Santa Casa de Campo Mourão tem redução de mais de 60% na retirada de órgãos

Uma redução de mais de 60% foi identificada na retirada de órgãos no Hospital Santa Casa de Campo Mourão, em relação ao primeiro semestre do ano passado. A enfermeira Susana Candido, coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) da unidade, informou que, na primeira metade de 2024, 12 órgãos foram captados.

Segundo a enfermeira, essa baixa pode ser decorrente da diminuição de óbitos de potenciais doadores na instituição. Embora a Santa Casa não seja habilitada pelo governo do estado para realização de transplantes, o hospital cede o espaço do centro-cirúrgico para equipes transplantadoras fazerem cirurgias de retirada de órgãos de doadores, após avaliação médica da equipe da Central Estadual de Transplantes (CET). Além disso, no local, são feitas avaliação de potenciais doadores e entrevista com a família.

Susana explicou como são realizados os procedimentos. “Quando a CIHDOTT identifica um paciente em possível Morte Encefálica (ME), ela comunica a Central Estadual de Transplantes, que, com os dados informados pelo hospital, avalia o paciente, validando este como potencial doador ou não”, informou, ressaltando que, conforme a legislação vigente, o diagnóstico de ME é um direito de todos os pacientes, sendo eles validados como potenciais doadores ou não.

A coordenadora do setor disse que, historicamente, na Santa Casa, já foram realizadas mais de cinquenta cirurgias para retirada de órgãos e tecidos para transplantes. No entanto, não é possível precisar a quantidade exata de famílias beneficiadas, pois a legislação atualizada em 2017 (Decreto nº 9.175) não permite.

“As instituições devem manter o sigilo de seus doadores e receptores de órgãos”, alertou. “Mas a gratidão pelo amor compartilhado por essas famílias é imensa, e só podemos dizer que não existem números ou palavras para agradecer a felicidade de cada pessoa que recebeu um órgão ou tecido através da Santa Casa de Campo Mourão”, complementou.

A equipe tem diversas funções, entre elas, atua como facilitadora do processo, desde a identificação da possível Morte Encefálica até a conclusão, com a entrega do corpo para a família

Trabalhos realizados pela CIHDOTT em Campo Mourão

A CIHDOTT realiza o trabalho na Santa Casa desde 2009. Entre as principais atribuições da comissão, estão a organização do protocolo assistencial para diagnóstico de ME o estabelecimento de rotinas para o acolhimento dos familiares de pacientes falecidos, tanto doadores quanto não doadores. Por isso, a equipe atua como facilitadora do processo, desde a identificação da possível ME até a conclusão, com a entrega do corpo para a família.

“Promover e organizar o acolhimento às famílias doadoras antes, durante e depois de todo o processo de doação no âmbito da instituição, realizando orientações e esclarecendo o processo para a famílias, a fim de a decisão sobre doação ser livre e esclarecida, conforme legislação vigente, é a nossa função”, afirmou Susana.

Além disso, com o avanço da tecnologia, que visa melhorar a saúde de toda a população, e o apoio do Ministério da Saúde, a CIHDOTT também busca capacitar os hospitais sobre doação de órgãos. “Observar um maior número de potenciais doadores e doadores só é possível através do trabalho intra-hospitalar que a CIHDOTT realiza”, falou.

A comissão é responsável, ainda, como esclareceu a enfermeira, por providenciar a logística intra-hospitalar para o rápido desenvolvimento da remoção de órgãos. Para isso, comunica-se com a CET, junto com as equipes captadoras que vêm de outras cidades ou estados do Brasil, para auxiliar na melhor logística possível para a retirada e entrega dos órgãos para as equipes transplantadoras, assegurando a qualidade dos órgãos a serem transplantados.

Potenciais doadores

Hoje, só é possível a retirada de órgãos e tecidos mediante autorização livre e esclarecida da família do potencial doador. Susana elucidou, com base no Decreto nº 9.175, que esse processo dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau, que são definidos como: pai, mãe, filhos, irmãos, avós e netos, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.

A partir disso, uma equipe capacitada, como é o caso da CIHDOTT, faz todas as orientações pertinentes sobre a doação de órgãos para a família do potencial doador. Após terem todos os conhecimentos necessários, os familiares optam, então, pela doação ou não, seja qual for a vontade e consenso familiar.

Posteriormente, a decisão dos parentes do potencial doador é comunicada à CET. “Assim, iniciam-se os processos para a cirurgia de retirada de órgãos, na maneira correta, a fim de se obter sucesso no posterior transplante”, frisou. Apesar desses procedimentos, a enfermeira lembrou que se declarar doador de órgãos ainda em vida é fundamental para auxiliar a família no caso de uma eventual possibilidade de efetivar a doação. “O que facilita em vários aspectos as famílias a realizarem a doação é o conhecimento da vontade do doador”, anunciou.

Um doador jovem e saudável pode ajudar outros pacientes, com diversos órgãos (como coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas e intestino) e tecidos (globos oculares, coração para valvas, ossos e pele). Dessa forma, cerca de oito pessoas ou mais podem ser beneficiadas por meio da autorização de doação por parte da família, o que Susana define como um ‘gesto de amor’.

A coordenadora da comissão também destacou outra forma de manifestar interesse em ser um potencial doador. “Hoje, é possível declarar a sua vontade de ser doador através de um documento oficial, que pode ser registrado em qualquer cartório do Brasil. No entanto, declarar a sua vontade para a sua família é sempre mais importante, porque a legislação brasileira exige a autorização da família”, enfatizou.

“A paixão e o amor por ajudar outras pessoas é o que nos move diariamente, porque hoje só é possível o transplante através da doação, e dependemos das famílias para podermos ajudar outras famílias. Somente o amor pelo próximo é a base para o SIM”, expressou a enfermeira, encorajando as pessoas: “Diga sim à vida, diga sim à doação de órgãos”.

Serviço

Para sanar dúvidas ou coletar mais informações sobre o assunto voltado à doação de órgãos e tecidos, os interessados podem entrar em contato com a CIHDOTT da Santa Sasa de Campo Mourão, por meio do seguinte telefone institucional: (44) 3810-2100.