Após confessar assassinato da nora, Valdir é condenado a 14 anos de prisão
Valdir Mendes Gomes foi condenado hoje a 14 anos e três meses de prisão pela morte da nora, Patrícia Kauane, de 16 anos. O crime aconteceu em novembro de 2020, no Jardim Tropical 2, em Campo Mourão. Após o crime, ele fugiu com rumo incerto, sendo encontrado pela polícia, em Iretama, quase três anos depois. Durante o júri popular, Valdir confessou o feminicídio e disse se arrepender do que fez.
Antes do assassinato, a família de Patrícia já a aconselhava a deixar o teto, o qual convivia com o sogro. Eram muitos conflitos. Brigas banais. Discussões por nada. Mas naquele dia, as previsões se confirmaram. A menina de 16 anos foi brutalmente assassinada. Ela estava em casa, na Rua dos Encontros. Nome bastante sugestivo ao prenúncio da tragédia que poderia acontecer. E aconteceu.
Naquela tarde, Valdir chegou da rua. Uma discussão acalorada iniciou. Descontrolado, apanhou um facão e a matou em frente à filha dela. Mesmo com dois anos, a criança correu até uma vizinha pedir ajuda. Tinha no corpo respingos de sangue da própria mãe. O socorro era em vão. Patrícia já estava morta. E, Valdir, já havia fugido. Teve a alma condenada e desapareceu no mundo.
Patrícia Kauane Santos de Mello, era uma menina sonhadora. Engravidou aos 14 anos no interior de São Paulo. Morava com a mãe biológica. Mas a gravidez não foi compreendida pela genitora. Contam familiares que foi “convidada” a deixar a casa. Então, voltou a Campo Mourão. Morando com o pai, teve ajuda, apoio e carinho. Aos 15, a filha nasceu. Meses depois, já havia encontrado Diogo. Seu companheiro e pai adotivo da criança. “Ele era muito bom para ela e para a criança”, contou na época, Hermínia Camargo dos Santos – que entrará na história logo mais.
A moça passou a morar sob o teto de Valdir, pai de Diogo. Ele tinha uma residência no Jardim Tropical 2, em Campo Mourão. Era ali onde Patrícia, o esposo e a filha, ocupavam um dos quartos. Contaram os mais próximos que ela não se dava com o sogro. Quase todos os dias, uma briga. Naquela dia, Patrícia lavava roupas. Era fim de tarde. Ao seu lado, a filha, que brincava. E a cunhada, Andriele. Conversavam à toa quando Valdir chegou. Sem motivo algum, a briga teve início.
“Ele disse a ela que não precisava dela. Ela devolveu e disse também não precisar dele”, revelou Andriele, na época dos fatos. Para ela, foi uma discussão à toa. Sem motivos aparentes. Mas que passou a ficar sem controle. Bastante nervoso, Valdir apanhou um facão e a atacou. Patrícia, segundo a polícia, havia apanhado um machado para se defender. Mesmo assim, teve braços e pernas cortados. O sangue atingiu até a filha, que correu assustada.
Patrícia também tentou escapar. Mas foi alcançada ainda no quintal, e derrubada. Impiedosamente, o homem terminou o que havia começado. Com um dos pés sobre o seu corpo, a golpeou, agora, no pescoço. Consciente do que fez, levou o facão e sumiu numa boca de mato próxima a casa. Nunca mais foi visto, até fevereiro de 2023, quando a polícia o capturou.
Assustada, a filha de dois anos correu até a vizinha e clamou ajuda. “Ela chegou tremendo. Tinha sangue no corpo. Estava nua. Disse que o seu avô estava matando a sua mamãe”, revelou uma vizinha. A menina foi assistida pelo Conselho Tutelar. E, mais adiante, internada em um lar provisório.
Hermínia entrou na história de Patrícia anos antes de sua morte. Ela se casou com o pai da adolescente, ainda quando ainda era um bebê. Então, o novo casal passou a criá-la. “Ela era como se fosse minha filha de sangue. Eu a criei com muito carinho e amor. Era minha menininha”, disse em 2020.
A mãe de coração explicou que a vida de Patrícia nunca foi fácil. Tinha o sonho de ter a própria casa, ao lado do companheiro e da filha. Mas, enquanto não conseguia, se submeteu ao teto do sogro. E isso, a afligia demais.
“Ela sempre reclamava do sogro. Dizia que ele pedia que ela deixasse a casa. Jogava na cara dela que ali não era a sua residência”, contou Hermínia. Então os conselhos eram para que saísse do local. E se afastasse do homem. “Aconselhamos ela diversas vezes. Minha outra filha disse a ela: Saia de lá antes que esse cara mate você”. E Patrícia a ouviu.
