Uliana, paz que deixa

                                                     Tu tens um medo: Acabar.

                                                       Não vês que acabas todo o dia.

                                                       Que morres no amor. (…). Na dúvida. No desejo.

                                                       Que te renovas todo o dia. No amor. (…) Na tristeza. (…)

                                                       Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas.

                                                       Até teres medo de morrer. E então serás eterno.

                                                                              Cecília Meireles

            Preparou-se para levantar da cama. O sol ainda era alguns raios nas frestas da janela. O sono nem sempre a repousava inteiramente, não pela idade e sim ante os seres que amava. Generoso, o coração de puro afeto não deixou que ela saísse do quarto, da cama. O sono agora é eterno. O coração terno silencia no infinito. O descanso da incansável batalhadora veio depois do sereno invernal, mansamente e pouco antes da estação primaveril, repousa como brisa. Escolhera ou foi poupada da despedida última. O destino encenado silenciosamente. Antes que as novas flores chegassem, que ela contemplaria, elas hão de homenageá-la.

            Autenticamente brasileira, ainda assim conservava o sotaque italiano, sobretudo carregado nas palavras verbalizadas como se estivesse numa colônia da Calábria ou na Sicília, evidentemente pelos gestos largos dos braços, mãos, do olhar e voz que acolhia o mundo a partir do pitoresco. Provinda do Rio Grande do Sul, Veranópolis trouxe o sonho de edificar a família com o esposo, de saudosa memória. Foi paranaense sem deixar de ser gaúcha, como ser brasileira sendo italiana.

            A paz é a palavra que alicerçou toda a trajetória de vida. A paz que acalentava. A paz que concebia e concedia no partilhar. A paz que não era apenas ausência de conflito. Tinha ela a paz da inquietação, da consciência que não sossegava se alguém carecesse de um gesto fraternal. Independente, resoluta, altiva, a Nona era peculiar no cuidar das plantas, colher hortaliças, cozinhar, bordar e tinha seu oratório, rogava por todos.

            Nasceu em 1920, 13 de julho, Uliana Facchin Sartor nesses 97 anos sofreu perdas que deixaram marcas profundas, mas que não levaram a sucumbir. Ficou viúva e perdeu dois filhos tragicamente em acidentes automobilísticos. Tornou-se mãe de netos criados com a educação exemplar, palavras claras de discernimento, lições éticas, tudo envolto no sentimento cristão e da dignidade humana. 30 de agosto, derradeira despedida, para sempre a ser enaltecida. 

Fases de Fazer Frases

            Deixe-se de se deixar sozinho. Só não deixar-se sozinho.

Olhos, Vistos do Cotidiano

            Donos, da avenida, das árvores, donos do espaço (que seria?) público. Eles fecharam a avenida e puseram mataram árvores. Revoltante, fato registrado no Sítio Boca Santa, com imagens posterior explicação da prefeitura, segundo ela o corte não foi autorizado. Donos de mais o quê? 

Caixa Pós-tal

            A sua última Coluna me mandaram. Parece que você sabe do meu caso, finalizou a mourãoense Maria Isabel Braga, sobre a última Coluna, DEVOLVA foi compartilhada por muitos. Faço o registro, agradeço em especial à Maria e a todos os demais, ainda sem saber quem são.   

Reminiscências em Preto e Branco – AS VOCAÇÕES DE JOSÉ HAITO DOI

            Vocação é talento, capacidade nata ou adquirida. São três as vocações destacadas nele, agora reminiscências eloquentes para evocá-lo numa saudação à memória, conteúdo de valor que não se pode precisamente estimar. A vocação de ser humano franco, leal, austero nos valores como decência. Assim formou os filhos com exemplos cotidianos de caráter. Outra vocação, a profissional, medicina pautada bem mais do que o mister laboral, foi a de orientar, assistir, socorrer o paciente para cessar, amenizar dor, sofrimento. Dedicava-se a medicina como a cuidar de um pomar, cada árvore, cada fruta com zelo, sapiência cirúrgica. Deixa pomares, legado harmônico: familiares, amizades, pacientes, comunidades. E a terceira vocação era servir, cooperar fraternalmente, somando-se socialmente com empenho. Ao exercer cargos públicos, vereador e secretário municipal, fixou equilíbrio entre a saúde privada e pública, buscava a junção com a experiência de estudar, ouvir, falar, consultar e ser consultado a partir do paciente. Era enérgico, veemente com prescrição ele dirigia com vigor, e que poderia inicialmente não agradar, mas era uma atitude daquele que não conseguia – nem tentava – só atender e, o paciente virava as costas, Doi agiria igual. Paranaense de Cambará, pioneiro como médico, fundou o Hospital Anchieta de Campo Mourão, década de 60. Aos 83 anos, é, (30 de agosto) ausência e saudade eternas, sentidas.