Expedição em busca de tesouro pirata acontecerá em 2025
Você acredita em tesouros, daqueles de histórias de cinema, com baús repletos de pedras preciosas, candelabros e crucifixos de ouro? Se sim, então anote a data. Foi marcada esta semana uma grande expedição rumo à Ilha da Trindade, no litoral brasileiro, para 2025. Através de 18 anos de pesquisas, o curitibano Marcos Juliano Ofenbock não só descobriu um mapa verdadeiro, como a história do último pirata da humanidade. E acredite: a história se desenvolveu no Paraná. E mais: também revela descendentes do pirata Zulmiro morando em Campo Mourão.
O anúncio da expedição foi feito no último dia 7, na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. As escavações serão realizadas pelo Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), junto à Marinha do Brasil e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Todo o projeto da expedição em busca do tesouro pirata da Ilha da Trindade, a escavação arqueológica e a melhoria das instalações militares da ilha, serão financiados com dinheiro privado de patrocinadores e parceiros da expedição.
O pirata Zulmiro
A lenda bastante conhecida por mais de um século em Curitiba, virou história. E bem real. Há tempos, muito se falou sobre um verdadeiro pirata ali enterrado. Também se especulou ao em torno de um mapa do tesouro, com baús contendo ouro e pedras preciosas. Após 18 anos estudando e pesquisando o teor de toda a prosa, Marcos Juliano Ofenbock decretou o fim do mistério.
O irlandês e marinheiro das forças britânicas, John Francis Hodder, não só existiu como se transformou no pirata “Zulmiro”, um saqueador de tesouros do Atlântico Sul. Por fim, terminou seus dias incógnito e foragido em Curitiba. Mas agora, com o nome João Francisco Inglez, cujo corpo foi ali enterrado em 1889. O contexto ficou ainda mais “saboroso” após a pesquisa identificar familiares do pirata vivendo nas terras vermelhas de Campo Mourão. É, a família cresceu.
Jornais, documentos britânicos, cartas e livros. Estas foram algumas fontes utilizadas nos estudos do pesquisador. Passo a passo, ele descobriu toda a vida do marinheiro Hodder. Um sujeito nascido em berço de ouro de uma família aristocrata em Cork, na Irlanda, muito possivelmente, em 1798. Com a mesma educação da realeza britânica, Eton College – estudou ali de 1811 a 1814 -, deixou o internato como um verdadeiro lord inglês. O caminho a seguir agora, a academia naval.
Atuando pela marinha britânica, era brilhante no que fazia. Sua ascensão era meteórica. Mas quis o destino, e sempre ele, que tivesse um sério desentendimento com outro oficial, nas Ilhas Bermudas, no Mar do Caribe. Bom a ele, ruim ao outro. Gravemente ferido, o colega de farda não resistiu e morreu. Aos 25 anos de idade, iniciava ali a transformação, em todos os sentidos, de Francis Hodder.
Com um pesado fardo nas costas ou, praticamente um carimbo de assassino na testa, acabou desertando das forças britânicas, tendo como incerto o seu paradeiro. Afinal de contas, Hodder podia ser um lord, mas nunca um burro. Sabia que, a partir daquele momento, uma corte marcial o esperava. No frigir dos ovos, enforcamento. Então, desapareceu. Ao mesmo tempo, também acabou rejeitado pela própria família. Ao saberem o que havia feito, buscaram apagar os elos. Não conseguiram por completo.
Sua fuga começou no porto da Flórida, nos Estados Unidos. E lá, adentrou a um navio negreiro como imediato. Naquela época o tráfico de escravos e a pirataria andavam de mãos dadas. Um roteiro perfeito para que sua personalidade tomasse outra forma. Mudou os trajes. Se antes utilizava a farda branca e engomada da marinha britânica, agora eram roupas sujas e coloridas. O cabelo e barbas bem aparadas de antes, eram desta vez grandes e encardidas. Trejeitos e moldes de um verdadeiro pirata. O último deles. Adentrou àquele navio negreiro como Francis Hodder. Quando saiu, era “Zulmiro”, o grego.
Agora diferente e, com aparência surreal, ganhou a confiança de toda a tripulação e, até, do capitão. Não demorou muito – cerca de oito meses-, proclamou sua própria independência. Fez dali um inferno e, mais adiante, um motim. Matou o capitão e muitos outros marinheiros que defendiam o dono do leme. E, em meio ao sangue de marinheiros, tomou o navio. Para decretar seu novo destino, hasteou a bandeira preta. Agora, era ele quem traficava escravos.
