Desembestar a besta

A humanidade entrará no terceiro milênio sob o império das palavras. Não é verdade que a imagem esteja a suplantá-las nem que possa extingui-las. Pelo contrário, está a potenciá-las: nunca houve no mundo tantas palavras com tanto alcance, autoridade e arbítrio como na imensa Babel da vida atual. Pa-

lavras inventadas, maltratadas ou sacralizadas pela imprensa, pelos livros descartáveis, pelos

cartazes e publicidade; faladas e cantadas pela rádio, pela televisão, pelo cinema, pelo tele-

fone, pelos alto-falantes públicos: (…) Não: o grande derrotado é o silêncio. As coisas têm

agora tantos nomes em tantas línguas que já não é fácil saber como se chamam em

nenhuma. Os idiomas dispersam-se à rédea solta, misturam-se e confundem-se,

desembestados rumo ao destino inelutável de uma língua global.
O poder das palavras –
Gabriel García Marquez

A palavra da moda é delação premiada. Quem tem acompanhado o noticiário de dois anos e atual, pôde saber o significado, embora existam os que não têm curiosidade em conhecer. Delação é revelar fatos novos que sirvam para apurar determinado crime. Premiada é a redução da pena  prevista para. A delação possibilita, de um lado, a redução da pena inicial, e, de outro, permite a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça Federal a elucidação dos crimes.

E por falar na operação da Federal, qual é o correto:

Lava-jato?; Lava à jato? Ou Lava a jato? A crase é errada. Lava-jato seria cabível o hífen para lavar jato: como é chamado a maioria dos aviões, (outro exemplo com hífen: lavalouças). A palavra jato é grande pressão, saída bem forte de líquido. Assim, o certo é: lava a jato, em se tratando da operação. A denominação é referência ao posto de combustíveis e de lavagem de carros em Brasília, onde era apanhado o dinheiro desviado. Lá teve início a investigação. Lavagem de carros a jato, mas não de jato. Outra lavagem: do dinheiro desviado.

Gabriel Garcia Marquez, escritor e jornalista colombiano, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, morto em 2014, é citado hoje no começo desta Coluna. Escreveu sobre o império das palavras, reclamando da Babel da vida atual, convicto que, o silêncio é será o derrotado. Idiomas estão desembestados rumo ao destino inelutável de uma língua global.

Desembestado, expressão castelhana, portuguesa e brasileira, é muito falada no sentido de despedir-se abruptamente; correr desabaladamente; ou partir com pressa. A origem tem a ver com arremessar o arco (a besta). E besta? É animal quadrúpede para cavalgar e no Nordeste brasileiro para cargas. O misto de mula, égua ou jumento, também a designar pessoa estúpida, ignorante.

Sabe o caro leitor, o conteúdo posto neste espaço não se trata de aulas, não tenho tal  pretensão, menos ainda suponho que ninguém já sabia o assunto de hoje. É apenas o compartilhar palavras, significados, expressões, por eu ser apaixonado pela nossa língua.

A loção das palavras fazem lembrar de um senhor  contratado pelo meu pai para trabalhar na chácara. ‘Seu’ Eloy, o senhor só precisa me dar uma ‘loção’ e já começo a trabalhar, disse o empregado. Líquido perfumado a parte, o homem não tinha noção da minha vontade de rir, contida para não ofendê-lo, assim como agiu meu pai.

Fases de Fazer Frases (I)

O auspício no hospício é auspicioso?

Fases de Fazer Frases (II)

Imagine, e tudo parecerá ser.

Fases de Fazer Frases (III)

Pesar os pesares é tomar pé da situação.

Olhos, Vistos do Cotidiano

A transmissão da semifinal do campeonato paranaense (Paraná Clube e Atlético), domingo anterior, repetiu-se o ocorrido noutras rodadas, bastou o apito final, a RPC passou a exibir jogo paulista (algumas vezes o carioca). Sequer uma entrevista. Compreensível, é grande o número de telespectadores que torcem pelos times daqueles estados, sem dar bola para o Paranaense. Apesar da vitória no jogo, nos pênaltis paranistas foram eliminados. O Atlético fará a final com o Coritiba.

Reminiscências em Preto e Branco (I)

Muda-se o retrato da parede, ela que é muda, como o retrato.

Reminiscências em Preto e Branco (II)

Cara de tacho, eu? De cara eu não tacho.

Reminiscências em Preto e Branco (III)

O tempo apaga tudo, com a luz do futuro.