Diretoria descobre rombo de R$ 1,4 milhão desviados do Cis-Comcam; MP investiga

A nova diretoria do Cis-Comcam (Consórcio Intermunicipal de Saúde da Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão) descobriu uma quantia de aproximadamente R$ 1,4 milhão desviada do caixa do Consórcio. A movimentação irregular do dinheiro foi feita pelo Coordenador Geral da gestão passada (2023/2024). O investigado já foi ouvido pelo Ministério Público (MP), que apura o caso. Ele apresentou inclusive extratos bancários com os valores subtraídos. Até a conclusão do processo, a TRIBUNA não divulgará a identidade do acusado. O ex-presidente do Consórcio, Rafael Bolacha, negou qualquer participação. Ele comentou o caso ao jornal. Confira abaixo.

De acordo com informações apuradas pela reportagem, o ex-coordenador geral do Cis-Comcam acessava a conta bancária do consórcio utilizando o token (senha) do presidente à época dos fatos e fazia as movimentações e transferências irregulares do dinheiro para uma conta de uma empresa com CNPJ vinculado a ele. Após as transferências, adulterava os extratos bancários para encobrir as transações ilegais.

A reportagem falou com o presidente do Cis-Comcam, Douglas Fabrício, prefeito de Campo Mourão. Ele afirmou que ficou surpreso com o caso. “Assim que descobrimos, já tomei providências, oferecendo denúncia ao Ministério Público para que investigue e adote as medidas”, falou o gestor. Douglas disse que o valor desviado foi descoberto por sua equipe técnica após encontrar algumas divergências. Com as discrepâncias, o levantamento foi aprofundado, chegando aos indícios que apontam para os recursos desviados.

O setor jurídico do Cis-Comcam já fez uma reunião com os secretários municipais da Comcam e apresentou o caso, que será levado oficialmente também ao conhecimento dos prefeitos em uma reunião fechada nesta quinta-feira (27), às 14 horas, na Casa da Cultura, em Campo Mourão. “A situação é muito grave e séria”, disse o presidente do Consórcio.

Douglas adiantou que sugerirá nesta quinta-feira aos prefeitos que seja realizada uma auditoria nas contas do Consórcio para apurar se há mais alguma irregularidade. “Estamos elaborando uma série de medidas para apresentar aos prefeitos para fazer mudanças para melhorar a gestão, a transparência e o atendimento em si à população na área da Saúde pelo nosso Consórcio”, destacou. Ele falou também que deverá implantar a realização de concurso público para as contratações da entidade a partir de agora. “Vamos trabalhar para fazer tudo dentro das regras e o que a legislação exige”, ressaltou.

“Envergonhado e traído”

O ex-presidente do Cis-Comcam, Rafael Bolcha, ex-prefeito de Moreira Sales, disse que está “envergonhado” com o caso e que se sente “traído” por seu ex-subordinado. Bolacha disse que também fez denúncia sobre o desvio ao Ministério Público. “Ele utilizou o meu token (senha). Não tinha como nós, do Consórcio, descobrir o golpe pela forma que ele fraudou os empenhos, pagamentos e extratos bancários. Não tinha como eu, presidente, o controlador interno ou contador ‘pegar’”, afirmou Bolacha.

O ex-presidente esclareceu que é uma prática comum entre presidentes e prefeitos deixarem suas senhas pessoais de acesso às contas bancárias dos municípios ou entidades que representam com coordenadores ou tesoureiros. “Não é o prefeito que faz o pagamento. Humanamente, é quase impossível ele digitar a sua senha ali em cada pagamento de empenho. Eu fui surpreendido quando recebi a notícia pelo Douglas e me coloquei à disposição dos prefeitos para poder fazer este esclarecimento”, disse o ex-prefeito. Ele deverá participar da reunião com prefeitos nesta quinta-feira.

Bolacha comentou também que quer que seu ex-coordenador seja responsabilizado na esfera administrativa, com a devolução do recurso, e também na esfera criminal. “O meu anseio por justiça é tão grande quanto o de todos os demais prefeitos. Eu sou, na verdade, vítima de uma traição por confiança. Espero que a justiça seja feita e, mais do que isso, que ele, da mesma forma que pegou o dinheiro, devolva e responda pelos crimes que cometeu”, desabafou, ao comentar que está de “consciência tranquila” e o “coração em paz”.

Bolacha ressaltou que o responsável pelo desvio forneceu todos os extratos da conta dele e inclusive assumiu a responsabilidade perante o Ministério Público. “O que me deixa mais surpreso é a forma como ele fazia isso tudo: desviava para a conta de uma empresa dele e adulterava os extratos bancários. Na conciliação bancária, na conferência pelo contador interno, não tinha como ‘pegar’”, acrescentou.

O consórcio

O Cis-Comcam oferece atendimento clínico em 35 especialidades a uma população de mais de 340 mil habitantes da Comcam nas áreas de angiologia, cardiologia, cirurgia geral, cirurgia vascular, clínica médica, dermatologia, endocrinologia, enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, gastroenterologia, ginecologia e obstetrícia, infectologia, nefrologia, neurocirurgia, neurologia, odontologia, oftalmologia, ortopedia, psicologia, psiquiatria, reumatologia, urologia, entre outras.