Os princípios cardeais de Dom Paulo Evaristo Arns
As grandes esperanças moram em horizontes distantes e ainda desconhecidos
Dom Paulo Evaristo Arns
A ditadura dos generais implacáveis contra qualquer tentativa de existência do estado de direito compunha o cenário sombrio de um lado, e, de outro, as vozes, gritos a favor da liberdade, do retorno à democracia. Golpistas de farda em um extremo, o da violência, e noutra antagônica posição a luta pela justiça, igualdade social.
No ápice da tensão, militares de todas as forças armadas ocupavam ruas e praças para reprimir o povo, a concentração na Praça da Sé, 1975, 31 de outubro, reunia mais de oito mil pessoas, a denúncia, a repulsa e o clamor por justiça tinham um fato específico e claro, a morte do jornalista Vladimir Herzog, vítima de tortura, prisão arbitrária, o corpo dele serviu para a farsa montada para aparentar suicídio por enforcamento.
A missa do Dom Paulo Evaristo Arns foi a mais contundente contra a opressão. Convicto na sua fé e da opção pelos que clamam por justiça, Arns se posicionava firmemente. Tal episódio como tantos outros na vida o colocaria na história brasileira com a devida relevância.
A morte, 14 último aos 95 anos, oportuniza todo tributo a ele, absolutamente merecedor.
Arns teve obstáculos enfrentados como arcebispo da maior Arquidiocese do Brasil, eram barreiras colocadas pela própria igreja católica, ele avaliava: A Igreja do Brasil mostrou poucas reações seguras contra a tortura, desaparecidos e mesmo prisões arbitrárias. Religioso da pregação pelas palavras de conclamação e pelos gestos concretos. A venda de prédios majestosos de áreas nobres em São Paulo foi, com o dinheiro, destinado para edificar centros comunitários para atender pobres, miseráveis e carentes. O Palácio Episcopal vendido por 5 milhões de dólares, permitiram a verdadeira ação cristã que ele liderava.
O catarinense da pequena e graciosa Forquilhinha, Santa Catarina, tinha as quatro virtudes Cardeais, princípios que Dom Paulo tinha substancialmente: a Justiça, a Prudência, a Temperança e a Força. Jamais curvou-se, teve medo, titubou na luta, a esperança da fé eram nele a convicção do possível, tanto é que, diante do então presidente general Médici, foi a Brasília pedir pela libertação de pessoas que estavam arbitrariamente presas, sequer elas tendo direito a defesa. Saiu do Palácio aos berros quando Médici o ameaçou. O general fechou a rádio nove de julho, emissora da Igreja.
Era um progressista, cristão ativista das causas do povo, tendo sofrido outro golpe, o Vaticano que reduziu a abrangência da sua Arquidiocese. Evaristo progressista era combatido por padres e bispos, mais do que conservadores, retrógrados, bajuladores do regime ditatorial. Arns foi amigo pessoal do Papa Paulo VI, o respeito e admiração eram mútuos. No papado de João Paulo II, Evaristo foi alvo da atitude do Vaticano em cerceá-lo.
Outro exemplo cabal de ousadia, coragem e fé, é o livro Brasil Nunca Mais que ele prefaciou, Arns registrou, denunciou e relatou na obra os graves crimes de tortura do regime militar.
Homem do povo, da paz, da esperança, da luta, da dignidade, tinha respeito pelos muitos modos de pensar e agir, sejam eles religiosos ou não. Foi sempre com ardor a palavra pela liberdade e a liberdade como palavra, e ação. Mais do que fazer parte da história do Brasil, ele figura com relevo próprio e insofismável de fatos que o País lhe deve – mesmo que ele nunca tenha pensado sequer em cobrar – reconhecer, cultuar como inspiração e exemplos de generosidade, de fé.
Fases de Fazer Frases (I)
Não basta morrer o preconceito. É preciso enterrá-lo.
Fases de Fazer Frases (II)
Todo o fugaz é fuga. Mas toda a fuga não é fugaz.
Fases de Fazer Frases (III)
Ingerir e ir.
Ingerir e gerir.
Ingerir e digerir.
Ingerir e dirigir.
Gerir e agir.
De gerir e diz gerir.
Degerir e de agir.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Ora, por ora eu me pego no esquecimento…esqueço o que pego, ora (!) (?)
Reminiscências em Preto e Branco
Errara na idade: é rara a idade.