Em 5 meses, intervenção na Santa Casa reduziu déficit das contas e otimizou atendimentos a pacientes

22.000 pacientes. Este é o total de pessoas que passou pela Santa Casa de Campo Mourão para atendimento médico desde fevereiro, quando o prefeito Tauillo Tezelli decretou intervenção da unidade médica. Destes, conforme o gestor, pelo menos metade é da região e a outra metade do município. Nestes cinco meses, a comissão interventora conseguiu também reduzir o déficit mensal das contas do hospital de R$ 1,7 milhão para R$ 1,2 milhão. Ou seja, R$ 500 mil/mês, perfazendo um total de R$ 2,5 milhões. Dinheiro que ficou nos cofres da entidade.

Os números foram apresentados à imprensa em uma coletiva, no fim da tarde dessa quinta-feira (11), na Casa do Empreendedor, por Tezelli e o interventor, Sérgio Henrique dos Santos, ex-secretário da Saúde de Campo Mourão. A intervenção tem um prazo de 12 meses podendo ser prorrogada por igual período. Como no próximo ano, assumirá um novo prefeito, caberá a ele decidir se o trabalho intermediário continua ou não, já que o atual gestor deixou esta flexibilidade no decreto de intervenção.

Tezelli foi enfático durante a coletiva. Disse que ‘nunca’ foi intenção da prefeitura a intervenção no hospital, mas reconheceu que hoje se arrepende em não ter adotado a medida antes. “Hoje vejo que nós demoramos para intervir. O próprio Márcio [deputado] já tinha sugerido a nós a intervenção há três anos. A Lenilda [do Conselho de Saúde] também. Mas eu sempre dizia que não era nossa obrigação cuidar de hospital, porém temos obrigação de cuidar da assistência à saúde. Então, hoje, não me arrependo nenhum pouco”, falou o prefeito em tom de satisfação com o trabalho que vem sendo realizado pela comissão interventora.

Durante a coletiva foram repassados alguns números à imprensa. A folha de pagamento, por exemplo, reduziu de 630 funcionários para os atuais 580. Conforme já informado foram atendidos 22 mil pacientes no período de intervenção. Do dinheiro que entrou no caixa do hospital, R$ 1,8 milhão foram em emendas de deputados, R$ 2,2 milhões em repasses de prefeituras da região, R$ 5,4 milhões repassados por Campo Mourão e R$ 1,2 milhão do Governo do Estado. “Com estes valores fizemos o hospital voltar a funcionar”, declarou Tezelli, ao comentar que não sabe o que aconteceria com o hospital se o município não intervisse.

“Quando eles falavam [a diretoria afastada] que não fazíamos repasses para eles, fizemos – municípios de Campo Mourão e região e Governo do Estado – repasses de R$ 70 milhões durante seis anos ao hospital a fundo perdido sem indicação nenhuma de contrapartida. Todos os meses repassávamos [o município de Campo Mourão], mesmo sem obrigação, R$ 1 milhão para Santa Casa para fazer a gestão do hospital”, garantiu o prefeito, ao informar que para que a Santa Casa voltasse a funcionar o hospital fez R$ 4,5 milhões em compras de materiais básicos. O prefeito falou que aos ‘poucos’ a unidade hospitalar está retomando as cirurgias. A UTI Neonatal, UTI normal estão funcionando. As dificuldades de escala para plantões médico foi outro problema resolvido. “Aos poucos estamos acrescentando outros serviços”, frisou.

Coletiva no Hospital Santa Casa de Campo Mourão
Coletiva reuniu vários profissionais da imprensa. Alguns dados surpreendem, como os 8 leitos de UCI não habilitados, uma das situações que vem gerando prejuízo ao hospital. Comissão interventora já entrou com pedido de habilitação no Ministério da Saúde

Processos judiciais

Um dado que chama a atenção, é que conforme informações, atualmente a Santa Casa tem cerca de 530 processos judiciais dos quais 459 já estão em cumprimento de sentença, aqueles que o hospital já perdeu e tem de pagar. Além disso, há acordos judiciais firmados pelo hospital não cumpridos, executados com multas. Como se não bastasse, o hospital adquiriu uma dívida, via gestão anterior, segundo o prefeito, que deu a estrutura da Santa Cassa [o prédio] em garantia da dívida, que por sinal, não foi paga. “Já até foi feita avaliação do imóvel pelo banco para penhora. A situação é esta”, mencionou Izael Skowronski, membro da comissão interventora. Há ainda uma dívida de cerca de R$ 7 milhões somente em honorários médicos.

