Conflito entre indígenas continua sem solução
Desde o último dia 4, após o conflito entre duas aldeias indígenas de Manoel Ribas e Pitanga, a prefeitura de Pitanga vem tentando fazer a mediação na tentativa de paz entre seus integrantes. Mas não está sendo fácil. Ontem, foram realizadas duas reuniões com a presença dos consecutivos prefeitos, do Coordenador Regional da FUNAI, do representante do Conselho Estadual dos Povos Indígenas e da Polícia Militar.
O primeiro encontro aconteceu na parte da manhã, dentro da Aldeia do Ivaí, em Manoel Ribas. Já a segunda, na prefeitura de Pitanga com representantes da Aldeia da Serrinha. Durante as reuniões, embora se tenha alcançado progresso no diálogo com os indígenas, de ambas comunidades, não foi possível a obtenção de uma solução definitiva ao conflito. Em suma, a situação ainda segue indefinida.
O que aconteceu
No último sábado, pela manhã, cerca de 150 integrantes da Aldeia Ivaí, de Manoel Ribas, “marcharam” até a Aldeia da Serrinha, em Pitanga. Lá, o que seria para ser apenas uma conversa entre os dois caciques, terminou em uma batalha violenta. Pelo menos quatro caingangues foram baleados. Todas as casas, em madeira, incendiadas. Carros e motos queimados. Se isso não fosse o bastante, a ação resultou ainda com animais carbonizados.
Todos os quase 400 membros da aldeia da Serrinha pertenciam até um ano, à aldeia Ivaí. No entanto, não aceitando o modo como o cacique coordenava a tribo, decidiram abandonar o local, se tornando uma espécie de dissidentes, fundando no lado oposto das suas terras – em Pitanga -, uma nova aldeia. Desde então, o convívio sempre foi crítico e, de certo modo, tenso. “O cacique da Ivaí jamais aceitou a divisão de terras. São quase 8 mil hectares que, agora, passaram a ser repartidos, não oficialmente”, explicou o prefeito de Pitanga, Dirceu Moraes (MDB).
De acordo com os próprios indígenas, a eclosão do conflito aconteceu na noite anterior ao ataque. Integrantes das duas aldeias teriam se encontrado em um posto de combustíveis de Manoel Ribas. Lá, uma discussão. Depois, uma briga. Com alguns indígenas da Ivaí bastante machucados, a aldeia decidiu se vingar na manhã seguinte. E a vingança foi como a um filme de terror.
“Eu estava ao lado do Valmir. Não tivemos tempo para conversar. Quando vi, já haviam atirado nele. Então eu virei para correr e uma bala atingiu minha nuca de raspão”, disse Sérgio, 39 anos, sobrinho do cacique Valmir. O irmão do cacique, Ademir, também é um dos feridos, e continua hospitalizado. Sérgio disse não ter visto o autor dos disparos.
Com o início do tiroteio, praticamente, todos os 400 indígenas da Serrinha, incluindo mulheres e crianças, correram para se esconder no mato e nas plantações próximas. Enquanto os feridos permaneceram caídos assistindo a barbárie que viria a seguir. Munidos com muita gasolina, integrantes da aldeia rival atearam fogo em todas as casas, as destruindo por completo. Nem mesmo alimentos foram poupados. Em alguns casos, casas foram incendiadas com pessoas dentro. Uma mulher foi vítima de queimaduras.
A prefeitura de Pitanga continua ajudando a aldeia da Serrinha. Os membros estão morando provisoriamente em uma escola rural do município. E continuam sendo assistidos com colchões e alimentos.