Josuê dedica a vida há 33 anos para ajudar colostomizados
Há 33 anos, Josuê vem desenvolvendo um equipamento capaz de proporcionar qualidade de vida às pessoas colostomizadas. Se hoje, elas obrigatoriamente convivem todo o tempo com uma bolsa coletora, com o invento, poderão viver normalmente, sem a mesma. Para isso, ele criou um equipamento inserido ao próprio organismo, composto de uma fita movida por engrenagens, ligadas a um pequeno motor elétrico acionado por controle remoto. O dispositivo permite que o paciente abra e feche a saída do estoma, por onde passam a eliminar as fezes, de forma temporária ou permanente. Caso o equipamento seja efetivamente aprovado, será capaz de ajudar cerca de 2,5 milhões de pessoas no planeta, 400 mil somente no Brasil. E 1,5 mil em Curitiba.
Formado em medicina pela Universidade Federal do Paraná, em 1989, Josuê Bruginski de Paula atuou 15 anos na profissão. Mas, ao mesmo tempo, descobriu aptidões mais à ciência, à médico. Na verdade, virtudes que tiveram início ainda na adolescência, quando era chamado pelos colegas de “Professor Pardal”. “Eu sempre tive ideias. Ainda menino fazia rabiscos de inventos. Alguns deles acabaram concretizados. Não por mim, mas por outras pessoas. Meus projetos eram motivo de risada pelos amigos”, disse.
Ex-professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Josuê iniciou as pesquisas do “Oclusor Ativo Implantável para Colostomias”, ou, simplesmente, AICO, na década de 90. Durante o mestrado, desenvolveu a ideia. No doutorado, criou o protótipo. Na verdade, uma vida inteira, além de uma grana sem fim, dedicadas ao dispositivo. Somente a patente veio 12 anos depois.
Tanto trabalho já foi reconhecido pelo mundo acadêmico. Josuê conquistou em 1996 o Prêmio Jovem Cientista. Ele também foi finalista – o único estrangeiro -, no Prêmio Altran, na França, em 2007. Por último, está concorrendo a R$500 mil no Prêmio Eurofarma.
UM CURITIBANO MOURÃOENSE
Josuê conta que em 2008 conheceu o empresário mourãoense Áter Cristófoli. Então, recebeu o convite para adentrar à Fundação Educere, em Campo Mourão. Convite aceito, incubou a própria empresa, a Da Capo, Inovações em Saúde. E foi graças a parceria com a fundação quando recebeu a ajuda de R$1,2 milhão, ainda em 2014, junto à Finep, que custeou o aperfeiçoamento do dispositivo.
Desde então, Josuê vem alterando a vida entre Curitiba, onde mora, e Campo Mourão, onde mantém a empresa. “Nunca tive um único centavo de renda ou faturamento. Até agora, são apenas gastos. Preciso fazer os últimos testes para que o aparelho possa ser introduzido às pessoas”, explicou.
PROJETO PARADO
No começo do ano, Josuê estava prestes a iniciar os estudos em cães. Segundo ele, o sistema digestivo dos caninos é bastante semelhante ao dos humanos e, por esta razão, seria implantado em seis cães da raça Beagle. Mas, segundo ele, todo o caminhar das pesquisas acabou paralisado pela ação de grupos de defesa dos direitos dos animais.
Seria a última fase de testes pré-clínicos, antes da aplicação em seres humanos. Diante dos “protestos”, o procedimento, que iria acontecer no laboratório de técnicas operatórias e cirurgias experimentais de uma universidade do Paraná, foram cancelados.
“Nós vamos entrar com recurso para conseguir realizar os testes. Os cães não sofrerão maus tratos. E terão a vida normalizada após o experimento”, explicou Josuê. De acordo com ele, sem a aplicação do dispositivo nos cães, todo o projeto passa a ficar ameaçado. “Não podemos pular esta fase. A ciência nos obriga a isso”, explicou.
PROJETO FUNDAMENTAL
Pacientes colostomizados sofrem muito. Precisando usar bolsas coletoras de plástico, continuamente, as pessoas enfrentam desconforto, irritações na pele e infecções. Além disso, as limitações são enormes. Sem contar com situações constrangedoras, todos os dias.
O dispositivo desenvolvido por Josuê busca colaborar para que muitos destes problemas desapareçam ou, no mínimo, sejam amenizados. Com ele, os pacientes poderão viver sem a utilização das bolsas. Elas serão utilizadas, sim. Mas na hora e no momento em que assim desejarem.
Presidente da Associação Paranaense dos Ostomizados, Kátia Pascoal de Lima Oliveira ficou frustrada com a paralização dos estudos do dispositivo. Ela não entende porque um experimento tão importante às pessoas, não possa ser aplicado em animais.
“Eles disseram que os cães seriam mal tratados. Então, o que está acontecendo comigo? Estou sendo torturada pela doença. É uma inversão de valores. Os testes poderão melhorar a vida de milhões de pessoas. Destas, 1,5 mil somente em Curitiba”, desabafou. Kátia possui dois cães em casa. E garante que os têm como filhos. “Mas é claro, se tivesse que escolher entre eles e minha neta, minha família em primeiro lugar. Eles estão privando pessoas em ter uma qualidade de vida melhor. Por isso fiquei muito chateada”, disse.
Kátia foi diagnosticada, há alguns anos, por Síndrome de Crohn, doença inflamatória crônica que afeta o sistema digestivo. Em sua vida, sofre com dores, dermatites, diarreia, febre, perda de peso e dificuldades na absorção de nutrientes. Passou por cirurgias que removeram seu intestino grosso e reto. E foi obrigada a usar bolsas coletoras de forma permanente.
“Se o dispositivo puder ser testado e, mais adiante, puder ser implantado em pessoas colostomizadas, mulheres como eu, por exemplo, poderão ir à praia, a uma piscina. Ou seja, terão uma liberdade que hoje não tem”, exemplificou.
SERVIÇO
Se você é médico atuante, pode ajudar votando no projeto de Josuê no Prêmio Eurofarma. www.premioeuro.com