Ex-candidatos: “Nojo” e decepção da política mourãoense
Eles foram candidatos a vereador nas últimas eleições. Acreditaram até serem eleitos. Mas acabaram engolidos por falsas promessas de amigos e partidos. Tiveram poucos votos. Sem grana nas campanhas, viram um pouco de tudo. Principalmente, da deslealdade. Para eles, o jogo é bastante sujo. Não é para qualquer um. Hoje, distantes da política, pegaram “nojo” do processo eleitoral. E buscam continuar a vida como antes. Como pessoas comuns. Meros mortais.
Oracy Sidney Deller tentou a Câmara de Campo Mourão em 2012. Pertencia ao PPS. A queixa recai aos concorrentes. “Tem muito mal caráter que ainda compra votos. Você passa pedindo votos, na honestidade. E outros passam logo atrás comprando. Não tem como concorrer. É muito desleal”, disse. Na época, Oracy trabalhava como garçom na cidade. Era bastante conhecido. E, por isso, esperava obter entre 450 e 500 votos. “Eu entraria com essa votação”, disse. Mas deu tudo errado. Terminou a jornada com apenas 12.
Ele também explica que outro fator determinante a sua campanha foram os falsos amigos. “São amigos virtuais. Falam que vão votar em você. Mas jamais votam. São falsos. Não existem”, disse. A desilusão foi tão grande que Oracy deixou a cidade. Naquele mesmo ano se mudou para Balneário Camboriú. E ganha a vida com uma construtora. Distante de Campo Mourão, ele também deseja continuar longe da política. “Política agora, nem na conversa. Está muito suja. Muito comprada. E necessita cada vez mais de dinheiro. Ou você tem dinheiro ou você tem caráter”, afirma.
Barbeiro e cabeleireiro, Omar Cardoso da Silva, hoje com 42 anos, tentou uma cadeira à Câmara, nas últimas eleições, pelo PRP. Mas perdeu a paciência com o próprio eleitorado. “É muita compra e venda de votos. O pessoal chegava na minha barbearia pedindo um milheiro de tijolo. Cachaça. Churrasco. Cerveja. Falavam que, se eu não ajudasse, não ganharia nem pra presidente de bairro. Não existe democracia, nem política. Existe sim, compra e venda de votos”, afirma. Além disso, populares exigiam corte de cabelo e barba de graça. A revolta fez com que deixasse a política.
Mesmo não fazendo o jogo, obteve 109 votos. Muito pouco pra quem acreditava se eleger. E a sua revolta continua até hoje. “Eu continuo vendo candidatos prometerem o que não podem cumprir. Querem encher o eleitor de esperança porque desejam vencer a eleição. E juntar uma bolada ao final dos quatro anos no cargo”, disse. Omar revelou que acreditava atingir mil votos. Acabou se estrepando. Ficou desiludido. “Nunca mais me envolvo nisso”, afirmou.
Professor de Educação Física, Jorge Fernandes de Moraes Filho, concorreu ao pleito em 2000. Na época, estava filiado pelo PMDB. Conhecido e, de tradicional família de Campo Mourão, acreditava alcançar pelo menos, 400 votos. Mas fez somente 159. “O povo quer trocar voto por favores ou mercadorias de todo tipo. Quer realmente vender seu voto. E, de maneira mais desonesta ainda, vende para vários candidatos. Não posso generalizar. Mas é uma grande parte da população que o faz”, garante ele.
Na época, Jorge ficou bastante decepcionado. Afinal, tinha duas academias de ginástica na cidade. E, consequentemente, dezenas de alunos. Mesmo a amizade não foi suficiente para alavancar a votação. “Você vê uma pessoa de conduta duvidosa fazendo centenas de votos. Enquanto pessoas dignas, recebendo uma quirera”, disse. Hoje, à frente de uma empresa de produtos esportivos, Jorge não que mais ouvir falar de política. “Para ser vereador, deve-se ter muita responsabilidade”, diz.
Ele preferiu não ser identificado. Mas concorreu a vereador nas últimas eleições. Acreditava alcançar uma expressiva votação. Mas recebeu menos de 100 votos. Uma decepção. Para ele, a principal queixa é com o partido. “O partido não apoia todos os seus candidatos. Ele preza apenas os que têm mais chances. O restante é deixado de lado”, disse.
O ex-candidato lembra de uma campanha sem dinheiro. Sem ajuda. Sem apoio. Não fosse a própria vontade, não conseguiria os votos recebidos. Atualmente, decidiu cuidar da própria vida. Tem um negócio, e vai indo bem, conforme o sopro do vento. Mas a política… Essa nunca mais.
Vereador. Pra que serve?
Este ano, são 182 candidatos a 13 cadeiras na Câmara Legislativa de Campo Mourão. A função de um vereador é criar, aprovar ou rejeitar projetos de lei. Elaborar decretos legislativos, resoluções, indicações, pareceres, requerimentos, assim como, participar de comissões permanentes. O executivo (secretários e prefeito), comparece periodicamente à Câmara, quando convidado, para prestar esclarecimentos aos parlamentares. Afinal de contas, a principal missão de um edil, é fiscalizá-lo.
Diferentemente do que muitos acreditam, um vereador não deve doar dinheiro ou cestas básicas à população. Isso não é de sua competência. Aliás, de nenhum político. Ações como estas são conhecidas como assistencialistas, o que, de uma forma geral, acabam desmerecendo a função pública. Uma espécie de corrupção, em busca de votos futuros.
Cargo de muita responsabilidade, pretendentes a vereador devem conhecer a sua própria cidade. Estar a par de seus problemas. Em todos os setores. Ao mesmo tempo em que devem buscar projetos, visando solucioná-los, também devem fiscalizar o prefeito. Sempre prestando contas e ouvindo os anseios da população. Afinal, é ela quem paga seus salários. E, falando nisso, cada edil mourãoense recebe R$7.073,47 mensais, valor bruto. Com descontos, a “população” deposita R$5.532,78, na conta de cada um, todo mês. Além é claro, de mais dois assessores em cada gabinete.
Na soma, a remuneração bruta total dos vereadores, mensalmente, fica em R$91.955,11. No ano, R$1.103.461,32. Já, os assessores, tem um valor bruto mensal de R$125.446,20. E, no ano, somados salários, décimo terceiro e férias, R$2.168.964,79. A conta toda é de R$3.272.426,11. Então, se vale a dica, trabalhar ao máximo em função da cidade, é o mínimo que cada vereador tem a fazer. E, já que os eleitores os colocaram na Câmara, é dever de cada cidadão, fiscalizar os vereadores. Participar das sessões. Estar informado de cada votação no Legislativo. Uma conta básica. A população cobra os vereadores. Vereadores fiscalizam o prefeito. O prefeito presta contas ao povo.