Os calores democráticos – qual é o ambiente político para as eleições de 2018?
Os últimos anos foram tumultuados no cenário político nacional. Discussões ideológicas tomaram os almoços de domingo, as ruas, as universidades. A cisão entre direita e esquerda não se limitou apenas ao Planalto, dividindo amizades e, não raro, famílias. Diante de tantos dissabores, qual é o ambiente para as eleições em outubro?
Não devemos esperar o povo brasileiro unido em torno de um ideal comum. Anos eleitorais afloram os ânimos dos eleitores, que se vestem com as cores que defendem e não aceitam nada que não seja a vitória dos seus partidos. Não penso que devemos temer uma guerra civil, como apregoam os apocalípticos, mas os candidatos também não podem se iludir e esperar ambientes pacíficos. Os casos recentes de corrupção exposta deixaram o eleitor desconfiado. Ninguém é inocente a ponto de pensar que o PT inventou a corrupção, esse fantasma assombra a política há muito tempo – infelizmente. A diferença é que agora toda a sujeira foi exposta, e serão poucos os brasileiros que não esmiuçarão o passado dos seus candidatos antes de votar.
A arena dual parece clara: direita e esquerda. São definições rasas que se aplicam a ideias pouco concretas, onde quem se identifica a um lado enxerga o outro como o mal a ser extirpado. Esse raciocínio é falho e perigoso, afinal em política há interesses – ninguém é vilão ou herói. Mas os candidatos terão que lidar com essa lógica, é inescapável. Políticos profissionais, que já conhecem como o mecanismo funciona, alinham-se previamente a uma corrente de pensamento ou outra, valendo-se das siglas dos seus partidos para expressar sua ideologia. Esses tubarões conhecem as águas em que nadam, abocanhando eleitores como a peixes, garantindo seus votos. Mas o oceano é grande e há muito o que explorar.
É nesse meio que se inserem os personagens desgrudados do mundo politiqueiro. Homens e mulheres que não são políticos de carreira e pouco ou nunca se envolveram no meio. Surgem em momentos como o atual, com eleitores desconfiados de suas lideranças, revendo as posições ideológicas perpetuadas por tanto tempo. A parcela da população disposta a arriscar com essas caras novas, normalmente empresários de sucesso, é expressiva. Ao abandonarem a crença nas figurinhas repetidas, cansados de mandatos desastrosos em todos os poderes, buscam gestores para ditar os rumos do país. Resta saber como serão as campanhas, de que forma convencerão o eleitorado de que são a melhor opção. Penso que podemos aplicar os ensinamentos do livro Quem pensa enriquece, de Napoleon Hill, ao mundo político – e parafrasear o título do livro com quem pensa se elege. As estratégias de campanha terão que ser inovadoras, com planejamento de marketing pesado; as redes sociais, por exemplo, onde boa parte das ideias se espalha nos dias atuais, é uma ótima ferramenta na hora de conseguir votos – Barack Obama não me deixa mentir.
O grande entrave para o surgimento de caras novas é um só: é cada vez mais difícil encontrar um empresário que arrisque seu patrimônio e seu nome para entrar em um mundo cercado por tantas polêmicas. O povo brasileiro já lê política como sinônimo de mau-caratismo. Resta esperarmos pelo surgimento de homens e mulheres fortes, com índole impecável e sólida carreira em seu meio de atuação. Quem melhor para acertar os rumos do nosso país do que um candidato competente, confiante e dedicado a um ideal?
Mas e os políticos que já estão no poder e buscam a reeleição? Observamos um fenômeno comum entre eles: a troca de partidos. Presente principalmente entre os deputados, o prazo para a troca se encerra no dia 7 de março. A intenção é conseguir uma bancada maior na câmara, facilitando a votação de pautas futuras. Podemos esperar um grande mercadão nos próximos dias, com partidos oferecendo vantagens enormes aos parlamentares para que realizem a troca. Repito: os candidatos se alinharão às ideologias que mais conversam com os eleitores que pretendem atingir. A troca de partidos é uma boa estratégia para alcançar esse fim – o eleitor só precisa ficar atento para distinguir o que é um verdadeiro alinhamento ideológico de apenas um movimento marqueteiro.
O ano será um festival de caras velhas e novas disputando o poder, enquanto o povo, assistindo ao desenrolar das discussões, espera por ideias inéditas e bem fundamentadas. Não se deve pensar que as promessas batidas convencerão os eleitores críticos que os últimos anos formaram. No fim, para além das disputas e alianças internas entre partidos e candidatos, é a população que escolhe quem comandará o Brasil pelos próximos anos. E são eles, tristes com os últimos acontecimentos, muitas vezes raivosos, que precisam ser reconquistados.