‘Ele é culpado’, afirma pai de criança morta em atropelamento, responsabilizando o motorista
A dor da família da criança de apenas dois anos de idade que perdeu a vida após ser atropelada no último sábado (9), em Campo Mourão, é imensurável. É tão grande a ponto de a mãe da vítima, ainda em choque, nem conseguir falar sobre o caso. O pai da criança, de 28 anos, também abalado, atribui a responsabilidade do acidente ao motorista do veículo Ford Ka envolvido na situação. “Ele é culpado”, afirmou. A entrevista foi concedida por ele à imprensa, incluindo a TRIBUNA, na tarde desta quarta-feira (13).
Para o entrevistado, entre outros motivos que o fazem chegar a essa posição, um dos principais é o condutor estar dirigindo sem ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Uma pessoa que não é habilitada não tem que estar dirigindo, porque, qualquer risco que ela faz, é culpa dela”, disse. “Então, ele sim é culpado, não teria que ter saído”, completou. O próprio pai do menino que perdeu a vida informou que não é habilitado e que nunca pegou o carro de ninguém, pois sabe dos riscos.
Após a confirmação da morte da criança, o acusado foi preso em flagrante. No entanto, a Justiça decidiu, no domingo (10), conceder liberdade provisória ao condutor do veículo envolvido no caso. O juiz justificou não haver, nas palavras dele, “indícios da materialidade do crime” e que “os fatos revelam, em princípio, que se tratou de um infeliz acidente”. Ao ser perguntado sobre a decisão judicial, o pai concordou que o fato ‘realmente foi uma fatalidade’, mas, ainda assim, expressou não compreender a medida.
“O cara tirou a vida do meu filho, mas no outro dia ele está na rua?”, questionou-se, ao dizer que seria preciso, inclusive, aumentar a pena para quem comete atos como esse. “A lei tinha que ser mais severa com essa questão de acidente de trânsito”, desabafou. “Se fosse eu que tivesse feito esse ato, eu pediria para ficar preso”, enfatizou, ao acrescentar que não iria se perdoar nem conseguir chegar em casa e abraçar o próprio filho. O entrevistado acredita que, por também ter uma filha de dois anos, o acusado deveria demonstrar mais empatia.
Contexto
O pai da vítima informou que a família chegou ao Jardim Cidade Nova, em frente ao Parque das Torres, pouco tempo antes do acidente no local. Conforme contou, após a criança dizer que queria uma batata-frita, o pai autorizou que o filho fosse comprar, acompanhado da irmã de 10 anos. Quando as crianças estavam retornando, o irmão soltou a mão dela e se afastou em direção à rua. A menina, então, gritou: ‘Olha o carro!’.
Na câmera de segurança do estabelecimento próximo ao local em que o acidente aconteceu, não é possível ver essa cena especificamente, mas pode-se ouvir ela gritar. “Na filmagem, mostra que tem gente gritando ‘olha o carro, olha o carro’, mesmo assim, ele não parou, continuou na mesma velocidade”, alegou o pai.
O incidente não envolveu uma ‘simples batida’, sinalizou. “O meu filho foi engolido pelo carro dele, e o carro inteiro passou por cima do meu filho”, narrou, recordando-se da cena, abalado, ao dizer que, quando viu e reconheceu a roupa do menino, ele já estava na traseira do veículo, com ferimentos por todo o corpo. O acusado teria dito ao responsável pela vítima que ouviu a outra criança gritar. “Ele viu que ela gritou, eu só não entendo o motivo de ele não ter parado o carro”, falou.
O entrevistado informou, ainda, que, logo em seguida, o condutor desceu do automóvel e disse que ‘pensou ter batido em um cachorro’. O pai alegou que a família da vítima, desesperada, e populares que presenciaram a situação começaram a ‘pressionar’ o motorista para levar a criança para receber atendimento médico. “Na hora que ele desceu do carro, que ele viu que era uma criança, também ficou em estado de choque, que ele falou ‘achei que era um cachorro’. Aí todo mundo meio que entrou na pressão nele para levar para o hospital”, salientou.
No vídeo, também é possível ver que havia um veículo estacionado na contramão, com o farol ligado. O pai da criança disse desconhecer de quem era o automóvel e o motivo de estar parado naquele lugar. Ele avaliou apenas que seria necessário ter maior sinalização naquele local, ao afirmar que, embora não fosse ‘tão correta’, tinha sinalização e é preciso respeitá-la
Em momento algum, o pai falou explicitamente que a família teria qualquer tipo de responsabilidade sobre a fatalidade. Em determinado momento, porém, ele deixou um recado a outros pais. “Pelo amor de Deus, pais, não deixem seus filhos ficarem correndo para lá e para cá, dobrem a atenção, procurem levar os seus filhos para o lugar mais preservado possível”, aconselhou, com a voz embargada.
Depois da lamentável notícia de que o filho não resistiu aos ferimentos e acabou falecendo no hospital, o pai da vítima e o acusado não teriam mais feito contato. “Não foram desferidas palavras de nenhuma das partes”, informou. Apesar de atribuir a culpa ao motorista, o entrevistado não deseja o mal a ele, mas quer justiça. “Eu não quero nada de mal, eu quero que Deus resolva isso, que a justiça seja feita, porque meu filho não vai voltar mais”, clamou.
Destino da família da vítima
A família, que não é de Campo Mourão, planeja retornar para a cidade de origem, no estado de Minas Gerais, porque não tem mais condições de ficar aqui. “Onde vai tem lembranças dele”, falou entristecido. “A gente não pretende mais ficar aqui. Eu cheguei com uma esperança de vida nova para a minha família e estou indo embora deixando o meu coração para trás”, desabafou.
Ele revelou que o filho adorava carros. “Todo dia, eu saía para trabalhar, ele falava: ‘papai, vai trabalhar para comprar carro?’, porque era o que ele mais amava, aí vai um carro acabar tirando a vida dele”, contou, indignado. Desolada, toda a família está procurando tratamento psicológico, incluindo a irmã da vítima, que está traumatizada com a situação. “Já tive muita perda na minha vida, mas igual essa não”, falou o pai, ao acrescentar que colocou tudo nas mãos de Deus.