Joaquim, o homem que encontrou o galo roubado pelo cocoricar
Nos anos 80, Joaquim Cassimiro já havia deixado o campo para morar na cidade de Iretama. Lá, aposentado, vivia os dias com um prazer a mais: cuidar dos seus galináceos. Tinha paixão. Mais especificamente num dos bichanos, um galo imponente e de intensa cantoria. No entanto, o pior aconteceu. O animal foi roubado. Joaquim entrou em desespero e rumou numa jornada de quatro meses, acordando todas as noites, na madrugada, até reencontrar o amigo. E não deu outra. O localizou o reconhecendo pela cantoria.
A história ainda rende comentários pelos mais velhos de Iretama, até hoje. Nunca antes, alguém teria conseguido encontrar um galo, no escuro, somente pelo cocoricar. Sebastião Cassimiro, agricultor e atual vereador no município, é também filho de Joaquim. E se recorda do episódio. Conta que o pai tinha uma felicidade indescritível em cuidar do bicho. “Ele adorava aquele galo. Quando sumiu, ficou desesperado”, disse.
O desaparecimento do bicho ocorreu em 2000. Então, obcecado em encontrar o galo, passou a acordar todas as madrugadas, chovendo ou não. Percorria toda a cidade em busca do amigo. Acreditava encontrá-lo pela cantoria. E não deu outra. Foram quatro meses de trabalho. Mas, quase desistindo do objetivo, escutou ao “chamado”. Localizou a casa e, com a certeza, foi até o delegado. Pela manhã, os dois rumaram ao endereço e o resgataram. Missão cumprida.
Joaquim era agricultor. Trabalhou na roça desde pequeno. Morreu em março de 2001 por uma anemia profunda. Ele se foi, mas o galo ficou. O bicho morreu dois anos depois, em 2003. Segundo Sebastião, se foi de velho. “Meu pai ria da história. Mas tinha horas que ficava com raiva. Principalmente, por terem o roubado dele”, lembrou o filho.
Sempre trabalhador, Joaquim se casou com Oscarina dos Santos – em memória. Juntos, tiveram dez filhos. Ele estudou somente até o segundo ano do fundamental. Era um homem bastante alegre, sempre brincalhão. Mas, por outro lado, sério nos negócios. E, acima de tudo, fervoroso à Deus. “Era um homem de família, muito católico e honesto”, disse Sebastião.
Além dos galináceos, Joaquim também adorava outras criações, como porcos, carneiros. Certa vez ganhou até um macaco. “Ele sempre foi um pé de boi para trabalhar”, disse o filho. Hoje, o filho segue os passos do pai. Tornou-se agricultor e, ainda, rumou pelos caminhos da política. No entanto, galos não fazem parte do seu cotidiano.