Elvira mora numa casa sem portas
Na casa 410, da rua Vereador José Dutra de Almeida Lira, em Campo Mourão, tudo é precário. No quintal, entulhos e lixo. Muito lixo. Resultado da coleta de materiais recicláveis de Adriano, filho que mora com a mãe, Elvira. O cenário externo é completado pela incessante fumaça, de uma espécie de fogão à lenha, ali improvisado. A família não possui botijão de gás. Então, sobre alguns tijolos, se habituaram a fazer o rango queimando restos de madeiras. Ontem, a velha panela cozia o feijão.
No interior do imóvel, as duas portas já não existem. Por algum motivo, caíram e nunca mais foram recolocadas. Na sala, o cão caramelo ocupa todo o sofá surrado. Ele não está nem aí às visitas. E ainda olha de cara feia. Além da poltrona, uma estante quebrada é tudo o que lá contém.
O banheiro não pode ser chamado de banheiro. Sem azulejos, está com fiação exposta. Inclusive, para ligar a lâmpada – a única da casa. Também não existe chuveiro, o maior tormento a dona Elvira. Os dias de frio tiveram que ser encarados apenas com a água gelada, que sai direto do cano.
São dois pequenos quartos, ainda com pintura por fazer. Um é do filho, o outro de Elvira. O dele não possui forro. Já o dela, está sem vidros na janela. Não bastasse a situação, a falta de higiene é completa. Roupas e cobertas ficam amontoadas aos cantos. Uma cena lamentável de ser vista.
O imóvel nem é tão antigo. Foi entregue à Elvira no ano de 2006, época em que foi retirada da antiga favela São Francisco de Assis. Segundo ela, uma mudança boa, quando deixaram a tapera de madeira. Mas, mesmo com a casa em alvenaria, as coisas continuam no improviso. Tudo é caótico ali.
Dona Elvira está com 81 anos. Diz ter nascido numa tal de “Ribeira”, local que nem se lembra mais onde fica. Cresceu em meio a uma família bastante pobre, oriunda da agricultura. Trabalhou desde menina cortando cana, plantando e colhendo algodão e café. Casou aos 16. E com o passar dos anos, se tornou diarista. Quis o destino que o companheiro morresse.
Tempos depois se amigou. Agora com um homem 25 anos mais novo. Novamente, quis o destino que ela continuasse só. Ele morreu este ano, na própria casa. Dormiu e não acordou. “Tive 12 filhos. Quatro já morreram por causa do álcool”, disse. Hoje, Elvira Cordeiro de Jesus Pinheiro mora apenas com Adriano. Adilso, o outro filho, até pouco tempo também residia ali. Mas o vício pelo álcool e as drogas acabou o levando às ruas.
Esta semana, ele foi atendido pelos freis franciscanos. E ele fez questão em levar um deles, Frei Galileu, para conhecer a mãe. “Fiquei muito chocado com a situação em que a mãe vive. Ela me confidenciou que precisa de ajuda. Deseja ter uma casa melhor, com chuveiro e portas”, disse o religioso. No entanto, para ajudar dona Elvira, Galileu fez um acordo com Adilso. “Disse a ele que, se eu conseguir ajudá-la, quero que aceite uma internação. E ele topou”. Galileu pretende organizar um mutirão nos próximos dias para limpar e organizar a residência. Ele também acredita que a população irá, de alguma forma, ajudar.
A renda da família é pequena. Elvira recebe pouco mais de R$1000 ao mês, através de uma pensão adquirida em função de um problema nos olhos. O dinheiro é usado para alimentação, contas de água e luz. Não sobra nada. Adriano também traz alguma coisa vendendo recicláveis. Mas é quase nada. Por sua vez, Adilso visita a mãe esporadicamente. E quando chega, traz leite ou arroz. E isso é tudo.
Dona Elvira não sabe ler. Muito menos escrever. Frequentou pouco a escola. Mas aprendeu muitas outras coisas na conhecida e popular faculdade da vida. Vaidosa, estava com os cabelos presos. Unhas pintadas. Trata-se de uma senhora extremamente gentil. Meiga. Nos últimos dias, disse estar se sentindo fraca. Até mostrou o braço exibindo a magreza. Ela não deseja muito mais da vida, não. Quer apenas melhorar a sua casinha. Um banho quente em dias de frio. E quem sabe, portas para ter um mínimo de segurança.
Serviço – Você pode colaborar com doações a Elvira através do telefone (44) 98439-8765 – Frei Galileu