Polícia prende homem que matou a própria nora em Campo Mourão
Foi preso pela polícia, em Iretama, Valdir Mendes Gomes, 48 anos. Ele matou a facãozadas, em novembro de 2020, em Campo Mourão, a própria nora, Patrícia Kauane Santos de Mello, na época com 16 anos de idade.
Ele foi detido após a Justiça expedir mandado de prisão, cumprido por equipes de Inteligência e Patrulha Rural da Polícia Militar. Depois de cometer o crime, o homem simplesmente desapareceu.
Porém, com as investigações, a polícia descobriu que ele estava morando em uma propriedade rural na cidade de Iretama. Policiais passaram a monitorá-lo, efetuando a prisão nessa segunda-feira (6).
O caso
A adolescente foi brutalmente assassinada a facadas pelo próprio sogro, no dia 10 de novembro de 2020, por volta das 16 horas. O crime ocorreu na rua dos Encontros, no jardim Tropical II. Em reportagem produzida pela TRIBUNA logo após o crime, o jornalista Dilmércio Dallefe fez um ‘apanhado’ sobre a vida de Patrícia, ouvindo seus familiares. Ela era uma menina sonhadora. Engravidou aos 14 anos no interior de São Paulo. Morava com a mãe biológica. Mas a gravidez não foi compreendida pela genitora. Contaram familiares a Dallefe, que foi “convidada” a deixar a casa. Então, voltou a Campo Mourão. Morando com o pai, teve ajuda, apoio e carinho. Aos 15, a filha nasceu. Meses depois, já havia encontrado Diogo. Seu companheiro e pai adotivo da criança. “Ele era muito bom para ela e para a criança”, contou Hermínia Camargo dos Santos, ‘mãe de coração’ da vítima.
A moça passou a morar sob o teto de Valdir, pai de Diogo. Ele tinha, na época, uma residência no Jardim Tropical 2. Era ali onde Patrícia, o esposo e a filha, ocupavam um dos quartos. Contaram à reportagem, mais próximos, que ela não se dava com o sogro. Quase todos os dias, uma briga. Do dia em que foi morta, Patrícia lavava roupas. Era fim de tarde. Ao seu lado, a filha, que brincava sem roupinhas. E a cunhada, Andriele. Conversavam quando Valdir chegou. Sem motivo algum, a briga teve início.
“Ele disse a ela que não precisava dela. Ela devolveu e disse também não precisar dele”, revelou Andriele à TRIBUNA em entrevista concedida da Daleffe. Para ela, foi uma discussão à toa. Sem motivos aparentes. Mas que passou a ficar sem controle. Bastante nervoso, Valdir apanhou um facão e a atacou.
Patrícia, segundo a polícia, havia apanhado um machado para se defender. Mesmo assim, ela teve braços e pernas cortadas. O sangue atingiu até a filha, que correu assustada. Patrícia também tentou escapar. Mas foi alcançada ainda no quintal, e derrubada. Impiedosamente, o homem terminou o que havia começado. Com um dos pés sobre o seu corpo, a golpeou, agora, no pescoço. Consciente do que fez, levou o facão e sumiu numa mata próxima a casa. Nunca mais foi visto. Estava foragido até então.
Assustada, a filha de dois anos correu até a vizinha e clamou ajuda. “Ela chegou tremendo. Tinha sangue no corpo. Estava nua. Disse que o seu vô estava matando a sua mamãe”, revelou a senhora. A menina foi assistida pelo Conselho Tutelar. Até então estava interna em um lar provisório.
Hermínia entrou na história de Patrícia há alguns anos antes da morte da menina. Ela se casou com o pai da adolescente, ainda quando ela era um bebê. Então, o novo casal passou a criá-la. “Ela era como se fosse minha filha de sangue. Eu a criei com muito carinho e amor. Era minha menininha”, disse na entrevista. A mãe de coração explica que a vida de Patrícia nunca foi fácil. Tinha o sonho de ter a própria casa, ao lado do companheiro e da filha. Mas, enquanto não conseguia, se submeteu ao teto do sogro. E isso, a afligia demais.
“Ela sempre reclamava do sogro. Dizia que ele pedia que ela deixasse a casa. Jogava na cara dela que ali não era a sua residência”, contou Hermínia. Então os conselhos eram para que saísse do local. E se afastasse do homem. “Aconselhamos ela diversas vezes. Minha outra filha disse a ela: Saia de lá antes que esse cara mate você”. E Patrícia a ouviu.
Alguns meses antes da tragédia, cansada dos conflitos, Patrícia apanhou a filha e suas coisas e deixou a casa. Diogo foi junto. Alugaram uma casa por apenas dois meses. Mas, como o dinheiro era curta, decidiram retornar sob o teto de Valdir. Lá, as brigas com o sogro continuaram. Um dia, deixou o local e o próprio companheiro. Disse ir embora ao interior de São Paulo. Não queria mais conflitos em sua vida. Antes, ficou na casa de Hermínia. Em seguida, buscou o colo do pai. Bem no fim, acabou reatando com Diogo. E acabaram voltando a Rua dos Encontros. Local onde teria, efetivamente, um “encontro” com a morte.
Hermínia ficou chocada com o que aconteceu. Emocionada durante a entrevista, chorou por algumas vezes. “É muito triste você criar uma pessoa com tanto amor. E depois ver um homem tirar sua vida como ele fez”, disse. Para ela, Patrícia era uma pessoa maravilhosa. Cheia de sonhos. Era estudiosa e sempre buscou a Deus. A moça também batalhava ao lado de Diogo. Por inúmeras vezes deixou a filha para fazer jardinagens com o companheiro. Diogo foi procurado pela reportagem na época, mas não foi encontrado.
Valdir
Valdir, segundo a nora Andriele, não bebia. Até então, era tido como um homem batalhador. Carpia uma roça aqui. Outra ali. Regularmente, vendia verduras pela rua. Era o típico brasileiro que recebia hoje, pra comer amanhã. Pelo que se sabe, não tinha histórico nas fichas criminais da polícia. No entanto, tinha sim, temperamento explosivo.
A família vem de tragédias na década de 90. Um irmão de Valdir tinha 19 anos quando foi preso, em 1998. Na época, confessou ter matado o próprio pai, Olivério Trizote Gomes, 64, em 13 de maio de 1998. O pai morreu pela manhã, quando tirava leite das vacas de sua chácara, também no Jardim Tropical 2. Levou um tiro no braço, várias pauladas na cabeça e facadas diversas pelo corpo. Como no caso de Patrícia, um crime familiar. Brutal. E sem vestígios de piedade.
Na ocasião, revelou ter matado o pai porque ele era muito ruim aos filhos. O irmão também desconfiava que sua mãe, Geraldina Mendes Gomes, tinha sido morta por seu pai. O fato aconteceu em setembro de 1997. Dallefe não conseguiu dados sobre o caso.
Anos mais tarde, em 2012, o mesmo irmão, aos 33 anos, foi morto no portão da sua residência, também em Campo Mourão. O crime aconteceu na manhã de um domingo. Ele tomava café com a família, quando duas pessoas, em uma motocicleta, chegaram ao portão e o chamaram. Ao atender, foi surpreendido por um dos motociclistas, que efetuou vários disparos contra o seu corpo. Os tiros foram a queima roupa e atingiram o rosto, tórax, abdômen e o braço. No corpo foram identificadas sete perfurações.