Washington, W de Brasil genial

Aprendi a ler muito cedo, com cinco anos, e sempre gostei de escrever. Tanto que

queria escrever para todas as mídias, jornal, revista, rádio, televisão”.

Washington Olivetto

O pneu furado e a decisão de entrar em um lugar que mudaria a vida dele, e pelo querer dele próprio. O leitor voraz e as duas principais dicas de livros que receitou a vida toda.

Se muito ou pouco conhecidos tais fatos, o escrevinhador só dirá no final do texto. E é assim que homenageio Washington Olivetto, os textos dele tinham muitas vezes a criativa e genuína capacidade de prender a atenção de quem lia, ouvia, via. Um dos mais ricos neste sentido é sobra a Paz, o conteúdo tem ingredientes da emoção e razão, tão próprios quanto mesclados, um espetáculo da palavra do texto produzido e também lido.

Por não ter sido noticiado que estava hospitalizado, o anúncio da morte do Washington Olivetto foi abrupto, informação divulgada no domingo, precisamente as 17:15 horas, aos 73 anos.

Eu gostava tanto de ouvir falar, ao conceder entrevistas, verdadeiros aprendizados, situações que me levaram a admirá-lo há décadas, aqui mencionadas não devido a morte dele. Simples, respondia com clareza as indagações, nelas existia, o grande conhecimento e não apenas na área publicitária.

Certa vez, ao indagar se ele faria propaganda de produtos nocivos à saúde, afirmou, “se são vendidos legalmente, em princípio seria possível”. A propósito, resolutamente declarava que nunca faria publicidade para qualquer político. Porém, dois políticos fizeram propaganda para uma marca de sapatos, Paulo Maluf e outra peça com Leonel Brizola. Olivetto disse ter o cuidado à época do Maluf evidenciar o pé direito e o Brizola o esquerdo.

Premiadíssimo internacionalmente, pelo menos é listado entre os mais importantes publicitários do mundo, sendo que no Brasil é uma referência indiscutível para experientes profissionais e agências, bem como para quem está estudando ou no principiar da carreira na área.

Difícil de listar apenas algumas das propagadas que, com sobra e evidência, atestam a genialidade criativa deste paulistano descendente de italiano. A do sutiã (1987) e a do Hitler (1989), respectivamente: “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”; e quanto ao nazista: “É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”.

O senhor está com o seu dia de sorte, o meu pneu não costuma furar duas vezes na mesma rua”, afirmou jovem Washington ao adentrar na Agência de Publicidade HGP, onde começou a sua brilhante carreira publicitária.

Além da afirmação acima, ficou também para o final a recomendação dele, ler toda a obra do Machado de Assis e O apanhador no campo de centeio, do J. Salinger. Dicas do ávido leitor Olivetto, que lia de tudo.

Fases de Fazer Frases

A verdade não carece de lugar. Ela é o lugar.

Olhos, Vistos do Cotidiano

Ao anunciar o jogo do time canarinho, jogo da terça, o comercial durante toda a semana, o narrador da Globo falou: “A seleção precisa ganhar para respirar tranquilo”. É preciso o verbo concordar com o sujeito, no caso, seleção, tranquila.

Farpas e Ferpas

Fazer-se de ingênuo é ingenuidade por demais.

Sinal Amarelo (I)

Fazes o que dizes e dirás acertadamente o que fazer.

Tudo tem limite, até transpô-lo?

Trecho e Trecho

Fico a pensar no que disse/Fico a pensar na tolice/ Da gente ter coração. [Meu erro – Orestes Barbosa].

Devemos falar com Deus o tempo suficiente para poder escutá-lo”. [Frei Betto].

Reminiscências em Preto e Branco – Ary Toledo deixa o riso triste

Queria ser ator, mas me deram o emprego de faxineiro. Topei e fui progredindo

até que me colocaram no palco!”

Ary Toledo

Em uma das apresentações no Teatro Municipal de Campo Mourão, Ary Toledo começou assim a apresentação ao entrar em cena, em silêncio, após sentar, ajeitar o violão e, diante do até então silêncio da plateia, disse, bem-humorado: “Como vocês consideram o artista…., não aplaudindo a minha presença”, – o público reagiu com aplauso e gargalhadas. O comediante ainda emendou, “vocês do Paraná estão de parabéns por homenagearem a sogra, dando o nome de uma cidade, estive lá ontem!”. Diante da pausa que deu e novamente o silêncio do público, Ary arremata, “é Cascavel”, novos risos da plateia.

É uma amostra da enorme capacidade de improvisar a partir da observação cotidiana. Pelo menos meio século de carreira, iniciou aos 22 anos como humorista. Antes, ocupou os palcos cantando interpretações que ele próprio compunha, como peças teatro. Mas o primeiro dinheiro que recebeu do teatro se deu no emprego de faxineiro, tão pouco que ele só podia morar lá mesmo.

Mais do que o humorismo, o legado do Ary é o da cultura popular, reconhecido por todos os públicos. Aos 87 anos, nasceu na pequena Martinópolis, interior paulista, despediu-se da vida, saiu do palco para não mais regressar, sábado 12.

Reminiscências em Preto e Branco

Na tardança da vida, as escolhas são feitas tendo como determinantes as consequências. Sem consequência, sequer escolhas são feitas.

José Eugênio Maciel | [email protected]

* As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal