‘Outubro Laranja’ marca mês de conscientização sobre TDAH

O mês de outubro é bastante conhecido pela campanha de conscientização do câncer de mama e do câncer do colo do útero. No entanto, outra mobilização também é realizada em diversos países do mundo, incluindo o Brasil: o Outubro Laranja: mês de conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Para a sociedade expandir a compreensão a respeito desse transtorno e desmistificar alguns ‘tabus’, a neuropsicopedagoga Claudeni Benelli, de Campo Mourão, trouxe à TRIBUNA explicações e experiências com o público com TDAH.

Inicialmente, é importante saber, com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o que é o TDAH. “O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é neuropsiquiátrico”, explicou Claudeni. Ou seja, envolve tanto aspectos neurológicos quanto psiquiátricos que podem afetar o comportamento, a cognição, as emoções e a capacidade de funcionar em situações diárias.

Segundo ela, a principal característica é a dificuldade de concentração, mas também a impulsividade e a hiperatividade, dependendo de como é feita a classificação. A profissional explicou que, com base no manual, o TDAH pode ser de três tipos: 1) com predomínio de sintomas de desatenção, 2) com predomínio de sintomas de hiperatividade e impulsividade e 3) de forma combinada (ou seja, com os dois sintomas anteriores).

A campanha vem no sentido de sensibilizar a sociedade sobre a relevância de entender melhor o TDAH, a fim de discutir sobre o assunto. Essa é uma maneira de desmistificar muitos posicionamentos que predominam nas famílias, nas escolas e na sociedade em geral de que determinadas crianças, adolescentes e, inclusive, adultos são preguiçosos ou bagunceiros demais, o que pode provocar ainda mais prejuízos no desenvolvimento da pessoa.

Outro ponto levantado na campanha mundialmente é o encorajamento do diagnóstico precoce. Isso porque, conforme Claudeni chamou a atenção, há um grande número de diagnósticos tardios que são feitos para identificar o possível transtorno.

Diagnóstico tardio: consequências

De acordo com a neuropsicopedagoga, diversos casos subnotificados de TDAH e/ou diagnósticos tardios acabam prejudicando o conhecimento do número real de casos do transtorno presentes no mundo, assim como no Brasil. Em 2022, foi instituída no país a Portaria Conjunta nº 14, que aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do TDAH.

O documento traz, entre outras informações, algumas estimativas sobre o transtorno. “No Brasil, a prevalência de TDAH é estimada em 7,6% em crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos, 5,2% nos indivíduos entre 18 e 44 anos e 6,1% nos indivíduos maiores de 44 anos apresentando sintomas de TDAH”, apresenta um trecho da portaria.

O fato de grande parcela da sociedade chegar ao diagnóstico apenas na vida adulta pode trazer consequências sérias a ela, como apresentar dificuldades de seguir uma rotina, o que pode acarretar instabilidades no trabalho, por exemplo, que poderiam ser reduzidas com intervenções adequadas de profissionais especializados. “Precisa de acompanhamento terapêutico para que a criança, o adolescente ou o adulto possa viver menos prejuízo por conta desse transtorno”, alertou.

Processo

O processo para diagnosticar o TDAH vai desde testes aplicados por profissionais como neuropsicopedagogos até encaminhamento para médicos especializados no assunto, por exemplo, neurologistas e psiquiatras. Por experiência de sua atuação na área, Claudeni, que também atende outros casos em Campo Mourão, informou que, entre os serviços que realiza, a maior incidência é de avaliação para TDAH. “Noventa por cento dos casos atendidos aqui na clínica tem o diagnóstico de TDAH ou está em fase de avaliação e teste para o possível diagnóstico do transtorno”, revelou.

A neuropsicopedagoga também lembrou que é preciso paciência ao fazer essa investigação. “É importante saber que o diagnóstico não é um processo rápido. É, no mínimo, seis meses, porque vai ter que fazer vários testes, receber um relatório e depois passar para o médico, que pode ser um psiquiatra, neurologista, neuropediatra”, disse, ao completar que é possível, ainda, realizar avaliação com outros profissionais, como psicólogos.

Diante disso, Claudeni frisou o papel da família e da escola na conscientização sobre o transtorno também, para, assim, gerar mais impacto na sociedade em direção à quebra de preconceitos. “Quanto maior for a conscientização e o compartilhamento dessas informações, de forma séria sobre todo esse universo do TDAH, menor vai ser a propagação de falas capacitistas, de comportamentos que não são inclusivos, e ainda maior vai ser a chance de receber um diagnóstico precoce”, ressaltou.