Vida dita, dista
“A distância é como os ventos: apaga as velas e acende as grandes fogueiras”.
François La Rochefoucauld
É a manifestação, ser na condição de animado, é o que é a vida, definição a abranger os seres vivos biologicamente. É o tempo cronológico que vem do nascer para percorrer uma trajetória até o fim, quando da morte.
Não obstante conceituações indispensáveis, a vida não se circunscreve a natureza dela biológica, mais ainda ao se tratar de seres humanos com racionalidade capaz de termos consciência da própria existência no tempo que sabiamente construímos, assim como são enormes limitações que nos impregnam.
A devastação com a pandemia se espraia, notícias cotidianas de assolação fúnebre como a partir da semana anterior e com essa última, Até serenidade soa e é alarmista. Compaixão, sentir e ser lúgubre.
Num exaurimento que escapa ao controle de afirmar, com a escrita, a propósito de todas as perdas que se avolumam, se somam e assomam-se em produzirem um texto para cada um na sua especificidade, o preito individual.
Porém não há o como nesse derradeiro contínuo de adeus. Expressar a profunda dor da tristeza para com as vidas estioladas. A familiares dos entes amados quão é grande sentir coração dilacerado.
O destino compõe a vida, ela igualmente destino que nos arrebata, toma-nos conta, queiramos ou não.
Como o outrora afirmara um louco em sua lucidez que não negara a realidade mas a ela não se prendia, nós somos nós e as nossas circunstâncias.
Diz-se, desde o nascer morremos, vivemos menos a cada dia. Um dia morreremos mas me ponho contrário à idealização e à prática, pois, creio que a cada instante edificamos a vida, por ela mesma em razão das demais.
Viver, vivenciar, mais que ter, viver a vida é expandir-se, ser mais do que ela nos proporciona.
Vivermos em nós mesmos, ainda que sermos somos semelhantes em nossas diferenças. Viver nos sentidos com e por todos que tanto amamos.
Quando a vida nos engrandece também devido ao que somos capazes em tudo o que nos é favorável ou nas adversidades, é como a grande árvore imponente, raízes bem fincadas, diversos e fartura de frutos e galhos. Um dia a árvore tombará valentemente, a, no seu estrondo, evidenciar o gigantismo de sua humildade magistral, o brusco da irreparável perda.
A morte será a sombra eterna, invisível ao nossos planos.
Sensíveis, vulneráveis, só quem é minimamente humano para compreender, o suficiente com sentir, das lágrimas quem o tempo enxugará, e, sem explicar, são tantas e tantas as perdas coletivas e únicas.
A vida dita, do ditame dela vamos vivendo. Levados a morrer pelos que se foram, a nos confortar ou ao elevar a dor.
Vida dita distância? Ela distancia dela? Quem se afasta? Se aproxima?
A distância existe. Não é ela sempre a mesma. Nem mesma a vida. Distância de nós mesmos. Dos demais. Dita dista. Vida finda.
Dos familiares, dos bem conhecidos aos nem tanto, dos anônimos, ajoelhamos nas sepulturas, dos retratos retroatores que nos espelham, como ante túmulos abandonados.
“Há um tempo de nascer e há um tempo para morrer”, Eclesiastes, ainda ensina “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”.
Fases de Fazer Frases
Acho-me perdido. Me encontro no que não procurava.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
“Precisamos manter a vida para continuarmos a falar da economia”, palavras do presidente da Associação Comercial do Paraná, ao justificar a mudança de posição, antes favorável ao comércio aberto e agora apoio ao fechamento, “Agora em nome da saúde, se isolem”, ressaltou ele. Digno de nota e de respaldo. Declaração dada em entrevista ao Jornal da RPC, segunda edição, sábado passado.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Folha de S. Paulo, domingo anterior, destaca as 50 maiores “cidades que explodem por Covid-19”, eis a relação das paranaenses: São sete, ordem alfabética, Apucarana, Cascavel, Curitiba, Guarapuava, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Umuarama
Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
Até tiro foram dados supostamente entre vizinhos em Campo Mourão devido ao ladrar de cachorros. No Jardim Albuquerque, noticiou essa Tribuna. “Gente”, vizinhos aí, vão doar sangue! Doar água à Santa Casa!
Farpas e Ferpas
Obscuro opta pela escura calada da noite.
Caixa Pós-Tal
Grato pelas manifestações que chegaram ao meu conhecimento diretamente devido ao texto da Coluna anterior, “Tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”. A defesa e respeito à vida, e a perda delas em sem tréguas. Defesa maior que não carece de coragem, só a de não ser nem sentir-se intimidado. Obrigado a todos!
Reminiscências em Preto e Branco
Salvo engano, que ele não seja salvo.
José Eugênio Maciel | [email protected]