Casal de Campo Mourão está entre prejudicados por empresa suspeita de golpes
Desde o último final de semana, o casal Danila Nascimento de Lima, de 29 anos, e Guilherme Teodoro Conceição da Silva, de 28, vem passando por um misto de emoções. Por pouco, o casamento deles, que estava agendado para sábado (10), em Campo Mourão, não aconteceu. Eles estão entre as centenas de pessoas que contrataram uma agência de eventos de Maringá suspeita de aplicar golpes.
Os jovens, apesar de terem morado em Campo Mourão durante a maior parte da vida, se mudaram para a cidade de Araras, em São Paulo, em 2022; ele, para trabalhar como cirurgião dentista, ela, para estudar Odontologia. Porém, as famílias deles permanecem morando na cidade paranaense. Em função disso, Danila e Guilherme decidiram se casar em Campo Mourão. O planejamento da sonhada festa de casamento aconteceu há cerca de um ano.
Com a data e o local definidos, eles foram em busca dos serviços que precisariam. Após algumas pesquisas na internet, chegaram à agência Filia e decidiram contratá-la. Danila contou à TRIBUNA que, no ato do fechamento do contrato, fez o pagamento à vista de R$ 22,5 mil, no dia 22 de agosto de 2023. Algumas semanas antes do casamento, os jovens decidiram acrescentar alguns itens à festa. Para isso, a representante da empresa pediu um acréscimo de R$ 1 mil, que também foi acertado por eles.
Danila disse que ela e o então noivo chegaram a ‘investigar’ a idoneidade da agência. “Quando nós pesquisamos, já tínhamos noção que tinha problemas. Mas todos os processos que estavam ativos contra essa empresa eram por falta de entrega das fotografias do casamento”, informou. Como o casal tinha um amigo fotógrafo que estava entre os convidados e poderia fazer as fotos do evento, não viram problemas com isso naquele momento.
Danila e Guilherme só começaram a desconfiar de que algo parecia não estar certo com a agência dias antes do casamento. “Na semana do evento, eu estava muito preocupada, porque eu perguntava quem seria o DJ da minha festa, e eles não me passavam”, disse, acrescentando que os noivos não tiveram contato com a maioria dos fornecedores antes da festa.
A dimensão da situação só veio à tona quase 24 horas antes do casamento. Antes de ligar para Danila, a responsável pela empresa já tinha sinalizado por mensagem de WhatsApp que estava com problemas. “Ela já havia me mandado mensagem dizendo que precisava conversar comigo sobre tudo”, contou.
“Quando ela me ligou, eu comecei a gravar a ligação, e ela me disse que não poderia fazer o evento, porque não tinha dinheiro para pagar os fornecedores, que estava entrando em contato com os noivos pedindo um empréstimo”, informou Danila, acrescentando que a prestadora de serviços chegou a solicitar um Pix no valor de R$ 16 mil para que entregasse o casamento.
Realização do casamento
Desesperada, a noiva começou a recorrer a familiares e amigos próximos para contar o que estava acontecendo. “Foi aí que começou: meu irmão me emprestou um tanto, meu pai me arrumou outro, um primo nosso mais uma quantia, meus padrinhos de São Paulo também me arrumaram um tanto de dinheiro e foi assim, emprestando, pegando o que cada um tinha e fui juntando”, disse. Os 100 convidados, alguns dos quais eram de outras cidades e até de outros estados, não precisaram ‘ir embora’.
Já no final da noite de sexta-feira (9) e madrugada de sábado (10), os contatos com novos fornecedores começaram a ser realizados. Apesar de tudo, os noivos se reergueram e conseguiram, com a ajuda de familiares e amigos, realizar o sonho de casar na data marcada. A celebração aconteceu no Santuário Nossa Senhora Aparecida de Campo Mourão. “Graças a Deus, foi tudo perfeito, foi incrível”, falou, aliviada.
Fora o valor que já tinham pagado à Filia, o investimento da nova festa, com fornecedores contratados de última hora, somou R$ 30 mil. No entanto, segundo Danila, o prejuízo maior nem foi o financeiro, mas o emocional. “Eu fico me perguntando como eu consegui aguentar”, expressou.
Desdobramentos
Ao invés de os recém-casados irem para a “lua de mel”, na segunda-feira (12), foram parar na delegacia. “Nós chegamos a ir na delegacia de Maringá, tinham mais de duzentos e cinquenta pessoas na fila”, falou, assustada. Como eles já estavam se preparando para retornar a São Paulo, optaram por registar um boletim de ocorrência on-line.
Na terça-feira (13), quando Danila conseguiu contato com a Filia, via telefone, a agência chegou a propor uma negociação ao casal. “Ela queria pagar o valor que eu paguei para ela à vista em doze vezes”, falou. Porém, como Danila teve conhecimento de uma situação em que uma pessoa fechou acordo semelhante ao proposto, mas recebeu apenas a primeira parcela, ela não aceitou a oferta.
Desde que a situação aconteceu, Danila tem relatado o caso em suas redes sociais. “A cada publicação que nós fazemos, a gente percebe que o número de pessoas só aumenta”, disse. Conforme o Portal G1, somente na manhã de segunda-feira (12), outros 21 casais que fecharam contrato com a empresa registraram boletim de ocorrência na Delegacia de Estelionatos de Maringá.
Ainda segundo o portal, em reportagem publicada nessa quinta-feira (15), o número já havia subido para 300 boletins. A Polícia Civil de Maringá investiga o caso. “Só no final de semana que eu casei, nós éramos em seis noivas. Duas conseguiram fazer o casamento, quatro não”, afirmou Danila.
Entre as pessoas que estão se sentindo lesadas pela conduta da empresa, não estão apenas casais. Um grupo de estudantes universitários que também contratou a agência Filia para realizar a festa de formatura relata ter sofrido prejuízo de aproximadamente R$ 200 mil.
Pronunciamento da defesa
De acordo com o G1, o advogado Sebastião da Costa Guimarães, responsável pela defesa da proprietária da agência afirmou que a cliente “quebrou”. “É o seguinte, ela quebrou, como qualquer comerciante quebra. Ela inadimplou os contratos que ela tem com os clientes dela”, afirmou.
O advogado também teria ‘orientado’ as pessoas que têm dinheiro para receber da cliente dele. “As prestações que não foram pagas devem pegar o cartão e cancelar. Agora, o que foi pago, tem a Justiça aí para fazer a devolução”, completou.
Na terça-feira (13), a empresa informou, nas redes sociais, que se mudou de Maringá após sofrer ameaças. A TRIBUNA tentou contato com a agência, mas, até o encerramento desta reportagem, não teve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.