No Dia do Padre, bispo dom Bruno fala da vocação
Abrir mão do relacionamento conjugal, de constituir a própria família para dedicar a vida a serviço de uma comunidade. Esse é o desafio dos homens que decidem ser padres. E apesar das tantas opções da sociedade moderna, o número de padres na diocese de Campo Mourão é considerada dentro da média pelo chefe deles, o bispo Dom Bruno Versari.
Como neste domingo, dia 4 de agosto, a igreja comemora o Dia do Padre, Dom Bruno foi convidado pela reportagem da TRIBUNA a falar um pouco sobre essa vocação. Atualmente seis jovens estão na fase inicial dos estudos, no Seminário São José, em Campo Mourão, outros 20 nos estudos de Filosofia no Seminário em Maringá e quatro na etapa final da formação, que é a Teologia.
Segundo Dom Bruno, para o porte da diocese de Campo Mourão, o ideal é que sejam ordenados pelo menos dois padres por ano. No ano passado foram dois, este ano serão mais dois e esperamos continuar a contar com essa vocação tão importante para a continuidade da igreja, disse o bispo. Ele explica que no calendário da igreja católica agosto é o mês das vocações. E no dia 4 é celebrado o Dia do Padre em homenagem a São João Maria Vianney, o padroeiro dos padres, que foi um sacerdote francês considerado o maior exemplo de vida vocacional.
Numa sociedade cada vez mais individualista e materialista como a nossa, como convencer um jovem a se tornar padre?
Isso é realmente um desafio. Os próprios pais não incentivam os filhos por ser uma vida solitária, que exige muita dedicação, renúncia e sacrifício. Mas vocação é dom de Deus. A pessoa que acerta a vocação é feliz, seja como padre, seja como esposo. Tem muitos jovens que têm vocação para ser padre. Como não foi despertado, muitas seguem o ritmo da sociedade.
E como despertar?
É preciso falar sobre isso nas famílias, na própria catequese. Por parte da igreja incentivamos a participação em encontros vocacionais, reuniões de jovens, nas paróquias, no seminário. Hoje as mídias sociais também ajudam a disseminar essa ideia.
Isso é um desafio para o próprio bispo, que precisa de padres para trabalhar nas paróquias.
Hoje atendemos todas as paróquias, algumas até com dois padres. Mas o tempo passa, as pessoas envelhecem e é preciso repor. No ano passado ordenei dois e neste ano serão mais dois. Essa média atende nossa demanda, mas tenho expectativa de ainda poder enviar padres para outras dioceses, como na região norte do país, onde há muita carência de padres. Espero chegar esse dia.
Como despertou no senhor a vocação de ser padre?
Aprendi a rezar desde pequeno com a família no sítio. A gente jantava, lavava louça, rezava o terço e logo ia dormir, porque não tinha mesmo o que fazer. Na comunidade gostava de ver o padre celebrar e com 18 anos já era ministro da eucaristia. Eu ajudava a cuidar da comunidade, que era pequena e isso foi despertando um desejo de consagrar minha vida, mas não imaginava que podia ser padre. Em 1980, quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil teve uma movimentação muito grande e aquilo ajudou a cultivar ainda mais essa vontade. Em agosto daquele mesmo ano decidi fazer uma experiência no seminário. Cheguei a procurar o seminário São José, em Campo Mourão, que não sei por que razão naquele período estava fechado. Como eu havia saído de casa com esse intuito fui até Maringá, onde o arcebispo Dom Jaime Luiz Coelho me encaminhou para o seminário. Estudei Filosofia e História em Curitiba, Teologia em Londrina e em 1988 fui ordenado padre.
Ser ordenado bispo significa que o senhor teve uma caminhada muito bem sucedida como padre
De fato o processo para ser bispo é muito exigente. Mas desde que me tornei padre sempre me coloquei a serviço da igreja e com isso desenvolvi atividades muitos difíceis, como parte administrativa e até gerente de rádio da arquidiocese. Acho que a vida do padre é de doação total, sempre procurei fazer isso.
Com toda essa experiência o que tem a dizer aos padres e aos jovens que têm esse desejo?
Que os padres vivam a beleza do sacerdócio. Não deixem nada perturbar a consagração daquele dia da ordenação, do desejo de servir a Deus na comunidade. Aqueles que têm desejo de ajudar a comunidade como padre, seja na dimensão social ou no anúncio do Evangelho e celebrações dos sacramentos, procure o seminário ou mesmo o padre da sua comunidade. O padre é aquele que faz a ligação do povo a Deus. Fala de Deus para o povo e do povo para Deus.