Boletim, palavras.
“As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade”
Victor Hugo
Tudo é volátil, não só o vírus que assola o mundo. Já na primeira frase duas palavras que comumente não a empregamos, volátil e assola. Talvez vírus poderia entrar na lista.
Os meios de comunicação estão, no Brasil, realizando a maior cobertura sobre o corona-vírus. Nos noticiários um volume torrencial de palavras, significados, termos científicos que saltam do dicionário e linguajar técnico para alcançarem o senso comum.
O que era completamente estranho vai se tornando até mesmo familiar, pois se há a guerra da informação, existe também cada um se municiar para a batalha diária da compreensão e o agir para não sermos todos derrotados.
Acompanhamos o último boletim, já ansiosos quando se fala que ele será atualizado. Boletim, palavra muito presente na escola e nos hospitais. Gera expectativas, provoca reações antecipadas as mais diversas, que continuarão quando o boletim sair.
Será bom ou será péssimo? Eis o boletim.
Até então usado principalmente por veterinários e agrônomos, quando se trata de animais para corte ou leite, a palavra agora é usada para se referir a seres humanos nesses tempos de pandemia: confinamento para se ficar em casa, afastado um de todos os outros.
Estamos confinados e devemos estar afinados no mesmo interesse e necessidade de vencermos o vírus.
No boletim diário, de horas também, vamos nos habituando a outras palavras que pouco usávamos, ao menos no cotidiano: pandemia; epidemia; endemia.
O que não existem são palavras em relação a morte, que possam consolar, menos ainda, ressuscitar vidas. É o silêncio lúgubre e sepulcral.
Fases de Fazer Frases (I)
Uma cabra macabra.
Uma cabra má.
Uma má cabra macabra.
Uma macabra má cabra.
Fases de Fazer Frases (II)
Quando se fica sem palavras é momento de meditar.
Fases de Fazer Frases (III)
A vida é breve. Brava, também.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Campo Mourão registra a primeira morte. Os esforços devem ser redobrados, advertem as autoridade sanitárias e profissionais da saúde. Todo cuidado é pouco.
Não é hora de relaxar, ser negligente. É hora de pensar coletivamente e não individualmente.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Embora compreensível, no Brasil temos uma tendência a enfatizar, dar mais valor ao errado, a exceção. Somos por vezes mais catastróficos que as catástrofes. Por exemplo, comentários e notícias dão destaque a quem não está – e que deveria – em casa.
Seria melhor destacar as ruas vazias, comércio fechado e não os que perambulam e descumprem ordem.
Farpas e Ferpas
Vida é risco. Não há risco sem querer?
Reminiscências em Preto e Branco
Tradição de milênios, a de velar, guardar os mortos e homenageá-los nos cemitérios, acrópoles, a pandemia fecho os chamados campos santos e proibiu aglomeração. Os suspeitos ou que tiveram a causa da morte o corona-vírus são enterrados em caixões lacrados com poucas e distantes pessoas.
Praticamente, quando não, sem o último adeus. São civilizações e enfermidades a enterrar os mortos e a contar quantos e como ficam.
José Eugênio Maciel | [email protected]