Alguns meses antes da tragédia, cansada dos conflitos, Patrícia apanhou a filha e suas coisas e deixou a casa. Diogo foi junto. Alugaram uma casa por apenas dois meses. Mas, como a grana era curta, decidiram retornar sob o teto de Valdir. Lá, as brigas com o sogro continuaram.
Dias depois, novamente, deixou o local e o próprio companheiro. Disse ir embora ao interior de São Paulo. Não queria mais conflitos em sua vida. Antes, ficou na casa de Hermínia. Em seguida, buscou o colo do pai. Bem no fim, acabou reatando com Diogo. E acabaram voltando a Rua dos Encontros. Local onde teria, efetivamente, um “encontro” com a morte.
Hermínia ficou chocada com o que aconteceu. Emocionada, chorou por algumas vezes durante a entrevista. “É muito triste você criar uma pessoa com tanto amor. E depois ver um homem tirar sua vida como ele fez”, disse. Para ela, Patrícia era uma pessoa maravilhosa. Cheia de sonhos. Era estudiosa e sempre buscou a Deus. A moça também batalhava ao lado de Diogo. Por inúmeras vezes deixou a filha para fazer jardinagens com o companheiro.
Meses antes do crime, Diogo passou a trabalhar na construção civil. Então, coube a companheira ficar em casa, ajudar nas tarefas do lar. Mas a ideia não foi tão boa. Os conflitos com Valdir só aumentaram. “Patrícia me dizia que o sogro a chamava de vagabunda. Dizia não ser mulher para o filho dele. Isso mexia muito com ela”, lembrou.
Bem no fim, todos os conselhos dados a moça, não foram ouvidos ao pé da letra. Ela não voltará. “Patrícia dizia que queria voltar a ser amiga de sua mãe. Deixar pra trás as coisas que aconteceram”, lembrou a cunhada. Mas não houve tempo para isso. Agora, o que restava aos familiares, era justiça.
Valdir
Valdir, segundo informações, não bebia. Até então, era tido como um homem batalhador. Carpia uma roça aqui. Outra ali. Regularmente, vendia verduras pela rua. Era o típico brasileiro que recebia hoje, pra comer amanhã. Pelo que se sabe, não tinha histórico nas fichas criminais da polícia. No entanto, tinha sim, temperamento explosivo. Nem sempre, é verdade. Mas o nervosismo era habitual.
A família vem de tragédias na década de 90. Um irmão de Valdir tinha 19 anos quando foi preso, em 1998. Na época, confessou ter matado o próprio pai, Olivério Trizote Gomes, 64, em 13 de maio de 1998. O pai morreu pela manhã, quando tirava leite das vacas de sua chácara, também no Jardim Tropical 2. Levou um tiro no braço, várias pauladas na cabeça e facadas diversas pelo corpo. Como no caso de Patrícia, um crime familiar. Brutal. E sem vestígios de piedade.
Na ocasião, revelou ter matado o pai porque ele era muito ruim aos filhos. O irmão também desconfiava que sua mãe, Geraldina Mendes Gomes, tinha sido morta por seu pai. O fato aconteceu em setembro de 1997. A reportagem não obteve dados sobre o caso.
Anos mais tarde, em 2012, o mesmo irmão, aos 33 anos, foi morto no portão da sua residência, também em Campo Mourão. O crime aconteceu na manhã de um domingo. Ele tomava café com a família, quando duas pessoas, em uma motocicleta, chegaram ao portão e o chamaram. Ao atender, foi surpreendido por um dos motociclistas, que efetuou vários disparos contra o seu corpo. Os tiros foram a queima roupa e atingiram o rosto, tórax, abdômen e o braço. No corpo foram identificadas sete perfurações.
Defesa
Advogado de Valdir, Pedro Ricardo Camargo revelou que já sabia que teria um júri bastante difícil pela frente. Ainda mais com a acusação de feminicídio e uma qualificadora do feminicídio, além de meio cruel. “Sustentamos a tese de homicídio privilegiado, já que teria agido após injusta provocação da vítima. No final a pena deu 14,3 anos. Mas por ser um feminicídio, acreditamos que a condenação foi justa”, disse.
Após a leitura da sentença, Valdir se sentiu mal. E foi levado para atendimento médico através do Samu. Após ter melhora do quadro, seguirá preso na cadeia de Guaíra.