Pandemia de Covid-19 e as ‘sequelas psicológicas’
A pandemia de Covid-19 deixou sequelas não apenas físicas, mas também psicológicas para muitas pessoas. Em meio a isolamento social, perdas e crises, a sociedade precisou se reerguer e seguir em frente. Uma das formas que ajudou nesse processo, segundo a psicóloga Aline Fernanda Cordeiro, foi – e tem sido – a psicoterapia.
A profissional informou que não realizou atendimentos no início da pandemia. No entanto, acompanhou os desdobramentos da realidade posta naquele momento. “Colegas de profissão relatavam o quanto teve um aumento na procura por psicoterapia nesse período”, ressaltou. Ela retornou aos atendimentos clínicos em 2021 e também teve procuras por esse motivo.
Segundo Aline, as principais motivações para os atendidos eram o medo de morrer, principalmente as pessoas de grupos de risco, e de perder um ente querido. “Tive paciente que procurou psicoterapia no momento da pandemia e, após ser criada a vacina e as coisas se estabilizarem, ele deixou, pois sua angústia estava centrada no medo em relação aos riscos de ter que trabalhar na pandemia”, exemplificou, ao dizer que muitos tinham receio de acabar se contaminando ou infectando um familiar.
Todos os desdobramentos desse período em todo o mundo desencadearam diversos sentimentos. Aline destaca que sintomas foram potencializados, como medo, estresse, ansiedade, culpa, melancolia, raiva, solidão, ansiedade, insônia, incapacidade, frustração, entre outros. “Em alguns casos esses sintomas não tratados se tornam pânico”, falou.
De acordo com a psicóloga, muitas pessoas foram impactadas com a perda da segurança financeira. Isso resultou, em muitos casos, no aumento de consumo de entorpecentes. “O uso abusivo de álcool e outras drogas muitas vezes está relacionada ao Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT), que é um tipo de transtorno de ansiedade que pode se desenvolver em pessoas que vivenciaram um evento traumático”, expôs, acrescentando que também teve aumento de casos de depressão, ansiedade e Síndrome de Burnout.
Apesar de ainda haver resistência quando se fala em psicoterapia, Aline considera que as visões preconceituosas vêm mudando, sobretudo com as novas gerações. “Uma pessoa não precisa ter um problema mental para buscar terapia, ela precisa querer se conhecer mais, refletir sobre questões que a incomoda, seus planos, desejos, questões do passado, do presente e do futuro”, explicou.
A profissional acrescenta que, com a pandemia de Covid-19, houve maior busca por psicoterapia. Para ela, é possível que as pessoas passaram a perceber que nem sempre conseguem sozinhas, o que não é um problema. “Está tudo bem buscar ajuda, isso não o torna incapaz ou fraco, mas sim uma pessoa corajosa, que está disposta a encarar seus medos, angustias, traumas (o que não é fácil)”, disse.
Dores e traumas: como lidar?
Aline orienta que uma das formas de lidar com as dores e traumas causados pela pandemia é vivenciar a dor. Para isso, ela recomenda se aproximar das pessoas que fazem bem, ir voltando aos poucos à rotina, praticar exercício físico e manter uma boa alimentação.
De acordo com a profissional, cada um tem o seu tempo, mas o importante é não se comparar com ou outros ou se pressionar. “No luto patológico, os sentimentos depreciativos continuam muito fortes ao longo do tempo. Nesse caso, é importante a ajuda de um profissional”, orienta.
Currículo
Aline fez sua primeira graduação em psicologia pela faculdade Unicampo. Além disso, é formada em pedagogia, pós-graduada em Desenvolvimento e Aprendizagem nos anos iniciais da Educação Básica e metre pelo Programa de Pós-Graduação Sociedade e Desenvolvimento, todos pela Unespar (Universidade Estadual do Paraná), campus de Campo Mourão.
Começou a atender como psicóloga voluntária no Centro de Educação em Direitos Humanos da Unespar em 2017. Também atuou como psicóloga no antigo Programa Patronato, projeto de extensão universitário da Unespar. Além disso, trabalhou em uma casa de acolhimento (Aldeias Infantis – SOS). Atualmente, é psicóloga clínica e docente do curso de Psicologia na faculdade Unicampo.