São Nicolau
A Coamo Agroindustrial Cooperativa terá uma receita global entre R$ 26 a R$ 28 bilhões em 2022. O valor é recorde, devendo, seguramente, dar à cooperativa o título de maior empresa do Paraná. O montante representa um crescimento de 17% em relação ao ano anterior, cujo faturamento foi de R$ 24,6 bilhões.
Os números foram repassados pelo presidente do Conselho de Administração e idealizador da Coamo, José Aroldo Gallassini, durante coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (22), na sede da cooperativa, em Campo Mourão. Profissionais de diversas cidades do Estado e do Mato Grosso do Sul participaram da coletiva para apresentação dos resultados do exercício de 2022 e perspectivas para 2023.
Gallassini anunciou também que serão distribuídos R$ 220 milhões aos mais de 30 mil cooperados, fruto da sua movimentação no abastecimento de insumos e entrega da produção nas unidades da cooperativa nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. O adiantamento, chamado também de 13º do cooperado, será no dia 5 de dezembro. No resultado do exercício, os cooperados estarão recebendo a título de sobras R$ 0,80 centavos para cada saca de soja entregue na Coamo, R$ 0,30 para o milho e R$ 0,30 para o trigo.
Além disso, serão distribuídos, no dia 12 de dezembro, pela Credicoamo, sobras no valor de R$ 34 milhões aos cooperados. “A Credicoamo faz uma sobra um pouco diferente. Começou a pagar ano passado juros sobre capital social, que são R$ 34 milhões que serão pagos no dia 12 de dezembro na proporção de movimentação do cooperado”, explicou Gallassini.
Taxação do agro
Durante a coletiva de imprensa, Gallassini comentou sobre projeto de lei do Governo do Paraná encaminhado em regime de urgência à Assembleia Legislativa, que cria uma taxa específica para cada produto. O projeto tem como propósito a criação do FDI/PR (Fundo de Desenvolvimento da Infraestrutura Logística do Estado), com recursos vindos da taxação de produtos agropecuários, em especial a comercialização de soja, milho, trigo, boi, suínos, frangos, açúcar, mandioca, toras e cana-de-açúcar.
“Fizemos uma conta rápida, daria uma tributação de cerca de R$ 2,50 por saca de soja e R$ 1,50 por saca de milho. Não é bem vindo. Deveríamos estar discutindo na verdade redução de tributos. Nós vamos nos posicionar contra a medida junto das demais cooperativas, a Federação da Agricultura e Ocepar. A ideia é tentar reverter. Não podemos onerar ainda mais o setor que é de risco e está alavancando o País”, falou o presidente, ao se dizer preocupado com o projeto. “Temos que ter muito cuidado”, ressaltou. A taxação de produtos do agronegócio já existe no Mato Grosso do Sul e está sendo implantada no Estado de Goiás pelo Governo.
“No Paraná foi uma surpresa para nós. Não pode ficar aumentando imposto por que estamos em um momento bom. Tivemos uma seca, perdemos soja, perdemos milho. Tínhamos uma previsão de receber este ano 100 milhões de sacas de soja, mas recebemos 50 milhões por causa de perdas com seca. E ninguém fez nada. Nem de prorrogar dívida o governo falou”, observou Gallassini.
O texto do projeto de lei traz uma taxa específica para cada produto, baseada na Unidade Padrão Fiscal do Paraná (UFP/PR), hoje sendo R$ 127,06. Assim, os tributos podem variar de R$ 0,90 e R$ 41,49 por tonelada dos produtos agrícolas e de R$ 0,11 a R$ 53,59 por animal. “Se aprovado haverá impactos diretos na população e diminuição da rentabilidade do produtor, o que pode provocar retração da atividade”, lamentou.
Bloqueios nas rodovias
Em relação ao bloqueios em rodovias do Brasil, por manifestantes pró-Bolsonaro, que não aceitam a vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, Gallassini mantém cautela em falar sobre o assunto.
Os protestos acontecem com mais intensificação nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. “A cooperativa é uma empresa. Ela não vota, quem vota são os cooperados. Mas se não for tomada nenhuma providência vai ter prejuízo”, falou, se referindo que a Coamo não se envolve na política, e que há casos de cooperados participando de alguns manifestos. Ele defende o diálogo para que os bloqueios cessem.
No entanto, destaca que se as ações começarem a causar prejuízos, ‘medidas devem ser tomadas’, como ação judicial, por exemplo. “Hoje temos caminhões indo para Paranaguá. Temos trigo, milho, farelo de soja e soja vendidos para ir de navio. Se este pessoal continuar com este movimento não vamos conseguir embarcar no navio. Cada dia parado que o navio não carrega, dependendo do tamanho da embarcação, a multa é de mais de R$ 100 mil por dia. Quem vai pagar isso aí?”, questiona. Gallassini defende que é preciso ‘ter limites’ dos manifestantes.
Perspectiva para 2023
O presidente ainda comentou das perspectivas para 2023 para o agro. Em relação a soja e milho que está terminando de ser implantada pelos produtores rurais, segundo ele, se as culturas manterem as produtividades médias ainda cobrem os custos de produção. Porém, a frustração de safra é uma grande preocupação. “Um problema que todo ano tem. Mas por enquanto está indo bem demais. Está chovendo na hora que precisa”, ressaltou.
Outra apreensão, é com a proposta do presidente eleito, em reduzir as exportações para baixar o preço dos alimentos, o que poderia interferir negativamente ao setor. “Fora isso temos esta questão da taxação pelo Governo do Paraná, o que é preocupante”, acrescentou.
A Coamo
Enviado pela extinta Acarpa (hoje IDR-PR) para impulsionar a realidade rural da região, o engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini conduziu os primeiros experimentos de trigo e de soja em terras mourãoenses em 1969. Com o sucesso do plantio, as produções aumentaram e a preocupação se tornou para quem vender os produtos recém-produzidos.
A partir desse movimento somado ao conhecimento de Fioravante João Ferri, madeireiro do Rio Grande do Sul, que surgiu a ideia de formar uma cooperativa. Gallassini e Ferri sabiam que este seria um passo importante para desenvolver a agricultura de Campo Mourão e oferecer uma vida melhor para os agricultores e suas famílias.
Após uma série de reuniões com lideranças do setor, nasceu então, em 28 de novembro de 1970, a Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda (Coamo). A cooperativa iniciou por 79 agricultores pioneiros, que pelo desejo de se fortalecerem enquanto produtores rurais, sobretudo garantir a armazenagem e comercialização das suas safras, gravaram os seus nomes na história da cooperativa.