Família com nove filhos pode ser despejada em Campo Mourão
Em 2018, após fracassar no casamento, Renato acabou só, com os cinco filhos pequenos. Por motivos pessoais, a esposa voltou a morar com a mãe, em Manoel Ribas. Juntos, residiam num imóvel precário em Campo Mourão. Para piorar a situação, mais adiante ele perdeu o emprego. Agora, sem grana, acabou na rua. E, desesperado, não teve outra maneira a não ser invadir uma residência abandonada, no Conjunto Fortunato Perdoncini. Renato sempre buscou agir pelas vias corretas. Mas, sentindo a possibilidade de submeter os cinco meninos às ruas, fez o que achou prudente naquele momento.
Desejando o bem maior às crianças e, acima de tudo, com uma esperança infinita, acabou encontrando Daniela, ainda em 2020. Com história de vida bastante semelhante à sua e, também divorciada, levou ao imóvel outras cinco crianças, filhas dela. Com um amor indiscutível, o casal passou a ser uma única família. Dois pais, 10 filhos. E tudo caminhava bem. Pelo menos, até a última semana, quando uma ordem de despejo emitida pela Justiça Federal bateu à porta da pequena casa. “Perdemos nosso chão. Se isso acontecer mesmo, se tiver que deixar a casa, não teremos pra onde ir”, desabafou Renato.
Conta ele que está no imóvel já, há quase cinco anos. E, desde então, promoveu diversas melhorias no local. Fez a pintura. Muros. Jardim. “Preciso que a justiça deixe nossa família aqui. Queremos legalizar a situação. Pagaremos o que precisar”, explicou. Renato sempre soube que invadir não era o correto. Na verdade, trata-se de uma ilegalidade. E ele está ciente disso. No entanto, argumenta que não poderia deixar os filhos à mercê das ruas. Então, invadiu. “Fiz o papel de um pai”, afirmou.
Renato possui cinco meninos, todos ainda menores. Daniele cinco meninas, também pequenas. Ele trabalha numa empresa de reciclagens e ganha R$100 por dia. Já a companheira fica em casa, cuidando da turminha. Além da pouca renda do marido, outros R$1500 vem do governo federal, através do Bolsa Família. Ontem, a comida já estava no fim. E, quando a situação aperta, amigos do casal prestam socorro. Como legítimos brasileiros, a cada dia, um leão a enfrentar.
Uma grande família
Era uma vez uma diarista chamada Daniele. Uma mulher simples, separada e com cinco filhas pequenas. Morando em Roncador, conheceu Renato através das redes sociais. Um homem solitário de Campo Mourão. O tempo passou e com ele, as prosas e conversas mais românticas. Um dia, o encontro aconteceu. Era o momento de se aproximarem. Daniele foi até ele. E descobriu que o sujeito também morava com seus cinco filhos pequenos, todos homens. Ali, naquele instante, uma paixão avassaladora surgiu. Dias depois decidiram juntar os “trapos”.
O que mais se assemelha a uma história de conto de fadas, nada mais é que um belo enredo de amor. Faz algum tempo, por motivos pessoais, Daniele Andressa dos Santos, 32, se separou do marido. Na separação, permaneceu com as cinco meninas que, hoje, vão dos 6 aos 17 anos. Por sua vez, Renato Cordeiro da Silva, 34, foi abandonado pela esposa, há quase cinco anos, também ficando com os meninos, com idade entre 5 e 14 anos.
Mas quis o destino, e sempre ele, que o casal se encontrasse, mesmo que de forma virtual. Conta Daniele que o primeiro encontro aconteceu há três anos. No dia 2 de outubro de 2020, ela chegou a Campo Mourão por volta das 16h. A princípio, pensava apenas em namorar. Está na cidade desde então. Trouxe as filhas, os poucos pertences e uma vontade enorme em ser feliz. Agora, Daniele tem uma família de verdade.
A casa é pequena. São apenas dois quartos. Um aos meninos, outro às meninas. Restou ao casal a sala. E lá, se sentem agradecidos pelo amor de tanta criança. “Somos abençoados. Tenho pelos meninos um verdadeiro sentimento de mãe. Agora posso dizer que sou feliz. Faço tudo por eles e pelo meu esposo”, disse Daniele.
Com tantos filhos, restou a Daniele a missão em cuidar do lar e do seu “time de futebol”. Ela faz tudo. Lava roupas, faz o rango e os leva à escola. E não falta tempo a uma boa conversa ao pé da orelha com cada um. “Nossa missão é educá-los da melhor forma possível. Queremos que estudem. Se formem e conquistem suas independências”, disse. Eles também os ensinam a não serem ambiciosos. Querem que valorizem o “simples”. De uma certa forma, dar valor ao verdadeiro sentido da vida. “Entendemos que o simples é o tudo”, disse.
Renato sai de casa todos os dias pela manhã. Ele trabalha com reciclagens de metais. A grana é pouca pra tanta gente. Mesmo assim, nunca faltou comida à mesa. Vez em quando, vicentinos ajudam a família, principalmente, levando a solidariedade em forma de alimentos. “Temos muitos amigos e vizinhos que também colaboram. Graças a Deus, aqui nunca falta nada”, revela.
Daniele lembra que o companheiro nunca teve uma vida fácil. Renato sempre se dedicou ao trabalho para cuidar dos filhos. No entanto, desde que a ex-esposa o abandonou, vinha travando uma batalha para mantê-los ao seu lado. Há pouco mais de dois anos, perdeu a guarda dos cinco meninos. Mas agora, já os têm de volta. “Teve um tempo que ele não tinha mais ninguém nessa vida. Nem mesmo os filhos. Agora, tem a mim, minhas filhas e os dele. Somos uma família feliz. Somos a grande família”, brincou ela, se referindo a série da TV.
A mãe de 10 filhos garante que a turma se entende. Hoje, se tratam como irmãos de sangue. Até a idade é semelhante. “Eu sempre quis ter um menino. Agora tenho cinco. Sou completa. Deus é muito bom”, diz. No último ano, a casa perdeu uma moradora. A filha mais velha de Daniela se casou. Ficaram nove filhos.