Mourãoenses têm prejuízo de pelo menos R$ 3 mil com empresa investigada de golpes

A estudante de Estética e Cosmética no Centro Universitário Integrado Julia Maria Imberio, de 18 anos, e o empresário Carlos Eduardo Barbosa, de 23, ambos de Campo Mourão, decidiram se casar recentemente. Em junho deste ano, fecharam contrato com a agência Filia Eventos, de Maringá, distante 90 quilômetros de Campo Mourão. O que eles não sabiam até pouco tempo, há cerca de dois meses após uma entrada de R$ 20 mil de um total de R$ 30 mil, era que a empresa passaria a ser investigada por aplicar golpes no Paraná.

A forma de pagamento realizada pelo casal foi, mediante acordo com a agência, a partir de parcelas nos cartões de crédito dos pais deles; R$ 10 mil foram parcelados em 18 vezes no cartão do pai de Maria, e os outros R$ 10 mil em 12 vezes no cartão do pai de Carlos Eduardo. O restante do investimento seria pago com um cheque três meses antes do casamento.

Na semana passada, quando as primeiras denúncias contra a empresa vieram a público, os noivos, preocupados, encerraram o contrato. Com o débito de duas parcelas de cada cartão, até o momento, o prejuízo do casal já é de cerca de R$ 3 mil, considerando que eles também precisaram contratar advogado para o caso.

Agora, eles aguardam o cancelamento do restante das parcelas por parte das agências bancárias responsáveis. Embora o casamento esteja marcado para o dia 18 de outubro de 2025, faltando mais de um ano, Julia contou à TRIBUNA que nem sabe mais se o evento poderá ser realizado, tanto pelo trauma sofrido com a situação quanto pela questão financeira, que eles ainda não sabem como vai ficar.

Centenas de pessoas em diversos municípios do estado se encontram em situação semelhante. Nessa segunda-feira (19), o Portal G1 divulgou a informação de que, conforme investigações lideradas pelo delegado do caso, Fernando Garbelini, o prejuízo causado pela Filia já passa de R$ 8 milhões. Ainda de acordo com o portal, o delegado atualizou a quantidade de boletins de ocorrência que já foram registrados contra a agência: 450 até segunda-feira desta semana. O oficial também disse que fornecedores e representantes da empresa devem ser ouvidos pela polícia nos próximos dias.

Contrato

Foram diversos os atrativos que levaram os noivos a fechar o contrato com a prestadora de serviço. “A gente encontrou a empresa pela internet, achamos o preço super acessível, via as fotos e eram decorações bonitas”, falou a noiva. Além disso, a responsável pela agência havia informado, na época, que a Filia estava com uma nova parceria com um salão de eventos em Campo Mourão. Parecia o cenário ideal. “Nossa, a gente achou perfeito, a proposta nos encantou”, afirmou Julia.

Durante o processo de negociação, o casal conseguiu chegar a um acordo sobre o valor total do pacote, que incluía decoração, buffet completo, com alimentos salgados e doces, como bolo, bebidas não alcoólicas, o salão e a assessoria. O preço inicial era de R$ 35 mil. A representante da agência chegou a propor um desconto, em que o saldo iria para R$ 32 mil. O casal pensou um pouco mais, até que Carlos Eduardo disse à prestadora de serviços que só fechariam o negócio se fizesse por R$ 30 mil. Alegando estar disposta a ficar mais conhecida em Campo Mourão, a proprietária da agência concordou.

Antes mesmo de os primeiros casos de suspeita de golpes aplicados pela Filia se tornarem públicos, Julia, que trabalha em um salão de beleza da cidade, teve contato com a noiva Danila Nascimento de Lima, no dia do casamento dela, no sábado (10). Ela foi uma das seis noivas da região que tiveram o casamento cancelado pela mesma agência quase 24 horas antes do evento e só conseguiu realizar uma festa alternativa com a ajuda de amigos e familiares, contratando novos fornecedores de última hora.

No mesmo dia, Carlos Eduardo também ficou sabendo de um caso de cancelamento de um casamento de última hora e ligou para Julia. “Eu fiquei assustada, chocada, a minha ficha não caiu”, afirmou ela. Como até então o nome da empresa ainda não tinha sido divulgado nas mídias, o noivo resolveu entrar em contato com o salão de festas em que seria o casamento do casal, segundo a contratada. “A data [18 de outubro de 2025] não tinha sido travada. E a nossa data não está mais disponível. Ou seja, nem se a gente quiser fazer o nosso casamento lá consegue, porque não tem mais a nossa data disponível”, contou, indignada.

No sábado, Julia ficou em estado de choque, conforme disse. Ela começou a tentar estabelecer contatos com a agência por aplicativo de mensagens apenas no domingo à tarde, mas não teve resposta. Na segunda-feira (12), recebeu uma mensagem automática da Filia: “Se seu pagamento foi através de cartão, para que você, consumidor, consiga contestar, precisa de nome completo do titular, quatro últimos dígitos da conta, banco emissor e o valor. Também preciso do nome completo do casal, CNPJ contratado principal e CPF dos dois”.

A estudante informou, ainda, que a orientação do advogado contratado pelos noivos foi para que eles não respondessem a mensagem, visto que a contratada já tinha todos os dados solicitados. Um boletim de ocorrência foi registrado pelo noivo na quarta-feira (14), na delegacia de Polícia Civil de Campo Mourão. Agora, com o prejuízo e todo o transtorno causado, eles não sabem se ainda será possível realizar o casamento na data selecionada. “A minha imunidade está baixa, eu não estou legal, eu já chorei, então, assim, é muito além do financeiro. É um sonho, são dias de trabalho perdidos, é desgaste mental”, pronunciou entristecida.

Em Campo Mourão, pelo menos, mais um casal, além de Julia e Carlos Eduardo, também estão enfrentando prejuízos em função da mesma empresa. Quase 24 horas antes do casamento, Danila Nascimento de Lima, de 29 anos, e Guilherme Teodoro Conceição da Silva, de 28, receberam uma ligação da proprietária da Filia informando sobre o cancelamento do evento no município. Mesmo com um prejuízo de R$ 23,5 mil, familiares e amigos do casal se juntaram para arrecadar o novo valor necessário para fazer uma festa alternativa acontecer, mantendo a data de sábado (10).

De acordo com o G1, o advogado responsável pela defesa da proprietária da agência afirmou que a cliente “quebrou”. Na terça-feira (13), a empresa relatou, nas redes sociais, que se mudou de Maringá após sofrer ameaças. A TRIBUNA tentou novo contato com a Filia, mas, até a conclusão desta reportagem, não teve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.