Cigarrinha do milho: momento é de alerta a produtor para evitar prejuízos, diz agrônomo
Com a implantação de 385.370 hectares de milho segunda safra na região de Campo Mourão e uma produção que deverá atingir 2.119.535 milhões de toneladas na atual temporada, o momento é de alerta ao produtor rural quanto à cigarrinha do milho (Dalbulus maidis). Os cuidados devem ser adotados desde o estágio inicial da cultura para evitar prejuízos futuros. O alerta é feito pelo engenheiro agrônomo da Coamo, Daniel Scremin Carneiro. Ele abordou o tema no “Informativo Coamo” desta quinta-feira (6).
A cigarrinha se contamina ao sugar a seiva de plantas infectadas e transmite as bactérias e o vírus quando migra para se alimentar novamente em lavouras sadias. O inseto voa em um raio de 30 quilômetros, mas também é transportado por correntes de ar e pode alcançar distâncias maiores. Uma vez infectada, a cigarrinha transmite as bactérias e o vírus até o fim de seu ciclo de vida, de aproximadamente três meses.
O inseto é a praga atual mais preocupante aos produtores. Pois pode causar perdas de até 80% da produção. Daniel Carneiro explica que uma das medidas mais importantes para mitigar o problema é a eliminação do milho tiguera, que nasce nas lavouras com a primeira safra e que precisa ser controlado no período de entressafra.
Para além dessa medida, o controle e acompanhamento da dinâmica do inseto é outro recurso bastante efetivo. “Não existe uma forma 100% eficiente no controle da cigarrinha. É um conjunto de fatores que vai contribuir para o sucesso do controle”, afirmou o agrônomo.
Carneiro explica que a cigarrinha é um inseto vetor responsável pelo complexo do enfezamento na cultura ao transmitir para a planta bactérias fitoplasma (Candidatus Phytoplasma asteris) e espiroplasma (Spiroplasma kunkelii), também conhecidas como molicutes, e, ainda, o chamado vírus da risca (Maize Rayado Fino Virus). “Este complexo é composto por doenças chamadas de enfezamento pardo ou vermelho”, informou, ao se referir a coloração das folhagens do milho quando contaminado.
Conforme o agrônomo, não há controle curativo para as doenças do complexo de enfezamento. Por isso, é fundamental também o produtor escolher cultivares tolerantes à cigarrinha, usar sementes tratadas e adotar ações preventivas culturais integradas com aplicações de inseticidas químicos e biológicos.
O engenheiro agrônomo alerta que tem aumentando significativamente a incidência da praga na cultura do milho e, que, as medidas de controle são muito difíceis. O período de contaminação da planta vai desde a sua emergência com a presença da cigarrinha se alimentando e fazendo o processo de contaminação. Porém, o dano só é possível perceber quando o milho já está no estágio de pendoamento. “Por isso é importante o monitoramento constante e minucioso pelo produtor. O nível de dano da cigarrinha é presença ou ausência. Então, tendo a presença do inseto na lavoura, tem que fazer o controle”, ressaltou.
Sintomas
Os sintomas são manchas vermelhas ou amarelas nas bordas das folhas ou em formato de riscas (que revela a presença do vírus) e desenvolvimento reduzido da lavoura. Eles aparecem na fase de pendoamento e formação de grãos. Mas o produtor deve estar atento e não se deixar enganar, porque a contaminação ocorre muito antes, até cerca de 35 dias após a emergência das plantas.
A orientação é que a primeira pulverização da cultura deve ser feita com inseticida químico — um ‘choque’ para eliminar cigarrinhas que migraram de outras lavouras ou de tigueras. Na sequência, o produtor deve alternar o inseticida químico com produtos biológicos.
É preciso observar, no entanto, que inseticidas biológicos devem ser utilizados a partir do estágio V3, quando a planta já formou o “cartuchinho”. A eficiência desses produtos também está relacionada com a pulverização em dias em que haja boa umidade do ar (mais de 55%) e temperatura ao redor de 30°C.
Há no Estado vários inseticidas biológicos à base de fungos (Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea) e de bactérias (Pseudomonas chlororaphis e Pseudomonas fluorescens) liberados para o controle da cigarrinha-do-milho pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). As pulverizações alternadas de inseticidas químicos e biológicos devem ser feitas por aproximadamente 40 dias (estágio V8), o que resulta em cerca de quatro aplicações.
Outro cuidado recomendado é a semeadura simultânea em uma mesma região para evitar a chamada “ponte verde”, que é a existência de lavouras em diferentes etapas de desenvolvimento e, com isso, oferta de alimentos e estímulo à migração das cigarrinhas e ao reinício do ciclo de contaminação de cultivos. Todas essas práticas devem ser conjugadas com a rotação de culturas e a eliminação de plantas guaxas do terreno, com a finalidade de interromper o ciclo do vetor e dos patógenos.
Segundo maior produtor
O Paraná é o segundo maior produtor de milho do país, atrás apenas do Mato Grosso. As previsões do Departamento de Economia Rural da Seab dão conta de que esta segunda safra deve resultar, em condições ideais de clima, na produção de 15 milhões de toneladas em 2,5 milhões de hectares. O desafio, é garantir que toda essa produção seja o menos possível prejudicada pela cigarrinha – que cada vez mais se torna ameaça aos produtores em território nacional, tendo atingido pelo menos sete estados
No Paraná, a cigarrinha-do-milho começou a gerar preocupação poucos anos atrás, quando resultou em perdas significativas na safra 2018-2019. Em alguns materiais sensíveis houve perdas de 60%, 70%, até 80% nas lavouras. Os materiais sensíveis, no caso, são sementes mais suscetíveis ao desenvolvimento da praga.
Boas práticas que o produtor pode adotar para manter a cigarrinha longe da lavoura:
* Evitar semeaduras vizinhas às lavouras com alta incidência das doenças;
* Sincronizar a semeadura, evitando “janelas” entre as áreas plantadas;
* Optar por cultivares com resistência à cigarrinha;
* Fazer tratamento de sementes com inseticidas específicos para a praga;
* Fazer monitoramento constante da lavoura, à procura de cigarrinhas;
* Fazer, no máximo, três aplicações de inseticidas, de acordo com a incidência dos insetos;
* Diversificar e rotacionar cultivares de milho;
* Identificar e erradicar o milho tiguera.