Dia histórico: pioneiros do plantio direto em Campo Mourão são homenageados

Um dia que vai ficar para a história. Os produtores rurais, Joaquim Peres Montans, Antônio Álvaro Massareto e Ricardo Accioly Calderari – ainda atuantes na condução de suas propriedades, além de Gabriel Borsato e Henrique Gustavo Salonski – em memória -, foram homenageados na manhã desta sexta-feira (7), pela Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto. Eles são pioneiros na implantação do sistema na região de Campo Mourão. A solenidade foi realizada no auditório da Associação dos Engenheiros Agrônomos (AEACM), durante a 4ª Feira do Agronegócio, Tecnologia e Inovação (FATI).

O Sistema de Plantio Direto está completando 51 anos na região de Campo Mourão, a segunda no Brasil que implantou esta tecnologia na safra 1973. Os homenageados receberam uma placa e medalha de honra do produtor rural e pai do plantio direto no Brasil Herbert Bartz (em memória). Por Gabriel Borsato e Henrique Gustavo Salonski – em memória -, receberam a homenagem seus filhos, Edson Borsato e Carlos Augusto Salonski, respectivamente.

A honraria estava programada para o mês de julho, em Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia, durante o 19º Encontro Nacional do Plantio Direto, que será promovido pela Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto. Porém foi transferida a Campo Mourão a pedido dos homenageados.

Várias lideranças rurais e representantes do agro participaram da homenagem, entre elas: o presidente da Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto, Jônadan Hsuan Min Ma; o vice-presidente da Federação, Daniel Alfredo Rosenthal além da primeira secretária da entidade, Marie Luise Carolina Bartz. filha de Herbert Bartz, que implantou a tecnologia agrícola no País.

Participaram ainda do evento o presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná, Cesar Veronese; presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná, Clodomir Ascari; presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Campo Mourão, Fernando Mignoso; presidente do Conselho de Administração da Coamo e Credicoamo, José Aroldo Gallassini, presidente do Sindicato Rural de Campo Mourão, Cezar Bronzel, entre outras autoridades.

Durante a homenagem, que reuniu também dezenas de engenheiros agrônomos e estudantes de agronomia, o engenheiro agrônomo Ricardo Accioly Calderari, usou a palavra representando os demais homenageados. Ele agradeceu a honraria e relembrou resumidamente a história que levou a adoção do plantio direto na região. Segundo o agrônomo, na década de 70 a terra na região de Campo Mourão era arada e a chuva desfazia tudo. “Os agricultores da região vinham conversar conosco com dúvidas sobre o replantio e iniciamos um trabalho muito grande de conservação dos solos. O resultado foi a solução do problema de erosão, além da preservação das bacias da região e do próprio solo, que se tornou adequado para o cultivo”, lembrou Calderari, ao citar a participação do engenheiro agrônomo, José Aroldo Gallassini, nos trabalhos de correção dos solos.

“Campo Mourão que já foi conhecida como a cidade dos três “Ss”, (sapé, samambaia e saúva) foi escolhida em 1976 como município modelo de conservação dos solos. Toda discussão sobre o assunto passava por aqui”, falou Calderari, ao comentar que a partir dos anos 80 com máquinas e herbicidas mais modernos, a técnica sofreu um ‘boom’ passando a ser adotada pelos produtores rurais, continuando até os dias de hoje. “Foi um sofrimento, mas havia um caminho e trilhamos por ele. Começamos em 73 [1973] e não vamos parar mais”, ressaltou o agrônomo.

Cesar Veronese, presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná

Dia histórico

O presidente da Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto, Jônadan Hsuan Min Ma, definiu a homenagem aos pioneiros do plantio direto em Campo Mourão como um dia histórico. “Estamos aqui resgatando a história de 51 anos do plantio direto em Campo Mourão. Todos vocês cinco [pioneiros] trabalharam quietinhos. Vocês fazem parte da história do plantio direto do Brasil. E não vamos mais esquecer disso. O Brasil vai saber disso”, afirmou.

Jônadan, destacou que o plantio direto faz parte da vida, é a base do sucesso brasileiro e do mundo. “O sistema do plantio direto no Brasil é a base para alimentarmos o mundo e garantir a sustentabilidade verdadeira, preservando as águas, o solo, meio ambiente e o planeta”, ressaltou, ao observar que ainda há muitos desafios pela frente. “Para isso a Federação Brasileira está trabalhando bastante”, garantiu.