Vindo ao Atlântico Sul, fez uma amizade verdadeira – embora a liderança fosse sua -, com outros dois piratas: o espanhol Jose Sancho e o russo “Zarolho” – o apelido se devia a um ferimento de espada no rosto, enorme, que culminou na cegueira de um dos olhos. Juntos foram os responsáveis por uma série de roubos e saques. Ali, “Zulmiro” já não mais traficava escravos. O objetivo mesmo era a pirataria. Possivelmente o maior dos roubos tenha sido a um navio que levava ouro e pedras preciosas da catedral de Lima, no Peru.
Para guardar todos os saques, os três – “Zulmiro”, “Zarolho” e José Sancho -, criaram o próprio banco. Um “banco” na ilha da Trindade, 1,2 mil quilômetros da costa brasileira. Atracavam a embarcação e depositavam ouro e jóias roubadas em dois túneis escavados por eles próprios.
Os tempos de saques não duraram muito. Todos os três acabaram presos. A marinha espanhola afundou o navio prendendo José Sancho. Zarolho também preso, foi levado à Havana, em Cuba. Lá, toda a sua tripulação foi enforcada. Mas ele conseguiu fugir, parando na Índia. Lá, foi preso pela segunda vez, em 1850, entregando o mapa do tesouro às forças britânicas. Zulmiro foi o último a ser capturado. E por um navio inglês, cujo capitão, Henry Keppel, coincidentemente era seu amigo de academia naval.
Embora os oficiais ingleses acreditassem na prisão de um pirata grego, “Zulmiro”, quando Keppel desceu até o porão, percebeu que se tratava do amigo John Francis Hodder. Contada toda a história, o oficial facilitou a fuga do colega. “Para que ele não fosse morto, deixou que escapasse próximo a Baía de Paranaguá, no Brasil. E exigiu que ali ficasse para nunca mais ser encontrado”, disse o pesquisador.
Agora, livre e vivo, “Zulmiro” subiu a Serra do Mar em nove dias, se refugiando na mata ao norte da então Vila de Curitiba, que contava com menos de 4 mil habitantes. Era 1828, quando passou a viver no mato, onde é hoje a Universidade Livre do Meio Ambiente, passando a adotar o nome João Francisco Inglez. Utilizou um nome abrasileirado e ao mesmo tempo, o inglês de sua terra natal, embora com z.
Na época teria comprado um terreno e uma escrava, de nome Rita. Ainda existe a possibilidade de não ter a comprado, mas sim, a roubado. Ela se tornou esposa e mãe de seus quatro filhos. A identidade foi revelada apenas perto da morte, em 1889, por um comerciante de erva mate também inglês, que ficou seu amigo, Edward Young Stammers. A ele, “Zulmiro” revelou toda a história, entregando, inclusive, um mapa com a localização do tesouro na ilha da Trindade.
Laços mourãoenses
Ela não usa tapa olho nem chapéu. Tampouco bandana e lenço na cabeça. Jóias em excesso, esqueça. Muito menos uma espada em riste. Também não mantém em sua casa nenhum baú com tesouro. Ao contrário, como uma brasileira, o jogo é duro. Até 2019 a vida fluía normalmente, pelo menos, até receber a notícia da descendência direta do último legítimo pirata do planeta, “Zulmiro”. Sim, Isaíra Inglez, moradora de Campo Mourão, é bisneta de John Francis Hodder, um lord irlandês que, após matar um oficial da marinha britânica, onde também atuava, desertou. Ao fugir, acabou se transformando num traficante de escravos e, por fim, quando viu, já era um pirata: “Zulmiro”, o último deles.
A notícia pegou não só ela, mas toda a família de surpresa. A descoberta aconteceu através do pesquisador curitibano Marcos Juliano Ofenbock. Buscando descobrir se a maior lenda urbana de Curitiba – a história do pirata “Zulmiro” -, era verdadeira, comprovou os laços entre ela e o pirata. Hoje, a aposentada e viúva Isaíra, 65, continua tranquila. Embora já estampe livros e documentários. Mantém uma vida normal, completamente diferente da correria e aventuras do bisavô, no século 19. Ela reside numa calma rua do Lar Paraná, em Campo Mourão, ao lado da filha, Alessandra e da mãe Estefânia, de 106 anos. Só que, mesmo em paz, ela aguarda ansiosa a possibilidade de pesquisadores localizarem o grande tesouro deixado na costa brasileira pelo próprio bisavô, na ilha da Trindade.