‘Clube das EstrELAS: Elas na Astronomia’ impulsiona meninas mourãoenses nas ciências

O “Clube das EstrELAS: Elas na Astronomia”, coordenado pela professora doutora Camila Maria Sitko, do Departamento de Física e do Polo Astronômico Rodolpho Caniato da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Campo Mourão, é um projeto de extensão da universidade que visa incentivar a entrada e permanência do público feminino nas áreas de ciências, como exatas, engenharias e computação.

Com foco na Astronomia, o projeto, que já existe internamente desde 2022, mas a partir deste ano de 2025 expandiu para abranger também a comunidade externa, tem se mostrado uma porta de entrada para um futuro acadêmico e profissional promissor. Da comunidade externa, atualmente, 27 adolescentes, todas meninas, e cinco professoras da educação básica participam da iniciativa.

A professora Camila explica que o objetivo é criar um ambiente onde as meninas possam se sentir pertencentes ao universo acadêmico, principalmente nas ciências e nas tecnologias. O projeto recebe apoio da Itaipu Parquetec e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em função de seu caráter social. As participantes são alunas do 9º ano do ensino fundamental e da 1ª série do ensino médio, exclusivamente da educação pública de Campo Mourão, que foram selecionadas por meio de edital, priorizando meninas pretas, pardas e em situação de vulnerabilidade social.

Das 27 estudantes da educação básica, 25 recebem uma bolsa no valor de R$ 300,00 mensais, por meio da Iniciação Científica Júnior, para participarem das atividades de pesquisa e extensão oferecidas. Além disso, integram o projeto nove alunas da graduação, sendo oito bolsistas, e cinco professoras de escolas públicas de Campo Mourão. Sete docentes da UTFPR também estão envolvidos.

Projeto faz parte do Polo Astronômico Rodolpho Caniato da UTFPR, campus de Campo Mourão, e recebe apoio da Itaipu Parquetec e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Para a efetivação do clube, encontros quinzenais aos sábados são realizados, na UTFPR. O projeto tem uma duração prevista de três anos. Ao longo desse período, as participantes não apenas aprendem sobre Astronomia, mas também aprofundam discussões sobre questões sociais e de gênero, que as empoderam e as encorajam a se sentir pertencentes a ambientes acadêmicos nas áreas de ciências e tecnologias.

As mudanças são notórias, a partir das percepções das próprias participantes. A aluna Mariana Cristina Almeida, de 17 anos, por exemplo, destaca que sua participação no projeto fez toda a diferença na sua visão sobre a ciência e a carreira que quer seguir. “Mesmo já gostando da área de ciências, em especial da Astronomia, tinha o pensamento de que construir uma carreira na área seria algo quase impossível – não só por questões financeiras. Hoje, sinto que, participando do projeto, um pouco desse receio de construir uma carreira científica tenha diminuído”, reconhece a jovem.

Ela também afirma que o ambiente do clube e as atividades realizadas têm contribuído para o desenvolvimento de seu conhecimento. “Gosto muito dos conteúdos – na verdade, da forma como eles são abordados –, tornando a compreensão muito mais fácil. Por exemplo, no dia em que aprendemos sobre constelações, utilizamos um aplicativo que nos permitia ter uma ‘cópia do céu’, vendo as constelações literalmente desenhadas”, afirma, encantada.

Ao ingressar no projeto no início deste ano, Nathalia Lucilia, de 14 anos, também não imaginava o impacto que isso teria em sua vida, até porque nunca havia se aprofundado em conteúdos como os que são abordados no clube. “Me fez olhar mais para as estrelas e perceber coisas que eu não percebia antes de entrar no curso”, pontua, acrescentando que os aprendizados no clube a ajudam, até mesmo, nos trabalhos escolares, como nas provas de ciências. A estudante já vislumbra o impacto disso em etapas posteriores de seus estudos e da vida profissional. “No futuro, pode ajudar em questão de currículo, faculdade etc.”, comenta.

Ela compartilha, ainda, que os encontros permitem momentos de descontração e lazer, mesmo os mais simples, como o intervalo para os lanches. “Foi o primeiro curso que eu realmente me interessei em entrar e que despertou o interesse na Astronomia. Acho que foi umas das melhores escolhas que eu fiz”, avalia, complementando que o fato de ter uma amiga que também participa da iniciativa torna os encontros ainda mais divertidos.

Para Heloísa Mariana Barbosa Nascimento, de 15 anos, a participação no Clube das EstrELAS tem sido uma oportunidade que a motiva a buscar uma carreira científica. Ela conta que sempre gostou de ciências, mas, como uma menina, nunca foi encorajada a seguir nessa área. A perspectiva dela mudou, no entanto, logo que teve contato com os primeiros encontros no projeto. “Eu fiquei muito mais tranquila na questão do meu futuro, já sei que vou continuar nessa área, independente da carreira”, fala, decidida, a cientista júnior.

Para além de introduzir as participantes em conceitos de Astronomia, o projeto também visa explorar questões sociais e de gênero, a fim de empoderá-las e encorajá-las a se sentir pertencentes às áreas de ciências e tecnologias

A coordenadora do projeto enfatiza a importância de mostrar para as meninas que elas têm espaço no mundo científico. “Neste curto período em que o projeto ocorre, já notamos alguns pequenos impactos, que para nós são bem relevantes: algumas meninas já se sentem confiantes em explicar conceitos de Astronomia para outras pessoas e também já conhecem um pouco sobre a dinâmica de como é ser estudante na universidade pública, e estão gostando disso”, analisa a docente.

O impacto do projeto vai além do aprendizado acadêmico. Ele também abre portas para a participação das alunas em eventos científicos. Ao longo da iniciativa, as participantes terão a oportunidade de apresentar projetos de pesquisa e até criar clubes científicos em suas próprias escolas. “No terceiro ano de projeto, as clubistas também serão convidadas/orientadas a criarem clubes científicos em suas próprias escolas, como forma de promover suas lideranças científicas”, diz Camila.

As alunas têm se mostrado empolgadas com o futuro, fazendo o projeto cumprir seu papel de fomentar a presença feminina nas áreas de Astronomia e outras ciências. “Espero que seja possível a realização de muitos outros projetos como este, para que pequenas futuras cientistas não tenham seus sonhos perdidos no abismo do universo e sejam capazes de mudar o mundo com a ciência”, deseja a aluna Mariana, com a esperança de que mais meninas sigam o caminho da ciência.