Após 4 meses do acidente que tirou a vida de Anthony, família segue pedindo justiça

Passados 4 meses do acidente automobilístico que tirou a vida do adolescente Anthony Pietro, de 14 anos, que era morador de Araruna, a família, amigos e apoiadores seguem clamando por justiça. Isso porque, conforme os pais da vítima, a condutora da BMW, de 77 anos, que provocou o acidente continua ‘impune’.

Desde o dia 24 de novembro de 2024, Luiz Tiago Rosa e Natielle Marçal Fanti Rosa, pais da vítima, estão vivendo com a tristeza de não ter mais o filho ao seu lado. “Cada dia que passa, é mais difícil para nós”, falou o pai, entristecido. Mas ele enfatizou que estão comprometidos em buscar justiça utilizando todos os meios legais disponíveis no Brasil, se necessário. “A gente vai para São Paulo, para Brasília, para onde for preciso. Nós não vamos desistir. Só queremos justiça”, afirmou o pai.

Até o momento, o inquérito policial apontou que a motorista estava embriagada e com a carteira de habilitação suspensa. Com isso, ela foi indiciada pelos crimes de homicídio doloso, com dolo eventual, lesão corporal agravada, condução sob efeito de álcool e por dirigir com carteira de habilitação suspensa. Apesar disso, a acusada está em prisão domiciliar em Curitiba – fora da Comarca de Campo Mourão, cidade em que ela reside – com autorização legal para tratamento médico devido a um ferimento na perna causado pelo acidente.

O que mais revolta os pais de Anthony é o fato de a mulher não estar sendo monitorada, como seria o esperado, por tornozeleira eletrônica, sem nenhuma justificativa aparente. “Eu me pergunto: por que essa senhora está solta, em prisão domiciliar, assistindo uma Netflix, comendo uma pipoca, talvez tomando a sua cervejinha, em Curitiba, em uma vida tranquila, sem tornozeleira?”, questionou, revoltado, o pai de Anthony.

Natielle acrescentou que existem outras alternativas legais para que a acusada cumpra os crimes pelos quais já foi indiciada. “A gente sabe muito bem que hoje tem o CMP, que é o Complexo Médico Penal, e também tem o uso da tornozeleira. Então, a gente quer saber o porquê ela não pode usufruir dessas duas opções”, contestou. O Código de Processo Penal brasileiro assegura a possibilidade de o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar para pessoas maiores de 80 anos. Esse fato torna ainda mais urgente para a família uma resposta do judiciário.

De acordo com a advogada da família, Tatiani Bertolucci, o processo continua parado no momento. “Estamos aguardando o laudo do módulo da BMW ficar pronto”, informou a advogada à TRIBUNA. Por meio desse documento, será possível saber a velocidade que o carro de luxo estava no momento da colisão. Apesar de ter elementos suficientes para a idosa ir a júri popular, o Ministério Público aguarda o resultado desse laudo para inserir no processo e apresentar a denúncia.

A equipe de reportagem também entrou em contato com o advogado de defesa da acusada, Robervani Pierin do Prado, mas ele disse que não vai comentar sobre o caso até o término da investigação. “O inquérito tramita em segredo de justiça, então, detalhes sobre o fato não podem ser fornecidos. Aguardamos a finalização da investigação que prossegue normalmente”, declarou o advogado.

Uma nova manifestação deverá ser realizada pela família, amigos e apoiadores após o laudo do módulo da BMW ficar pronto – Foto: João Silvestrin/Tribuna do Interior

Comoção social

Toda a situação tem gerado grande comoção social, não apenas entre os conhecidos de Anthony, mas também entre a população em geral, incluindo pessoas de outras localidades. “Não é só eu, a Natielle ou os familiares que estamos cobrando explicações, a população em geral”, afirmou Luiz, comentando que, sempre que ele vai a algum lugar com a camiseta estampada com o pedido de justiça pela vida de Anthony, pessoas que ele sequer conhece demonstram indignação com o andamento do caso.

Dois manifestos em frente ao Fórum de Justiça da Comarca de Campo Mourão já foram realizados, com o número de participantes variando entre 100 e 150 pessoas. Uma nova manifestação está sendo programada, mas, conforme salientou Natielle, ocorrerá após a divulgação do laudo da BMW. Segundo informações da Polícia Civil obtidas pela família, o parecer deverá ficar pronto nas próximas semanas.

Repercussão em nível nacional

A espera pelo julgamento da condutora envolvida no acidente que tirou a vida do adolescente Anthony já vem repercutindo, inclusive, em nível nacional. Após tomar conhecimento do caso, o deputado federal Sargento Fauhr (PSD) comentou a situação durante a sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, em Brasília, nesta semana.

Na ocasião, ele descreveu os fatos e o andamento da investigação. “Eles [pais] estão preocupados, porque daqui três anos ela [acusada] completa oitenta anos e se for condenada não poderá ser presa”, falou, disse, com o objetivo de incentivar a criação de projetos para uma intervenção mais rápida e justa em casos como esse no país. “Pode ter certeza que eu sinto muita dor por fatos dessa natureza e pela impunidade que nós vemos no Brasil. Luto contra isso já há bastante tempo”, enfatizou o parlamentar em um áudio enviado à família recentemente.

O acidente

O grave acidente que ceifou a vida do adolescente de 14 anos no dia 24 de novembro de 2024, na rodovia PR-558, aconteceu quando ele retornava de Campo Mourão a Araruna com seu pai, em um veículo VW Virtus, após o jovem realizar uma prova na UTFPR. Em frente ao acesso à Vila Rural Flor do Campo, em Campo Mourão, uma idosa de 77 anos que conduzia uma BMW colidiu com o Virtus. Com a violência do impacto, o adolescente, que estava no banco do passageiro, acabou ficando preso às ferragens, não resistindo aos ferimentos e morrendo no local.

Após trabalhos de investigação da Polícia Civil do Paraná, a análise pericial indicou que o carro de luxo conduzido pela idosa estava em alta velocidade no momento do acidente. Além disso, de acordo com o laudo, não houve marcas de frenagem no local da colisão, o que apontou ausência de reação da condutora.

Com o impacto da batida, partes da BMW, incluindo peças do motor e do câmbio, foram ejetadas do automóvel e se espalharam pela rodovia. O inquérito concluiu, ainda, que a idosa estava embriagada quando o fato aconteceu. A constatação veio do laudo médico do Hospital Santa Casa e do depoimento de testemunhas, incluindo um policial civil que atendeu a ocorrência. Ele afirmou que a motorista apresentava “odor etílico e comportamento alterado”.

As investigações junto ao Detran também comprovaram que a investigada não tinha permissão para dirigir, pois estava com a CNH suspensa até 2025. Conforme os documentos incluídos nos autos dos processos, a suspensão foi aplicada em razão da reincidência e do acúmulo de infrações de trânsito consideradas graves e gravíssimas, assim como de excesso de velocidade e direção perigosa.