Abandonados em meio ao vírus, segmento de eventos clama ajuda

Vítimas do coronavírus, profissionais do segmento de eventos estão isolados. Não pelo contágio. Mas por não poderem trabalhar. Uma espécie de castigo viral. Vivem em função de festas. Aglomerações. Tornaram-se pessoas sem renda. E sem qualquer ajuda por parte dos governos, municipal, estadual e federal. A crise no setor imperou definitivamente. Esta semana, eles se uniram em torno de uma campanha. “Não somos invisíveis”. 

Empresário do ramo de som e iluminação em Campo Mourão, Alan Kardec Zahdi Gonçalves, está perdendo as esperanças. Foi obrigado a parar no dia 03 de março. Está sem renda desde então. Para piorar, fez investimentos de R$230 mil em janeiro. Os boletos continuam chegando. Os clientes, não. “Está chegando o momento em que não temos mais pra onde correr. Se não conseguir recursos, uma ajuda do governo, não sei o que vou fazer”, disse. 

Na sua empresa, Agenna Som, sobraram apenas dois funcionários. Demitiu outros. Já são 110 dias sem trabalhar. Ele não suporta mais essa situação. Alan explica que correu em busca de várias linhas de crédito. Em vão. Bancos não emprestam. “A ajuda que o governo prometeu não chega até nós. Os recursos param nos bancos. E eles impõe uma série de reivindicações. Uma ajuda lenta que pode não chegar em tempo”, afirmou. O empresário revela que, pior que ficar sem o apoio dos governantes, é não ter esperanças. Não saber quando o setor poderá voltar a trabalhar. “Fomos os primeiros a parar. E os últimos a retornar”. 

No segmento de alimentação, buffet, a empresária que preferiu não se identificar, disse que não consegue linhas de crédito para manter sua empresa. Mesmo com o nome limpo e, mantendo suas obrigações, os bancos não fazem empréstimos. “Queria entender que ajuda é essa do governo. Ele manda o dinheiro aos bancos. Garante o empréstimo. Mas os bancos não o passam adiante”, disse. Na sua empresa eram 13 registrados. Hoje, ficaram seis. E ela não sabe como conseguirá pagar os próximos salários. “Preciso de recursos para não demitir mais. Para não fechar a empresa”. 

Cíntia Almeida está há 100 dias sem trabalhar. Ela nunca quis isso. Foi obrigada a parar. Tem uma empresa de decorações na cidade. “Estamos sem visibilidade. Estamos sem um olhar direcionado ao setor”, disse. Mas agora, depois de 18 anos no ramo, tudo o que sua família construiu, pode estar acabando. Mais que isso. A empresa é o único sustento da família. Ela clama para que o setor possa retornar as atividades o quanto antes. Antes que seja tarde demais. 

Estima-se que o setor de eventos em Campo Mourão empregue cerca de 1,5 mil pessoas. É uma indústria de entretenimento que compreende cozinheiras, garçons, fotógrafos, boleiras, doceiras, iluminadores, seguranças, bartenders, bandas de música, djs, promoters, profissionais de som. Além disso gera renda no segmento de bebidas, aluguéis de roupas, contratação de salões de festas, hotéis. Um único casamento na cidade atrai no mínimo, cinco famílias de outras cidades. O que movimenta mais renda no comércio.       

PRONAMPE

O Programa Nacional de Apoio as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (PRONAMPE) é um programa do governo federal destinado ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas, instituído pela Lei 13.999 de 18 de maio de 2020. Trata-se de operações de crédito para investimentos e capital de giro. Despesas operacionais como salários de funcionários, pagamentos de água e luz. 

Com prazo máximo de pagamento em 36 vezes e, ainda, carência de oito meses, os bancos tem a garantia do Fundo Garantidor de Operação em até 100% do valor da operação. Ou seja, são recursos do próprio governo. Com garantia do Tesouro. Ainda assim, os bancos insistem em construir obstáculos aos empresários. 

Ainda ontem, a Caixa Econômica Federal, em resposta aos questionamentos deste jornal, disse que todas as operações de crédito estão sujeitas a análises. São avaliados riscos de mercado e de crédito, sendo necessário que as empresas apresentem pelo menos 12 meses de faturamento consecutivos e não possuam restrições cadastrais. Mas a empresária citada no texto, mesmo com todas estas condições, não teve acesso aos recursos. O gerente local disse apenas que sua empresa não possui margem ao empréstimo. “Não entendo. Achei que o dinheiro era para salvar as pequenas empresas. Mas a Caixa parece que deseja sepultá-las. E o dinheiro ainda é do governo. Não do banco”, desabafou a empresária.