Pesquisa do sujeito-histórico analisa carta encaminhada ao PT por Antônio Palocci, que escreve discurso para minimizar danos à imagem política
Atualmente a carta é objeto de análise histórico-discursiva em projeto de pesquisa do mestrando Sílvio Cesar Masquietto, sob orientação do Prof. Ângelo Priori, no Programa de Pós-Graduação em História Pública (PPGHP), da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR).
Escrita no cárcere, a carta manuscrita foi entregue aos advogados de Antônio Palocci, que a transformaram em um documento digitado, posteriormente encaminhada ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). O documento foi redigido após o político tomar conhecimento da abertura de procedimento disciplinar do partido para apurar a conduta de Palocci no acordo de leniência com a Justiça Federal, que expôs o PT e seu principal representante, o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mesmo com a liberdade restringida em razão das acusações criminais apuradas pela Operação Lava Jato, na carta Palocci não relacionou o acordo de deleção com a diminuição da pena, que é um dos benefícios que a lei concede para quem adere. O principal argumento utilizado no texto foi o resgate da ética, que há muito se havia perdido pelos militantes petistas.
O ex-Ministro afirmou que a corrupção endêmica que atingiu o partido se sobrepôs as ideologias preceituadas pelo ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em prol da sociedade brasileira. Ainda, que a necessidade de manutenção do PT frente ao governo brasileiro, fez com que Lula não se importasse mais com quem ocuparia a cadeira presidencial, o importante seria que ela permanecesse sob o comando petista.
Apesar do discurso em tom reconciliador com o PT, Palocci se mostra disposto a afastar-se da corrupção, contudo, mesmo com aparente indiferença com o resultado do procedimento interno promovido pelo Diretório Nacional do PT, que quer sua desfiliação compulsória, demonstra intenção em continuar militando pelo partido.
A posição assumida por Palocci no discurso contido na carta assume posturas conflitantes, pois, mesmo falando como réu colaborador da justiça, evidencia afinidade com as ideologias partidárias do PT. O ex-Ministro ao longo da carta defende sua posição como ativista, contudo fecha o texto oferecendo sua desfiliação, como se lhe fosse uma opção, já que o resultado da sindicância interna do Diretório Nacional parece já ter um resultado óbvio.
A carta parece uma salvaguarda de Palocci para lhe manter, ainda que mínima, confiança como sujeito político e surgiu no momento de grandes rupturas políticas, inclusive com um impeachment presidencial. Destaca-se que no mesmo período a polarização política ganha destaque, repercutindo até os dias atuais.