Denilson deixou o conforto. Foi voluntário no baixo Amazonas
Por uma semana, ele se distanciou da própria família. Inclusive, de Laura, a filha recém nascida. Deixou a companheira, Melina. A vida confortável da cidade. O emprego. Na busca em ajudar o próximo, se enfiou num barco hospital, no baixo Amazonas. É lá onde percorreu três pequenas e pobres comunidades ribeirinhas. A missão foi uma só: levar ajuda médica. E, quem sabe, um pouco mais de esperança àquelas pessoas. Fez tudo sem nada cobrar. Foi voluntário. Agora, o médico ortopedista, Denilson Daleffe, está ainda mais feliz com a profissão. O coração ficou maior.
Denilson deixou Maringá e Campo Mourão, onde atua, na última semana. Desembarcou em Santarém, no Pará. Juntou-se a quase 20 pessoas. Todas voluntárias. Entre elas, seis médicos, três dentistas. Enfermeiras. Cozinheiras. Freis. Por sete dias, sobre as águas do Rio Amazonas, atenderam ribeirinhos. Gente simples. A maior parte, pescadores. Pessoas distantes de hospitais, médicos. E de quase tudo mais. A bordo do Barco Hospital Papa Francisco, dos freis Franciscanos, ofereceram atendimento médico, de graça. Pagamento apenas através do sorriso de cada um dos pacientes.
Esta foi a 19 missão do barco. Denilson foi o único ortopedista convidado. Nos atendimentos, observou um grande índice de problemas de lombalgia – dores nas costas. E o fato é explicável. Principalmente, por se tratar, de homens, pescadores. “Eles usam muito da pescaria com tarrafas. Fazem grande esforço lombar para jogar e retirar a rede”, explicou. Segundo ele, em todos os atendimentos, percebeu a grande satisfação das comunidades em receber a visita dos médicos. Uma espécie de “não fomos esquecidos”.
Desguarnecidas de profissionais da saúde, as comunidades ribeirinhas estão a cinco horas de Santarém. A missão tem como objetivo, aproximar pessoas, de médicos e dentistas. Denilson conta que atendeu um homem que estava com a perna quebrada há três semanas. Até então, o membro não havia sido imobilizado. Nem atendimento teve. Apenas um reflexo das dificuldades ocasionadas pelo distanciamento dos grandes centros.
O barco Papa Francisco mantém salas de atendimento médico. Além disso, um centro cirúrgico. No domingo à noite, o corpo clínico teve uma emergência. Um pescador foi ferroado por um peixe. Chegou bastante mal, com infecção. Foi operado. Salvo das dores. Depois foi para uma sala de repouso. Durante os sete dias, dois casos de Covid foram diagnosticados. A doença, inclusive, já levou um padre da comunidade de Curuá, no Pará, onde a missão esteve.
A estrutura também oferece exames de raios X e laboratoriais. Mamografia. Eletrocardiograma. Além de oferecerem ajuda médica, os profissionais voluntários se agruparam como uma família. Possivelmente, a causa engrandeceu os corações. As tarefas do dia a dia também foram compartilhadas. Das refeições, até a limpeza dos banheiros. De uma certa forma, cada profissional ganhou experiência espiritual. Fazer o bem, sempre compensa.
“Pra mim foi emocionante. A missão é algo inexplicável. Ver o sorriso das pessoas em receber ajuda, é o maior pagamento”, disse o médico. Um dos coordenadores da missão, o Frei Joel Souza, disse que Denilson foi um médico comprometido com a missão e sua profissão. “Além de ser um ser humano fantástico, deixa sua marca em cada atendimento. Através de sua acolhida e cordialidade. Gratidão em nome do Barco Hospital Papa Francisco e do nosso povo amazônico”, afirmou.