que a visita fora previamente agendada e tinha tudo para ser secreta ou ao menos discreta (por isso que não teve fotos) e que o tema principal seria a sucessão municipal. O Nery é pré-candidato pelo DEM e eu não sou candidato a nada e nem apito nada no PPS. Falamos da política como amigos.

            As amizades sólidas estão acima de interesses e concepções religiosas, político-ideológicas ou de outra natureza. E ser adversário na política necessariamente não torna as pessoas civilizadas e sensatas inimigas pessoais.

 

Reminiscências em Preto e Branco 

            Gerações mourãoenses não tão velhas tinham entre as lembranças da infância alguma árvore do quintal ou de algum terreno, nela tendo subindo, feito cabana, colocado um balanço, colhido alguma fruta. Hoje as famílias diminuíram de tamanho, assim como os quintais. O que tem hoje desaparecido são as árvores, tombadas ou sem espaço para cultivá-las.