Associação Sou Arte: os bastidores do projeto Campo Mourão Cidade Natal
A cada ano, a magia do Natal vem encantando a população do município de Campo Mourão e visitantes. Um dos grandes responsáveis por isso é a Associação Sou Arte (ASA), entidade social vinculada à empresa Espaço Sou Arte, genuinamente mourãoense. A associação coordena e executa o projeto “Atividades Culturais Campo Mourão Cidade Natal”, realizado no município desde 2017.
Por isso, enquanto para a maioria das pessoas o Natal acontece apenas em dezembro, para a equipe da ASA, o “espírito natalino” permeia o ano todo. “Para a Sou Arte, é Natal todos os dias”, sinalizou Edilaine Maria de Castro, produtora-executiva da iniciativa.
Considerando a grandiosidade do projeto e a imensa gama de demandas envolvidas em sua realização – desde as atrações e ambientações até as pessoas envolvidas, materiais e tudo o que é essencial para proporcionar o encantamento do público e a magia desta época – a TRIBUNA traz, nesta reportagem, um olhar sobre os principais “bastidores” do Campo Mourão Cidade Natal.
Para se ter ideia, mais de 650 pessoas trabalharam diretamente em diferentes etapas do processo neste ano. Elas integram tanto equipe técnica quanto artística – que, como sinalizou Edilaine, muitas vezes, se fundem. Aliás, ela iniciou logo enfatizando a importância de todas as “mãos” que atuam para atender satisfatoriamente a todas as inúmeras demandas.
“São costureiras que passam a noite costurando, eletricistas que ficaram noites e noites trabalhando de madrugada para conseguir entregar os serviços”, citou alguns dos incontáveis exemplos de atuação em todas as atividades propostas.
Um projeto desse porte requer um investimento significativo. Nesta edição, o valor total investido foi de aproximadamente R$ 2,1 milhões, conforme repassado pelo setor financeiro da ASA. A realização é do Ministério da Cultura – Governo Federal –, por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
Apoio
O projeto de Natal da ASA em Campo Mourão é uma realização da Lei de Incentivo à Cultura, por meio do Ministério da Cultura – Governo Federal. Também recebe o apoio da prefeitura municipal, por meio de todas as secretarias, que auxiliam na parte estrutural e de organização das praças nos bairros da cidade que receberam ambientação, por exemplo.
“A prefeitura nos ajuda de uma forma brilhante, e todas as secretarias de alguma forma nos apoiam com algo”, falou Edilaine, agradecida. Outro apoio considerado fundamental por ela vem dos patrocínios. “Não existe o Natal se não tiver os patrocínios”, ressaltou.
Este ano, eles são: Coamo Agroindustrial Cooperativa, Grupo Fertipar, Sanepar, Copel, Supermercados Condor, Paraná Supermercados, Itaipu Engenharia, Fomento Paraná, Beontag, Grupo Integrado, Unimed Regional Campo Mourão e Planti Center. Recebe, ainda, apoio do Governo do Estado/Secretaria de Turismo, da Associação Comercial e Industrial (Acicam) e do Sindicato Empresarial do Comércio (Sindiempresarial).
Etapas para a execução do projeto
O início dos preparativos para o projeto de Natal em Campo Mourão não é de três ou seis meses. Vai muito além disso. Quando um período natalino se encerra, logo já começam a se estruturar as ideias para o Natal do próximo ano. É isso mesmo! Os trabalhos que envolvem a produção das Atividades Culturais Campo Mourão Cidade Natal começam um ano antes da sua realização.
Mas não é colocando a “mão na massa”, com a parte prática, especificamente. Antes disso, é necessário cumprir requisitos mais técnicos e burocráticos, como a elaboração do projeto para aprovação do Ministério da Cultura e levantamento de orçamentos para a produção das ações propostas. Nessa etapa, pelo menos, seis pessoas da equipe de criação se envolvem, geralmente as responsáveis pela coordenação da iniciativa.
Em seguida, o documento é encaminhado ao Ministério da Cultura, para passar por avaliação. Após ser aprovado, inicia-se a etapa de captação de recursos. “Essa captação de recursos vai desde o projeto aprovado até quase o final dele”, explicou Edilaine.
Depois de garantidos, pelo menos, 20% do valor total orçado para o projeto, inicia-se a fase de execução, de fato, começando a colocar em prática as ações propostas. “A gente sonha grande, depois realiza de acordo com orçamento”, informou.
Execução
A implementação da proposta das atividades deste ano iniciou, conforme situou a produtora-executiva, entre os meses de maio e junho. “Foi quando nós trouxemos os carnavalescos, a equipe de direção artística do Rio de Janeiro, que nos ajudou a pensar na proposta de ambientação das praças, dos carros alegóricos e, ainda, de algumas alas e destaques”, comentou Edilaine.
Também participaram desse momento de montagem dos chamados croquis equipes de artistas mourãoenses, para possibilitar uma linguagem mais próxima à cultura local. Tudo isso exige verbas.
“Quando a gente começa a elaborar, a trabalhar e a executar, precisa ter parte do recurso em caixa para que possamos efetivamente ir fechando os contratos e todo o processo de criação”, informou, ao acrescentar que não só a etapa de execução tem custo, mas as de planejamento e criação também. “Isso precisa fazer muito antes da realização das atividades, do dia do cortejo ou dos espetáculos”, completou.