Jônadan Hsuan Min Ma, presidente da Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto

A primeira secretária, da Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto, Marie Luise Carolina Bartz, filha de Herbert Bartz, pai do plantio direto no Brasil, afirmou estar honrada ao fazer parte da homenagem aos pioneiros do plantio direto na região de Campo Mourão. “Hoje a gente veio aqui para fazer este reconhecimento a estes cinco pioneiros de Campo Mourão que ficaram adormecidos por muito tempo. Agora é o momento de colocarmos eles novamente no papel da história, valorizando isso cada vez mais”, disse, ao ressaltar que o sistema de plantio direto é genuinamente brasileiro.

Marie Luise Carolina Bartz, filha de Herbert Bartz (in-memorian), que implantou a tecnologia agrícola no País, participou da homenagem

Plantio direto

O plantio direto é uma técnica agrícola no qual o plantio ocorre sem revolvimento do solo, ou seja, sem aração ou gradagem leve como acontece no plantio convencional. Com a utilização de semeadora específica, as sementes são depositadas em um sulco ou cova – com profundidade e largura adequadas – e em que haja manutenção da cobertura do solo (palhada/cobertura morta). O sistema de plantio direto é um sistema diferenciado de manejo do solo e fundamental para garantir as características físicas, químicas e biológicas do solo.

O plantio direto tem efeitos positivos sobre o ambiente por reduzir o uso de insumos de origem fóssil, tais como combustíveis e fertilizantes e por contribuir para o sequestro de carbono no solo reduzindo, com isso, o aquecimento global. A técnica reduz erosão e perda de nutrientes, evita assoreamento de rios, enriquece o solo com matéria orgânica na superfície, evita a compactação do solo, com aração e gradagem, resultando em menor uso dos tratores e menor desgaste do solo.

Herbert Bartz

Pioneiro do plantio direto na palha no Brasil, o agricultor Herbert Arnold Bartz, com propriedade em Rolândia, no norte do Paraná, morreu no dia 29 de janeiro de 2021, aos 83 anos, de complicações de pneumonia. A implantação do sistema menos agressivo com o solo concretizou o sonho de Bartz de produzir alimentos em abundância e qualidade, após enfrentar a fome na Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

Bartz nasceu em Rio do Sul (SC), em 14 de fevereiro de 1937, filho de imigrantes germânicos, foi criado na Alemanha conflituosa, em meio à fome, frio e solidão da guerra. Em entrevistas, ele relatou que, na noite de seu oitavo aniversário, Dresden, onde estava, foi bombardeada. Abrigado com outras crianças em um porão, foi salvo pelas águas jogadas por adultos, que possibilitaram enfrentar o imenso calor. “Eu tive um sonho, que era produzir alimento em qualidade e em abundância”, não cansava de repetir.

De volta ao Brasil em 1960, a família se fixou na Fazenda Rhenânia, em Rolândia, trabalhando com plantio de milho e arroz. Mas logo percebeu que, no sistema convencional de produção, não sobrariam muitos recursos para o sustento familiar. Os problemas das chuvas tropicais irregulares, que vinham em excesso, após longo período de estiagem, lavavam as lavouras, carregavam as sementes e provocavam a erosão.

Pioneiro do plantio direto na palha no Brasil, o agricultor Herbert Arnold Bartz, com propriedade em Rolândia, no norte do Paraná, morreu no dia 29 de janeiro de 2021, aos 83 anos

Solução

A possibilidade de venda das terras foi ventilada na família. Herbert, já visionário, propôs que o pai, Arnold, arrendasse a propriedade para ele, que procuraria uma receita mais apropriada para trabalhar a terra nas condições brasileiras. Na busca pela solução, Bartz esteve na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, onde conheceu a técnica do “No-Tillage” na propriedade do agricultor Harry Young Jr., no Kentucky.

Em 1972, após importar a mesma máquina semeadora não agressiva que Young usava, ele adotou o método que, no Brasil, passou a ser chamado de Plantio Direto. Consiste no mínimo ou na ausência de revolvimento do solo, manutenção dos restos culturais da safra anterior e em rotação de culturas. Com isso, conseguiu resultados positivos na produtividade da soja, na conservação do solo e na economia com menos uso de maquinários.

A desconfiança inicial, que levou Bartz a ser chamado de “alemão louco” e a produção ser apreendida pela Polícia Federal, logo foi substituída pela certeza de que a adoção da técnica garantia maior produtividade. A fama se espalhou, a propriedade ganhou visibilidade, outros produtores passaram a visitar e perceber que o solo estava mais vivo.

Não demorou muito para que o sistema ganhasse adeptos e Bartz percorresse o Brasil e outros países proferindo palestras. Hoje, prestes a completar 50 anos de implantação no Brasil, o Plantio Direto, nascido da visão de futuro de Herbert Bartz, já se espalhou pela América do Sul.

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