Adelino, o padre falso e o falso padre

Para quem pratica a falsidade, a mentira esclarece o que a própria verdade só fez confundir.

Junior Gouveia – compositor

Falsidade ideológica e falsa identidade: os dois novos crimes que podem ser imputados ao padre Adelino Gonçalves, capturado dia 12 em Rondônia depois de cinco anos fugitivo, localizado e preso na cidade de Jaru. O documento de identidade era como Ivo Borba. Empregado em um posto de combustíveis, Adelino se fez passar por outra pessoa, de fato e com falsa identidade, crimes previstos no Código Penal e confundidos como se fosse um só crime.

Eis os fatos noticiados não apenas pela imprensa mourãoense e região, mas nacionalmente. Adelino, embora alegue inocência e seja erroneamente tratado como acusado e ex-padre, na realidade ele é réu, tendo sido condenado em 2011 em Cruzeiro do Oeste como mandante do duplo homicídio, de Aires Domingos e Carlos Alberto de Carvalho, perpetrados em Mariluz, 2009. Condenado a 18 anos e nove meses, conseguiu depois responder em liberdade. E, decretada nova prisão, ele fugiu.

Retorno ao tema em respeito ao caro leitor, sobretudo quem acompanhou a polêmica. Também há cinco anos, 21 de janeiro de 2011, eu escrevi pela última vez sobre o caso, afirmando enfaticamente que voltaria a abordá-lo se surgissem fatos novos. E eles surgiram com a prisão do padre fujão. Retomo o título à época, ditado popular: Deus é grande, mas o mato é maior.

Falsidade é com ele. Padre em Campo Mourão trabalhou em entidades sociais com imagem de bom pároco. Porém, Adelino cumpria sentença condenatória de prestação de serviços por molestar um menor de idade. Ou seja, ao ir a júri ele não era réu primário e exercia as funções de padre. Se tiver fé, o padre tem a má ao fugir e sem se arrepender eficazmente (se entregar).

Recuando a 2002. Aqui me manifestei contrário a Igreja Católica no Brasil ao não apurar os casos de pedofilia, abusos sexuais. Ressaltei existirem padres decentes, a crítica jamais foi generalizada. Resumindo ainda: a polêmica foi alimentada pelos padres Marinaldo, Ademar e Mauro. O primeiro com textos publicados por esta Tribuna; O segundo deles foi durante a missa na Catedral, quando me criticou almejando me desqualificar, e, como Marinaldo, Ademar correu do mérito como o diabo foge da Cruz. O então bispo desta Diocese Dom Mauro dos Santos pediu aos fiéis que orassem para o padre Adelino. Lamentei que o bispo não rogasse pelos dois assassinados, ambos de conduta ilibada incomparável a do já condenado padre Adelino.

O cenário mudou de lá para cá. Um novo papa, o Francisco, escolhido por causa da renúncia de Bento 16, que alegou idade provecta. Fez de tudo para ser papa, porém Bento nada fez para apurar escândalo algum. Papa Francisco determinou a apuração dos escândalos sexuais e do desvio de dinheiro. “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, disse o Papa com humildade.

Mesmo coincidência, cabe registrar: subterraneamente, investigaram toda a minha vida, retiraram certidões negativas (criminal e civil), vigiaram os meus passos. A pressão enorme sobretudo anônima, não me acovardou. Exerci a liberdade de expressão também motivada pela concordância ou solidariedade recebidas, mencionadas à época.

O cenário local mudou. Dom Mauro foi para Cascavel. O sonho do Ademar se tornar bispo prossegue e ele não está mais em Campo Mourão. E o Marinaldo, eu não sei onde se encontra, entre idas e vindas de Roma, se desespera em defender o colega Adelino, o pai Ivo.

Fases de Fazer Frases

Que escora a escória se iguala a corja.

Olhos, Vistos do Cotidiano

O que as pessoas pensam a meu respeito só diz respeito a elas, disse padre Fábio de Melo. Oportuna.

Reminiscências em Preto e Branco

Fazia e fora o próprio bem: Adeus Oscarina S. Carolo, saudade, 93 anos, dia 19.