Problema de Gestão

O interventor Sérgio Henrique dos Santos, disse garantir que o problema da Santa Casa é de gestão, que acarretou em problema financeiro. “Isso para mim é muito claro hoje”. Falou, ao citar compras aleatórias não planejadas que deixam produtos mais caros, férias duplicadas de funcionários não retiradas, entre outros.

“Outro exemplo é a maternidade Ginecologia Obstetrícia. Havia apenas plantonista que recebia R$ 1,5 mil a cada 12 horas. Em uma decisão unilateral aumentaram o salário de R$ 1,5 mil para R$ 2,2 mil, se tornando o plantão mais caro de ginecologia obstetrícia do Paraná. Não bastasse aumentara para dois. Então o que era R$ 1,5 mil um, ficaram dois por R$ 2,2 mil. Com isso a Ginecologia Obstetrícia estava custando R$ 8,8 mil por dia”, disse o interventor ao classificar a situação como um “absurdo”.

Outra situação que chamou atenção foi um cofre encontrado no hospital com cerca de 20 cheques todos fora do prazo de apresentação de depósito, somando R$ 58 mil. Eles foram depositados, mas com a conta do hospital sem dinheiro voltaram. Hoje a Santa Casa está com processo de cobrança destes valores. “Porque estes cheques estavam lá também não sabemos”, frisou Santos.

Ele acrescentou que a interventoria conseguiu otimizar os atendimentos no hospital “enxugando gastos”, diminuindo o quantitativo de funcionários, valores de plantões, e economia com compra de medicamentos e alimentos que fica em torno de 30% e 8 a 20% respectivamente, devido ao planejamento de compras. “Temos trabalhado sempre pensando no paciente. Mas a Santa Casa precisa ser pensada como uma empresa, o que envolve estratégias de planejamento e gestão”, frisou.

Leitos de UTI’s sem habilitação

Santos disse que atualmente 100% da UTI Neo (Unidade de Terapia Intensiva) está restabelecida, operando, inclusive, acima da capacidade com 11 leitos em funcionamento. Da mesma forma a UCI (Unidade de Cuidado Intensivo), com 8 leitos. Chama atenção que dos 10 leitos de UTI Neo, o hospital recebia por 7. Ou seja, três funcionavam como uma espécie de ‘cortesia’, o que é um “absurdo”, nas palavras de Santos. “Já pedimos habilitação destes três leitos complementares”, falou. Já a situação da UCI, é ainda mais grave, o serviço não tem habilitação, recebe pacientes com internamento de maior complexidade como se fosse uma enfermaria. “Para resumir temos 19 leitos recebendo por 7”, disse Santos.

Ele informou ainda que a Santa Casa tem 158 leitos habilitados pelo Ministério da Saúde, mas que na semana passada chegou a ter 163 ocupados. “A gente está com uma média acima de 90% de ocupação. Tem vez que até internamos pacientes SUS em leito particular”, informou. A Comissão Interventora busca ainda outras fontes de recursos junto ao Ministério da Saúde para renovação de 100% do parque tecnológico da Santa Casa.

Para se ter ideia, hoje o hospital só tem um aparelho de raio-x e um de tomografia. Quando alguns deles apresenta defeito, o atendimento é suspenso ao paciente até o conserto. “Vamos comprar poltronas para acompanhantes, cama para pacientes, mesas cirúrgicas, foco cirúrgico. É o básico que temos, mas está bem deteriorado”, justificou o interventor, ao acrescentar que os trabalhos de intervenção estão evoluindo cada vez mais. “Estamos vendo uma aprovação interna da parte médica e de funcionários de 70 a 80%. Ou seja, bastante satisfatória. Estou feliz com o que a Santa Cassa conseguiu já entregar nestes cinco meses e o que a gente vai conseguir deixar já de planejado”, acrescentou.

Atendimentos por cidade

Campo Mourão – 13.356
Araruna – 1.011
Peabiru – 929
Barbosa Ferraz – 785
Engenheiro Beltrão – 775
Mamborê – 625
Terra Boa – 513
Iretama – 479
Luiziana – 408
Goioerê – 396
Quinta do Sol – 376
Fênix – 270
Roncador – 259
Campina da Lagoa – 254
Boa Esperança – 226
Corumbataí do Sul – 187
Ubiratã – 180
Nova Cantu – 162
Farol – 113
Moreira Sales – 109
Janiópolis – 105
Juranda – 104
Altamira do Paraná – 81
Rancho Alegre D’Oeste – 39
Quarto Centenário – 36

Recursos Humanos

Janeiro – 632 funcionários
Folha bruta – R$ 2.488.736,02

Junho – 582 funcionários
Folha bruta – R$ 2.224.951,64