Chacina em Campo Mourão completa três meses cercada de mistérios

Campo Mourão, 15 de setembro, 5h. Num prédio residencial, no centro da cidade, vizinhos são acordados com disparos de arma de fogo. O que eles não sabiam é que escutavam ao som de uma chacina. Naquele dia, três homens morreram e um quarto, saiu rumo ao hospital gravemente ferido. Mas veio a óbito em 3 de outubro. O assassino, ainda não identificado, agiu como a um gato na madrugada. Não deixou rastros. Mas também, decretou o silêncio dos comparsas, agora, como a um rato.

Possivelmente, era uma espécie de “amigo”. Dormiu no apartamento e, sorrateiramente, os apagou, sem dó, sem piedade. De certo modo, como também faziam com suas vítimas de assalto, roubo e estelionato. Para a polícia, tudo ainda é mistério. No entanto sabe-se que os quatro mortos não eram ficha limpa. No jargão policial, gente da pesada.

A cada um deles, extensas redações do crime. Ainda existe a possibilidade de pertencerem a uma quadrilha perigosa e organizada. Com atuações em roubo e explosões a caixas eletrônicos e, assalto a ônibus de sacoleiros na região de Campo Mourão. Mais que isso: podem ter participado ao cerco de Guarapuava. A pergunta é: Quem matou Marcelo Rodrigo de Souza, 34, Adriano Tupech, 34, Wagner Cesar Mendonça, 33, e Ronaldo Samuel Peres da Silva, 42? E o que faziam na cidade? O que tramavam? Muitas perguntas. Nenhuma resposta.

Naquela madrugada, um dos vizinhos no prédio – por motivos óbvios não será identificado – ainda dormia. Mas acordou com o barulho. “Foi bem abafado. Até confundi com pancadas em porta de madeira”, disse. Em seguida, se levantou pra ver o que era. “Vi uma movimentação no hall da escadaria e em seguida, um barulho de camionete, que ecoava pela escada”, lembrou. A cena terminou quando ele percebeu o veículo sair pelo portão, refletindo os faróis no muro da frente e, por fim, subir a rua. Ou seja, a camionete pernoitou no interior do prédio. Para ele, o autor dos disparos era, certamente, de “dentro da galera”. Principalmente, porque a porta não foi arrombada.

Já pela manhã, a polícia descobriu a mesma camionete abandonada no anel viário de Campo Mourão. Antes de ali deixá-la, o assassino ainda jogou pó químico, de extintores, em locais que pudessem mostrar suas digitais. Em seguida, adentrou, possivelmente, a outro veículo e fugiu. Ao mesmo tempo em que se debandava, não sabia que deixaria uma população inteira assustada. Chacina, em Campo Mourão, até então não se conhecia. Não se ouvia falar, a não ser pela tv, através de relatos em outras cidades.

A camionete em questão era uma Hi Lux, placas OBS0A09, de Curitiba. O proprietário, segundo consta no Detran é I.M.V.J., residente em São José dos Pinhais. No entanto, segundo apurado pela polícia, o veículo havia sido vendido, dias antes, a um dos mortos da chacina. Embora as pistas ainda não sejam sólidas, a polícia afirma estar buscando o autor, ou autores, dos assassinatos.

OS MORTOS
Adriano Tupech, morreu aos 34. Nasceu e foi criado até a sua adolescência em Roncador. Depois, foi embora para a capital do estado, ao lado dos pais. Um familiar, que também não será aqui identificado, revelou que teve pouco contato com o mesmo. “Sempre converso com o pai dele. Um senhor correto, trabalhador e já aposentado, que continua a morar em Curitiba”, disse. A reportagem ligou por diversas vezes, mas o pai não atendeu a nenhuma das ligações.

Tupech possuía uma vasta ficha criminal. Em julho de 2014, foi preso por policiais de Mandaguari, junto a outros três homens, por estelionatos praticados em Mandaguaçu. A eles, caiu a acusação da prática do golpe do “Paco” – deixam um pacote com dinheiro cair e, quando a vítima o apanha, é convidada a deixar outra quantia sua para receber um valor ainda maior. Na época, uma das vítimas foi lesada em R$18,5 mil. Tupech e os companheiros foram presos em uma barreira policial. Ele também foi preso outras vezes – muitos processos correm em segredo de justiça. Numa delas, caiu por posse e porte de uma pistola 9mm.

