Luis Madrid e a jornada com Deus através de sua bicicleta
Na BR-369, entre Mamborê e Juranda, um homem descansava num ponto de abrigo. Eram quase 13h da última segunda-feira. Brisa fria e céu de brigadeiro. Ao seu lado, uma bicicleta muito equipada. O sujeito em questão era Luis. Um colombiano de 70 anos. Com a disposição de um adolescente e a coragem de poucos, decidiu se aventurar pela América do Sul. Uma viagem sem data ao seu final. Mas com inicio em 14 de fevereiro deste ano.
Luis Guilhermo Madrid nasceu e viveu quase toda a sua vida em Medelin, na Colômbia. Lá, trabalhava como técnico em agropecuária. Quis o destino que se separasse há muitos anos. Do casamento restaram as lembranças. E uma filha, hoje com 35 anos. Mesmo assim, caminhava sozinho. A menina mora nos Estados Unidos. Mas, desejando ter um motivo a mais para viver, decretou uma jornada espiritual, de “bike”. Cujos objetivos são aproximá-lo de si mesmo, de Deus, da natureza, das pessoas.
Após deixar Medelin, atravessou ao Equador, depois ao Peru e, por fim, chegou ao Norte do Brasil. Desde então vem percorrendo entre 50 e 60 quilômetros em média. Os trajetos a cada dia só não são maiores em virtude da idade. Ele roda suave, sem pressa, ao passo que lhe é possível. E, a cada nascer do sol, vem colecionando novos amigos. Gente de bem atravessando a sua “via crucis”. São tantas as pessoas que o ajudam que criou um grupo no Whatsapp, denominado “Angeles del camino”.
No último fim de semana Luis parou em Campo Mourão. E foi acolhido pela guarnição do Corpo de Bombeiros. Lá, permaneceu três dias. Recebeu alimento, água, banho, carinho e palavras de conforto. “Nunca conheci uma instituição como eles. Sou especialmente grato por tudo o que fizeram por mim. Em todo o país”, lembrou.
Embora receba a atenção de muitas pessoas, Luis carrega uma penca de coisas que o tornam, de certa forma, independente. Na “magrela”, ele leva barraca, colchonete, cobertas, roupas, água, comida e até uma vara de pescar. Definitivamente, ele não depende apenas da ajuda dos outros. Mas, como um homem de bem, todos os dias há quem estenda a mão, os seus anjos do caminho.
Conta que pensava em fazer o mesmo caminho, de moto, ainda em 2000. No entanto, sofreu um acidente, em 1999, lesionando as costas. Os planos acabaram. E retornaram no último ano, quando parte dos familiares, inclusive a filha, o chamaram de louco. “Minha filha disse que, pela minha idade, eu estava louco. Na verdade, todos se preocupam comigo. Mas eu estou indo muito bem”, afirmou.
As pedaladas agora têm como destino o Ushuaia, na Argentina. E, depois de lá chegar, não existem planos definidos. Antes de deixar Medelin, Luis apanhou muitas sementes de seu país e as trouxe na bagagem. Na jornada dos dias, ele vai as doando a produtores rurais que encontra. Na verdade, trata-se de uma troca. Ele também recebe outras.
Luis é um sujeito determinado. Nada teme. E garante que em todo o seu percurso jamais sentiu medo. “Posso garantir que somente anjos cruzaram meu caminho. Nunca enfrentei obstáculos ou perigos”, disse. E ele acredita que isso é apenas consequência da pureza de sua aventura. “Estou em contato direto com Deus. Ele viaja comigo. Tenho também a natureza e a ajuda das pessoas”.
Viajando apenas durante o dia, Luis já aprendeu aonde parar e, aonde dormir. E, sempre durante o descanso, vai lendo Gabriel Garcia Marques: “Viver para contar”. Embora a aventura não tenha acabado, já sentiu que existem muito mais pessoas do bem às do mal. “Somos maioria. Minha jornada consiste em harmonia, paz e amor. E cada vez que encontro um anjo, me animo a continuar. Ainda há esperança na humanidade”, acredita.
Serviço
acompanhe a jornada de Luis no YOUTUBE https://youtube.com/@luismadrid3874?si=aFmV6KWf9X-BusHb