Cortejo Natalino: figurinos, coreografias e participantes
Um dos momentos mais aguardados pelo público mourãoense é o Cortejo Natalino. Conforme Edilaine, essa é a parte mais desafiadora de todo o projeto. Isso porque, além de envolver muitos materiais, adereços, produtos e consequentemente mão de obra especializada para desenvolver os serviços, é a que reúne o maior número de pessoas envolvidas também. Toda essa etapa é realizada, pelo menos, seis meses antes do espetáculo de rua.
Neste ano, foram aproximadamente 800 artistas que participaram do Cortejo, divididos em 100 alas, além de cerca de 25 carros alegóricos. Na edição deste ano do projeto, esse evento, que aconteceria no domingo, como nos anos anteriores, precisou ser transferido para uma quarta-feira (no último dia 12), devido às condições climáticas.
Edilaine comentou que o resultado foi ainda mais expressivo, superando todas as expectativas, com um público de mais de 10 mil pessoas. “Nós não tivemos um artista famoso para atrair a grande quantidade de público, são os artistas locais sendo prestigiados, isso é uma alegria, uma satisfação imensurável”, expressou.
Mas, para que tudo acontecesse de forma impecável, a produção foi essencial. Para os ajustes e confecções de novos figurinos, por exemplo, foram contratados cinco ateliês da cidade. Desta vez, Edilaine comentou que foram criados aproximadamente 200 figurinos, somados a uma quantidade média de 400 das edições anteriores. Alguns também são oriundos do Rio de Janeiro.
Os artistas participantes foram bastante diversificados. Entre eles, 200 foram contratados. O restante foram alunos de colégios estaduais do município, alunos do Espaço Sou Arte e de projetos sociais da ASA, grupos convidados de companhias de dança locais e outros.
Os dez coreógrafos profissionais contratados também trouxeram suas companhias e grupos diversificados com os quais eles têm contato. “Isso dá uma oxigenação de variação de idades e de lugares, fazendo com que toda a cidade participe de uma forma geral”, falou.
O preparo para os ensaios exigiu muita responsabilidade e disciplina de todo esse pessoal, que se dedicou por meses para chegar ao resultado final. A base para todos foi uma música montada por artistas do Espaço Sou Arte, recebida pelos grupos. “Este ano, nós tivemos a letra da música de Fábio Santos e Fernando Vinhote”, disse. “Então, cada coreógrafo faz uma releitura dessa coreografia, de acordo com o adereço de mão que a sua ala traz e também com a realidade técnica de cada grupo”, acrescentou.
Inspirações
Desenvolver um projeto com tamanha grandiosidade, com tanta riqueza de detalhes, exige muitas ideias e criatividade. Ao ser perguntada pela equipe de reportagem da TRIBUNA sobre quais são as inspirações para que a magia do Natal aconteça a partir da iniciativa, Edilaine foi enfática e pontual. “A gente escuta muito os desejos das crianças”, disse.
Essa é a “mola propulsora”, pois, segundo ela, o objetivo da ASA é se orientar no universo mágico para fazer tudo acontecer, já que a equipe considera que é nesse lugar que mora o encantamento. Apesar de essa ser uma das principais inspirações, não é a única. “A parte religiosa também, porque é o que nos move”, sinalizou, ao considerar que a data comemorativa do Natal tem suas raízes nos princípios religiosos, já que simboliza o aniversário do Menino Jesus.
Desafios versus satisfações
Um dos principais desafios e uma das satisfações do projeto Atividades Culturais Campo Mourão Cidade Natal tem “duas faces de uma mesma moeda”, por assim dizer: a questão orçamentária. A produtora-executiva da iniciativa elucidou que isso é um desafio considerando que, muito antes de se saber o investimento total que o projeto terá, os trabalhos já precisam iniciar.
“O ideal seria que a gente conseguisse captar e depois realizar, porque a segurança nos daria mais tranquilidade para negociar”, informou. Ao mesmo tempo, ela também entende que os patrocinadores precisam fechar o seu ano contábil, para saber quanto vai ter para fazer o aporte ao projeto.
Outra dificuldade que a ASA vem tentando superar a cada ano é a falta de mão de obra especializada no município para executar alguns serviços. Por exemplo, para a construção dos carros alegóricos. “Nós em Campo Mourão não temos a tradição de carros alegóricos, figurinos específicos, como os de destaque. O projeto está profissionalizando essa mão de obra para esse mercado”, informou, ao dizer que a preferência é sempre pela contratação de profissionais e serviços, assim como compra de materiais, de Campo Mourão.
Voltando à questão orçamentária, no que se refere a uma das maiores satisfações, é quando os organizadores veem que conseguiram pagar as contas quando o projeto chega ao fim. Mas o ponto alto de todo o trabalho, de acordo com Edilaine, é nos momentos de abertura oficial da iniciativa e no cortejo, quando reúne o maior número de pessoas prestigiando o esforço, a dedicação e o amor de todos os envolvidos.
“O maior sentimento do dever cumprido é ver a nossa praça lotada e as pessoas esperando o Papai Noel, os olhos brilhantes das crianças, as famílias reunidas em confraternização”, revelou, acrescentando também a surpreendente participação do público no Cortejo de Natal deste ano.