Na ficha criminal ainda consta roubo, com emprego de arma de fogo – roubou uma Montana, celular e R$350, em dinheiro. Tentou furtar uma camioneta quebrando o vidro, mas os moradores o contiveram até a chegada da polícia. Em outra vez também caiu por porte de uma pistola 380, Taurus, e munição de pistola 9mm.

Ronaldo Samuel Peres da Silva tinha 42. Nasceu em 1980, na cidade de Porto Calvo, Alagoas. Mas veio ainda criança ao Sul, se fixando em Curitiba. Ao contrário dos outros três, não morreu na hora. Levou dois tiros, um na cabeça e outro na face. O do crânio tangenciou. Mas fraturou, havendo penetração óssea. O da face ficou alojado. Passou por cirurgia na Santa Casa de Campo Mourão e ficou estável. Familiares, todos de Curitiba, estiveram ao seu lado na recuperação. Mas acabou vindo a óbito no dia 3 de outubro. Segundo informações, a causa da morte foi insuficiência renal e distúrbio de coagulação.

O enredo de sua jornada também é vasto. Mais precisamente, 23 laudas de histórico criminal. Em maio deste ano, foi preso ao lado de outros quatro homens, suspeitos por integrar uma quadrilha especializada a roubo de caixas eletrônicos. Com eles, a polícia apreendeu um fuzil 556, uma metralhadora, três pistolas, oito coletes balísticos, além de 45 kg de emulsão explosiva. Além disso, outros três veículos. A gangue teria praticado roubos em São José dos Pinhais, Ponta Grossa, Reserva,

Antes disso, em 2001, foi preso por roubo a uma igreja católica de Umuarama. Em 2006 caiu em Matinhos, litoral do estado, por posse e porte de arma. Na ação também foi denunciado por associação criminosa. Um ano depois, em 2007, foi detido em Ponta Grossa por roubo mediante ameaça e violência. Já em 2015, foi pego pelas “garras” do Grupo Tigre, da Polícia Militar de Curitiba. Na ocasião, respondeu por associação criminosa, posse e porte de arma. Com ele também foi encontrada muita munição e explosivos. Ainda carregava documentos falsos. Em 2017, também em Curitiba, passou a falsificar o próprio nome. Agora, respondia por Ronaldo Manuel Peres da Silva. Já em 2018 foi preso em Campo Largo. Desta vez, suspeito por um homicídio qualificado. Também cometeu crimes em Campina Grande do Sul.

Wagner Cesar Mendonça nasceu 1980, em Ubiratã. Mas acabou morto na chacina, na hora, com dois disparos na cabeça. Como os outros dois anteriores, também deixou uma vasta herança criminal. Em fevereiro de 2006, foi preso ao lado de outras 12 pessoas após assalto a um ônibus de sacoleiros na região de Ubiratã. Na época, foi reconhecido e preso.
Em 2008, em Corbélia, caiu no artigo 157, ou seja, roubo agravado, com emprego de violência. Já em fevereiro de 2015 foi detido por posse de drogas e acusado por associação criminosa. Na ação também foi denunciado por corrupção de menores.

Por fim, Marcelo Rodrigo de Souza nasceu em 1988, em São Miguel do Iguaçú. Também morreu na hora na chacina de Campo Mourão. Em 2012, em Santa Terezinha do Itaipu, foi autuado pelo artigo 33 do Código Penal. Já em 2013, foi preso em Foz do Iguaçú acusado por roubo mediante violência. Na ação, causou lesões graves em uma das vítimas. Acabou pegando 14 anos de prisão.
Em 2016 empregou de violência mais uma vez em um roubo em Foz do Iguaçú. Em janeiro de 2022, no mesmo ano em que morreu, caiu por organização criminosa. Também carregava uma arma com a numeração raspada. Além disso, também constam detenções por porte e posse de armas, além de entorpecentes.