Casal com tuberculose está isolado na Casa de Passagem

Um casal com tuberculose, recém chegado de São Paulo, está abrigado na Casa de Passagem de Campo Mourão. Munidos de exames e remédios, os dois estão isolados na ala feminina da entidade. Embora alojados e distantes do frio, a situação é preocupante. Principalmente, pelos riscos de contaminação dos demais “passageiros” e, consequentemente, aos freis responsáveis pelo abrigo.

“Ainda não sabemos o que fazer. Os isolamos dos demais. Mas aguardamos uma resposta do município em como proceder”, explicou o Frei Galileu, coordenador da entidade. O casal relata que já passou pelo Serviço de Ambulatório Especializado (SAE). Lá, foram medicados e liberados. “Disseram pra gente tomar os remédios, usar a máscara e ficar isolados”, disse o homem, de 32 anos. No entanto, sem um teto, retornaram à Casa de Passagem.

Eles contam que viviam, até duas semanas, garimpando materiais recicláveis no centro da grande São Paulo. Lá, moravam num abrigo. E foi quando conheceram outro casal, de Campo Mourão. “Há alguns meses eles voltaram pra cá. E nos ligaram dizendo que aqui, teríamos emprego. Então compramos passagem e chegamos dia 21 de julho. Mas deu tudo errado. Nos deixaram aqui na Casa de Passagem e nunca mais os vimos”, disse. O casal vem tomando a medicação contra a tuberculose há dez dias.

Frei Galileu explica que a preocupação é ainda maior com a mulher, de 38. Tossindo constantemente, ela ainda necessita de um medicamento chamado Haldol Decanoato, cujo objetivo é evitar convulsões. “Ela está sem essa medicação já, há um mês. Tenho medo que as convulsões voltem”, disse o marido.

De acordo com o médico infectologista Rodolfo Poliseli, como os dois vêm tomando o medicamento apenas há dez dias, ainda podem contaminar outras pessoas. “Pacientes descritos com a doença e que venham tomando o remédio há 15 dias, ininterruptamente, não transmitem mais o bacilo”, explicou. De acordo com ele, como o casal não têm para onde ir, o correto é continuarem isolados. “É importante que todo o material que utilizem não seja compartilhado com ninguém”, disse. Ele também sugere que o município realize exames em outros “passageiros” a fim de identificar uma possível contaminação do bacilo.

Tuberculose

A tuberculose tem cura e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a meta é erradicá-la do planeta até 2030. Trata-se de uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos. Ela é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. Segundo dados, mais de 10 milhões de pessoas são infectadas pelo bacilo no mundo, fazendo cerca de 1,5 milhão de vítimas por ano.

No Brasil, a doença é um sério problema de saúde pública, com profundas raízes sociais. A epidemia do HIV e a presença de bacilos resistentes tornam o cenário ainda mais complexo. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose.

A doença se instala a partir da inalação de aerossóis oriundos das vias aéreas, durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com tuberculose ativa, que lançam no ar partículas em forma de aerossóis contendo bacilos. Estudos mostram que em um ano, em uma comunidade, um indivíduo positivo possa infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.

No entanto, com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias de medicação, ela se encontra muito reduzida. Bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos, talheres e outros objetos dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não têm papel importante na transmissão da doença.

O tratamento para tuberculose é disponibilizado pela rede SUS nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e em centros de referência e indicado após avaliação, exames e confirmação do diagnóstico. Ele é composto por quatro comprimidos matinais, que precisam ser tomados regularmente, em jejum, por seis meses. Em casos mais graves a medicação é injetável. O tratamento deve ser ainda iniciado o mais rápido possível e seguido até o final. Além do tratamento medicamentoso, a vacina BCG, aplicada nos primeiros meses de vida dos bebês, também é utilizada como forma de prevenção.