A-Z
O arquivo supre a falta de memória, lembrando o que desejávamos esquecer
Carlos Drummond de Andrade
Elas ocupam um enorme espaço. São pesadas. Estão cheias. Muitas! As pastas de A-Z guardam os textos originais datilografados desta Coluna. Papeis amarelados, mesmo cuidados, a poeira repousa e marca o tempo guardado.
As pastas, tais e quais, foram um dia modernas, práticas, bonitas na serena formalidade da cor preta. Elas guardam tudo o que até hoje escrevi para esta Tribuna do Interior. O tudo e o todo entre este Jornal e mim, ou, primeiramente, entre ele e o caro leitor.
Em preto e branco, minhas reminiscências (tinha uns 15 anos) levam para a minha saudosa mãe Elza. Ela me ensinou a arquivar de tal modo os papéis para que ficassem perfeitos nas pastas, e a estética era e praticidade eram essenciais. Fiquei maravilhado com o segredo que ela me revelava. Para isso mostrou o perfurador de papel, a marca que todos eles têm, tipo uma flechinha apontado para furarmos no espaço certo. Antes, fazia-se uma suave dobra que ficaria rente aquela seta, então era pressionar e o papel estava com dois furos. Arquivar seguindo a ordem de data e, claro, a alfabética, claro de novo, a pasta é de A a Z.
Marcas de um passado que o leitor daquele tempo pode bem visualizar na mente, mas que gerações de agora podem não imaginar os 27 anos passados.
Fases de Fazer Frases (I)
Não confunda: Quem formula com quem for mula.
Fases de Fazer Frases (II)
Não confunda: O visgo do olhar com o olhar do vesgo.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Poeta repleto de brilho, escreveu-me para comentar o texto da semana anterior, Tanque vazio, botijão também. Obrigado, Oswaldoir Capeloto:
Gostei do texto. Leve e solto e gostoso como o arroz que minha mãe fazia. Ah, e o gás não acabava. Mas dá-lhe cortar lenha./E olha que esse fogão (de lenha) foi o ponto de partida para:
VISITA AO ANTIGO LAR.
Na simplicidade de uma casinha de madeira
Há muito o carvão dorme num fogão a lenha.
Um velho sofá, o chuveiro, a prateleira
a imagem, em gesso, de Nossa Senhora da Penha./
Uma teia de aranha sobre o banco.
Alguns velhos livros espalhados num canto,
o radinho de pilha, o televisor em preto e branco,
a solidão, o vazio, o encanto…/
Não há mais gente, nem cachorro, nem gato
Ninguém mais há residindo nessa casa
que um dia foi feliz, teve vida e de fato/
foi família, pulsou forte, ardeu como brasa.
Porém aqui perdi meu pai, minha mãe aqui morreu,
que vazio há nessa casa, que saudade levo eu!
(…)
Que acabe a gasolina, que acabe o gás…
Mas que a inspiração seja inesgotável
e a vida… Bem… que seja vivida intensamente./
E de forma tão saborosa quanto o texto que está por vir. /Gostei do texto. Leve e solto e gostoso como o arroz que minha mãe fazia. Ah, e o gás não acabava.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Domingo anterior – Tanque vazio, botijão também, a mourãoense aposentada Aparecida Andrade manifestou a dúvida por falar bujão em vez de botijão. Está certo bujão. Linguistas consideram botijão mais correto. Não me importaria se fosse bujão. Sem ser linguista nem nada, também não poderia grafar quirela ou quirera. Uma ou outra palavra não é quimera.
Reminiscências em Preto e Branco
Sexta próxima, 10, esta Coluna fará 27 anos. O começo é 1988. O escrevinhador aqui nunca imaginou chegar tão longe, que parece tão perto! Não é como se fosse ontem, – é sim hoje!