Quando a poesia é música, Antônio Cícero agora é eternidade
“Enquanto o discurso oral se realiza ou se concretiza plenamente quando falado,
o discurso escrito se realiza ou se concretiza plenamente quando lido”.
Antônio Cícero
Na última quarta-feira, aos 79 anos, carioca e membro da Academia Brasileira de Letras, morreu o escritor e poeta Antônio Cícero. “Meu mundo é você quem faz, Música, letra e dança/ Tudo em você é full gás/ (…). A música fez enorme sucesso nos anos 80, interpretada pela irmã dele Marina Lima. À época, lembro cristalinamente, quis saber o autor da letra, o Antônio Cícero, agora lírica saudade.
Não por falta do que dizer, mas a Coluna de hoje apenas transcreve um dos seus textos, (Guardar) para quem principalmente tem encantamento pelas palavras:
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que pássaros sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar”.
Fases de Fazer Frases (I)
Sem as palavras o pensamento não é pensamento.
Fases de Fazer Frases (II)
Sem o pensamento as palavras nada refletem.
Fases de Fazer Frases (III)
Arte é fato, e bem mais do que artefato.
Fases de Fazer Frases (IV)
Não confundamos: Corrimão com Corra, irmão.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Nem bem ficou pronto, um ponto de ônibus próximo ao Mercadão Municipal de Campo Mourão sofreu grande dano por vandalização. Tal comportamento é apenas a prova da existência de seres anteriores ao chamado homem das cavernas.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Por mais que se diga e de fato aconteça, a chamada Festa Literária de Campo Mourão é evento muito modesto. Não se observa a estrutura e a dinâmica da cidade e da região, pois há muito mais a oferecer para o incentivo voltado para a cultura do hábito da leitura.
É preciso ações permanentes ao longo do ano e, a partir delas, tanto início, quanto em finalização, possam acontecer encontros como os anunciados.. E para públicos diversos.
Farpas e Ferpas (I)
Nem tudo que vem de uma vez, vai também de uma vez só.
Farpas e Ferpas (II)
Livros na estante não lidos nunca, só prestam as prateleiras.
Farpas e Ferpas (III)
A alusão à ilusão ilude o que alude.
Farpas e Ferpas (IV)
O analfabeto não se importa se a sopa é de letrinhas?
Sinal Amarelo (I)
Para o necessitado toda esmola é cara.
Sinal Amarelo (II)
Miséria maior é a pobreza do rico sem riso.
Trecho e Trecho
“A antiguidade do tempo é a juventude do mundo”. [Francis Bacon].
“Tudo o que você pode imaginar é real”. [Pablo Picasso].
Reminiscências em Preto e Branco – Maguila, mais popular que o box
“Boxe é só chegar lá, meter o braço e pronto. É como na vida, não tem meio-termo, se não bate apanha. Apanhei um bocado, mas bati mais do que apanhei”.
José Adílson Rodrigues dos Santos – Maguila
Todas as expressões do Maguila eram populares, retratam a essência do brasileiro, na maioria de origem humilde, modos simples de falar e viver, de caráter, personalidade, um lutador no sentido amplo e bem além do que seria apenas o ringue. Sergipano de Aracaju, morreu aos 66 anos, dia 24 de outubro.
A demência foi lhe tirando as forças físicas para viver, vítima da encefalopatia traumática crônica. O gesto nobre é a doação do cérebro para a Faculdade de Medicina da USP – Universidade de São Paulo.
Multicampeão, foi, ao lado de Éder Jofre, o maior boxeador brasileiro. A fama e o dinheiro recebido por lutar não alteraram o modo simples, o carisma familiar, com os amigos e a identidade para com o público brasileiro, que lamentou grandemente a morte dele.
Se não o maior, o box é socializador, notadamente para jovens de origem pobre, pois não é difícil encontrar um canto para treinar, a participação brasileira nos jogos olímpicos e competições internacionais, o nosso box é respeitado e temido, pois tempos excelentes lutadores. Maguila é inspiração e exemplo.
José Eugênio Maciel | [email protected]
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