“Acumuladores” geram problemas de saúde pública em Campo Mourão
A prefeitura de Campo Mourão iniciou nesta terça-feira (04) uma força-tarefa que envolveu quatro secretarias para resolver um problema de saúde pública em um imóvel no Conjunto Fortunato Perdoncini. A ação é resultado de uma recomendação do Ministério Público, após várias denúncias de vizinhos.
A casa pertencia a um homem idoso que morava sozinho e morreu na semana passada vítima de câncer. Ele era considerado um “acumulador”. Segundo a Vigilância Sanitária, assim como ele existem mais de 10 pessoas acumuladoras na cidade e que geralmente causam o mesmo tipo de problema.
A casa do idoso se tornou um depósito de todo tipo de material, desde objetos recicláveis, móveis velhos e até lixo. Vários cães e gatos também moravam com ele dentro da casa, no meio da “bagunça”. Os animais estão sendo resgatados pela Associação de Proteção dos Animais (PAIS). A força-tarefa da prefeitura envolveu as secretarias de Saúde, Ação Social, Obras e Serviços Públicos e Agricultura e Meio Ambiente.
“Conseguimos localizar alguns familiares dele, que acompanharam a limpeza e vão ficar responsáveis pela casa”, informou o chefe da Vigilância em Saúde, Carlos Bezerra. Segundo ele, só nesta terça-feira foram retirados dois caminhões de materiais e o trabalho vai até amanhã. “Vai dar mais uns dois caminhões”, prevê.
Ele afirma que o local era constantemente visitado por agentes de endemias e também por assistentes sociais. “O morador enfrentava vários problemas de saúde, inclusive psicológicos e não atendia as orientações dos servidores. Foram feitas diversas visitas e atendimentos. Quando a Ação Social estava conseguindo fazer o encaminhamento para o Lar dos Idosos ele faleceu”, relata.
No trabalho de campo, os agentes de endemias identificaram vários outros casos na cidade de pessoas que acumulam coisas e dão trabalho aos órgãos públicos. “No ano passado tiramos uns dois caminhões de lixo acumulados no quintal de uma senhora depois de várias notificações e orientações por conta de focos de dengue. Ela voltou a acumular e este ano a casa dela já está quase do mesmo jeito”, revela a coordenadora de campo, Marinalva Ferreira da Luz.
Doença
Especialistas do comportamento humano dizem que os acumuladores compulsivos são pessoas que têm uma grande dificuldade em descartar ou deixar seus pertences, mesmo que já não tenham qualquer utilidade. “Pode estar associado a algum trauma em relação a perdas que faz com que a pessoa crie outras formas de suprir. Por não saber lidar com as perdas vai tentando encontrar respostas em objetos, ao ponto de se apegar”, explica o psicólogo e professor Frank Duarte.
O acumulador, segundo ele, encontra significado nas coisas que acumula, criando sentimentos de carinho e afeto. “Jogar fora esse objeto é viver outra dor. Eles não conseguem ver o lado ruim e nos casos mais graves acaba gerando até mesmo problema de saúde pública”, acrescenta. O tratamento para essa doença, segundo ele, envolve terapia e medicação.
A psicóloga clínica Ane Carolina Janiro alerta que o foco de felicidade do acumulador se volta para tudo aquilo que pode ter e não para o que pode ser. “E isso tem se manifestado cada vez mais cedo na vida de todos. Olhar com cuidado para nosso comportamento enquanto consumidores é, sem dúvida, uma forma de prevenção ao Acúmulo Compulsivo”, adverte a psicóloga.