A resistência de Anderson
Mesmo não sabendo, Anderson nasceu predestinado ao esporte. Ainda criança, começou no futebol. Mas considerado um verdadeiro “perna de pau”, se reinventou. Para conseguir uma vaga no time, teve que aprimorar o preparo físico. Então, passou a correr. Ganhou uma super resistência. E a sua “correria”, o levou a outra modalidade: os 1500 metros. Nunca mais parou, literalmente. Tamanha determinação, agora tem uma bolsa de estudos em Campo Mourão. Ele cursa Educação Física. Em contrapartida, vem treinando crianças três vezes na semana, no campus do Centro Universitário Integrado.
Anderson Rezende dos Santos é um legítimo atleta de alto rendimento. Inserido à equipe de atletismo mourãoense, ele não para. Não bastasse os treinamentos regulares junto ao treinador Paulo César da Costa, o “Paulinho”, e as aulas da faculdade, ainda pedala quase dez quilômetros de casa até o campus do Integrado, para executar os treinos com crianças do Colégio Novo Horizonte.
Aos 24 anos, Anderson nasceu em Paranacity. Mas cresceu e foi criado na Vila Rural de Colorado. Época em que os pais trabalhavam em uma usina de açúcar e álcool da região. De família humilde, aprendeu desde cedo a dar valor no trabalho. “Muitos de nossos alimentos vinham do próprio quintal, onde plantávamos”, disse.
Anderson tem três irmãos. E ao lado deles teve uma rica infância. Como um “moleque de vila”, aproveitou cada momento ao brincar e pular. “Meus pais não tinham dinheiro sobrando, não. Aliás, nada nos faltava. Não tive tudo o que queria. Mas tive tudo o que eu precisava”, afirmou.
Conta que o esporte surgiu com a irmã mais velha. Ela jogava futebol. E como cuidava dos irmãos menores, o levava aos treinamentos. E, de tanto acompanhá-la, acabou participando dos treinamentos. Mas, sem maiores pretensões. No entanto, já aos 17, quando viu as medalhas no quarto da irmã, passou a ficar obcecado em ter uma daquelas.
“Eu apenas treinava. Não era dedicado. Coloquei aquela medalha na minha cabeça e não a tirei mais. Então comecei a jogar. Mas eu era muito ruim”, disse. Como não era bom, pensou em ser diferente. A diferença entre ele e os demais jogadores teve início após a disciplina no preparo físico. Todos os dias, antes do treinamento, Anderson corria. Estava determinado a conseguir uma vaga no time. Passados alguns meses, o feito foi alcançado. E mais que isso: sua equipe conquistou o segundo lugar em um torneio. “Ganhei a medalha que tanto queria”.
Tamanho era o seu preparo que, dias depois, recebeu o convite de um treinador para correr uma prova no atletismo. “Eu odiava correr. Mas aceitei”, lembrou. E, sem maiores pretensões, chegou em quarto lugar. Pronto. O destino estava selado. Depois disso também passou alguns meses na cidade de Presidente Prudente, onde melhorou a sua performance.
Em 2019, após um acidente de moto, quando lesionou gravemente um dos pés, Anderson pensou em parar com tudo. Mas treinadores pediram que repensasse. E ele retornou às pistas. Com a fama correndo solta, no mesmo ano foi apresentado ao coordenador de atletismo de Campo Mourão, Paulo Cesar da Costa. E foi naquele momento em que foi convidado a participar do quadro de atletas da cidade. Não só aceitou, como ganhou uma bolsa de estudos integral.
“Eu ganhei duas oportunidades únicas em minha vida: estudar e participar do atletismo de Campo Mourão”, disse. Agora, Anderson tem em mente se transformar em um bom técnico no futuro, passando a praticar os ensinamentos a outras crianças. Puro reflexo do que testemunhou um dia. “Anderson é um atleta super dedicado. Focado e com objetivos claros na vida. Quer se formar, quer ser treinador. Um futuro treinador da nossa equipe”, disse Paulinho, o atual treinador de Anderson.
Embora atleta, Anderson sempre trabalhou. Já, aos 14, era uma boia-fria. Carpia e fazia diárias na plantação de mandioca. Depois dos 18, atuou em um supermercado. A verdade é que, vendo a situação dos pais, ele sempre buscou caminhar com as próprias pernas. Realidade consolidada nos dias atuais. O ex boia-fria, em breve será um treinador.